O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Preservação das Mangueiras de Belém, um Patrimônio Histórico e Ambiental


                                                                      Mayana Amaral Monteiro¹



Mangueiras de Belém


Ai! Cidade das Mangueiras!
Quem te vê e não te ama?
O rio se curva e te oferta
um branco buquê de espuma.
A noite deita nos becos
e a cuia da lua derrama.
Ai! Cidade das Mangueiras!
Quem te vê e não te ama?
Ruas de anjos com asas
de verde beleza arcana.
Ai! Mangueiras da Cidade,
que o sol esculpiu na sombra,
por vós o poeta implora,
por vós a poesia clama…
Ai! Cidade das Mangueiras!
Quem te vê e não te ama?
Por que vagam na cidade
assassinos de mangueiras,
matando-as por querer
ou matando de encomenda,
matando à sombra da lei,
essa lei sem lei, sem lenda?
Essa triste lei da morte
que tem na morte sua vida.
Não deixem que passe impune
esse crime, essa desdita.
Fotografem, multipliquem
vosso “não” pela internet,
pelos blogs, no youtube,
nos orkuts, nos e-mails,
nas asas dos passarinhos
que estão perdendo seus ninhos,
no peito dos que se amam,
nos muros e nos caminhos…
Quem pode lavar a mão
olhando esse arvorecido?
Que frutos hão de brotar
nos galhos da solidão?
Que é feito do coração
desses que sem piedade
arrancam pela raiz
as raízes seculares
da alma desta cidade?
Ai! Mangueiras de Belém!
Anjos de verde folhagem,
que fazem sombra com as asas
mas são em poste enforcadas.
Verdes berlindas de mangas
no Círio de cada dia.
Campanários de andorinhas
nos corais da ave-maria.
Ai! Cidade das Mangueiras!
Quem te vê e não te ama?
Tua leve melancolia
presa em gaiolas de chuva.
Teu dia, garanhão de auroras
tua noite sempre viúva…
Belém, donzela das águas,
no rio do verso encantada.
Oh! Barca de verdes velas,
no Ver-o-Peso aportada.

Fonte: Poesia João de Jesus Paes Loureiro




Fonte: Mayana Amaral Monteiro/2013

Esse artigo proposto pela professora de arquitetura e urbanismo, Patrícia Orfila, tem como finalidade ampliar os conhecimento da turma de História da Arquitetura e Urbanismo no Brasil, sobre Belém do Pará, uma cidade localizada no norte do Brasil, região amazônica e que possui uma cultura rica cheia de histórias, monumentos e atrativos turísticos. A sua iniciativa nos oportunizou  visitar e conhecer essa bela cidade, dando-nos a opção de escolha do tema a ser abordado.
Belém foi fundada pelos portugueses em 12 de janeiro de 1616, quando uma expedição chefiada por Francisco Caldeira Castelo Branco chegou a ela, partindo do Maranhão pelos braços do rio Amazonas. E somente 39 anos depois foi elevada à categoria de cidade, primeiro com o nome "Nossa Senhora de Belém", depois "Santa Maria de Belém do Grão Pará" e, por fim, Belém. (DI PAOLO, 2006)
Com Flora e fauna rica, típica da região amazônica, Belém também possui um clima bem peculiar. Quente e úmido, e com chuvas que cai por um curto período quase todos os dias do ano, no final das tardes. A temperatura mínima é de cerca de 30°C e a máxima chega a 42°C, especialmente entre julho e novembro. A umidade relativa do ar está sempre em torno de 98%.

Fonte: Mayana Amaral Monteiro/2013

Como é agradável quando andar a pé pelas calçadas do centro de Belém, mesmo com um clima equatorial, as sombras das mangueiras fazem um bloqueio que nos protege da insolação e do calor.
As mangueiras de Belém são consideradas patrimônio histórico, segundo a Lei de Patrimônio Histórico, n° 7.709, de 18 de maio de 1994 no Capítulo VII, Art.52.

As mangueiras e sumaumeiras (Mangífera índice e Ceiba Sumahuma respectivamente) existentes nos logradouros públicos do Município de Belém, integram o patrimônio histórico e ambiental da cidade. (IPHAN)

Na lei, as mangueiras já estão protegidas, mas não depende só dela para que o desenvolvimento dessas árvores siga adiante. O governo e a sociedade também devem contribuir para a preservação desse patrimônio. E é sobre as mangueiras que esse artigo tratará.


Fonte: Mayana Amaral Monteiro/2013



Fonte: Mayana Amaral Monteiro/2013


Acredita- se que essa esse patrimônio foi uma das maiores políticas de arborização na Amazônia, feita pelo intendente Antônio Lemos, no início do século XX. Foram espalhadas dezenas de mangueiras pelo centro urbano da cidade, cujas mudas foram trazidas do sul da Ásia, com a intenção de purificar o ar e, principalmente, diminuir o impacto climático tropical aos habitantes de Belém. Infelizmente ele não pode vê-las em estágio adulto, atualmente a arborização recobre 30% da cidade.

Antonio lemes está na memória do povo paraense, como o maior administrador municipal. Um homem com as raízes no Estado do Maranhão, mas que chegou à capital paraense, ainda naquela época Santa Maria de Belém do Grão-Pará, como soldado da Marinha do Brasil. Começou a vida política no então Partido Republicano, no qual também exerceu o cargo de secretário. Antônio José Lemos é detentor do título de mais poderoso e recorrente mito político da Amazônia. Segundo a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maria de Nazaré, foi ele quem idealizou, e começou a pôr em prática, o projeto de uma Belém com tons e ares europeus. (MONTENEGRO, 2010)

            Em uma parte do livro em que escreveu, Lemos elogia o diretor dos parques e jardins da época, o senhor Eduardo Hass, e ainda descreve algumas praças e parques construídos em sua gestão.
                                               Não me deterei de a repetir descripções das formosíssimas praças da Capital paraense, dignas de nosso progressos encanto de seus visitantes, refrigério de que quem as busca, mesmo às horas mais cálidas do dia. (...) Salientarei apenas que o notável desenvolvimento da arborização, no período de doze meses, imprimiu aos nossos futuros parques urbano um aspecto lindíssimo, promissor das grandes belezas que apresentarão em futuro bem próximo. (LEMOS, relatório de 1906 – p.195)
                                               Ainda cita as mangueiras como fora o tratamento com as mangueiras
                                               Todas as mangueiras circulares foram regadas com guano liquido, dando este adubo os melhores resultados. (LEMOS, relatório de 1906 – p.196)


Os parques e praças de Belém
Fonte: LEMOS. O Município de Belém


                                               Belém, 'Cidade das Mangueiras', tem cerca de 12 mil árvores que dão o título à capital paraense, como aponta a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). Porém, muitas dessas árvores não estão em bom estado, a começar pelas raízes comprometidas pelo asfalto, concreto, tubulações e cabos subterrâneos. Do alto dos prédios dos bairros mais arborizados  é possível ver que as copas estão tomadas por erva de passarinho. Por serem vegetais de grande porte, que passam dos oito metros de altura, o cuidado preciso ser constante. Especialistas acreditam que se forem mais bem cuidadas, as árvores que começaram a ser plantadas no século XVIII por Antônio Lemos para produzir sombra, podem durar muitos anos mais e a cidade jamais perderá o título. A população, que não vive sem os frutos que caem pelas ruas e calçadas (e sem o risco que uma manga cadente representa para carros e cabeças) também pede que todas as mangueiras sejam bem cuidadas se for para dar um presente a Belém. Uma de 80 anos foi perdida na última quarta-feira, 9, por conta de um vazamento na tubulação de água causado pelas raízes do vegetal. Uma remoção foi necessária. (FURTADO, 2013)
Mas há controversas, do começo do plantio das mangueiras. Como explica o doutor em História Social Urbana Fabiano Homobono, professor da Universidade Federal do Pará.”Muito antes, ainda no século XVIII, Landi já fazia experimentos com a implantação de mangueiras e o título já começou a ser usado desde a primeira leva plantada. E esse nome foi dado por viajantes e cientistas que passavam por onde hoje é a avenida Nazaré e viam todas as mangueiras. Lemos apenas expandiu”, disse. Homobono observa que hoje arquitetos e paisagistas não usam mais essas árvores por serem muito perigosas. Primeiro pelo tamanho que alcança, pois algumas espécies podem chegar a 40 metros (as espécies usadas em Belém chegam em média a oito metros). Os frutos caem dessas alturas e se tornam um risco. As raízes se expandem muito e danificam calçadas. 'Porém nada disso se pensava naquela época. Infelizmente, hoje perdemos muitas porque caíram com o vento ou foram removidas por apresentarem risco de queda. O calçamento hoje é inadequado para elas. Por isso nossas mangueiras precisam ser cuidadas. É nosso patrimônio e o turismo tem esse foco da Cidade das Mangueiras', ressaltou. (FURTADO, 2013)

No livro O Problema da queda Acidental das Mangueiras, dos engenheiros agrônomos Batista Benito e Vicente Haroldo, de 1969 que já abordava o assunto como uma preocupante situação.
                                               Em sua expressão mais simples, o problema se resume em decidir se as quedas verificadas foram  efeitos de causas isoladas, devida as circunstâncias particulares, ou se um fenômeno generalizado, cuja tendência seria a de agravar se com o decorrer do tempo e nesse caso como conseqüência da senilidade em função da idade das árvores. (BENITO; HAROLDO,1969, p. 5)

Já foram feitos vários estudos sobre as mangueiras, a maneira de crescimento, o local apropriado e o tamanho influenciam na continuidade de plantio dessas árvores. E foi constatado que o envelhecimento delas as compromete e as tornam mais frágeis.

                                                Nestas condições, tudo leva a concluir que  o problema das quedas acidentais tenderá a agravar se no decorrer dos anos. (BENITO; HAROLDO,1969, p. 17)


Fonte: BENITO;VICENTE. O problema da queda acidental de mangueiras em Belém

Conclui se que, as mangueiras oferecem vantagens e desvantagens, independente de quem as trouxe, elas nos protegem do sol e ainda dão alimento as pessoas e animais porem sua manutenção é muito trabalhosa e às vezes ocorrem alguns acidentes. Para que isso seja amenizado, existem diversos grupos que estão com projetos de preservação e manutenção das mangueiras juntamente com o poder público e os moradores da cidade, essas famosas mangueiras poderão levar suas histórias por muito mais séculos.


UFPA Fonte: Mayana Amaral Monteiro/2013



REFERÊNCIAS


BENITO,Batista ; VICENTE,Haroldo. O problema da queda acidental de mangueiras em Belém. Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuárias do Norte, 1969. Disponível em: <http://ufpadoispontozero.wordpress.com/2013/11/11/o-problema-da-queda-acidental-de-mangueiras-em-belem/>. Acesso em: 27/01/2014.
DI PAOLO, Darcy Flexa. Belém Cidade das Mangueiras. Cortez Editora, 2006. Disponível em: <http://educampoparaense.org/site/media/biblioteca/pdf/Belem%20_%20Cidade%20das%20Mangueiras.pdf>. Acesso em: 27/01/2014.
FURTADO, Victor. Belém, eterna Cidade das Mangueiras. Fonte Jornal Liberal- atualidades 12-01-13. Disponível em: <http://www.orm.com.br/projetos/oliberal/interna/?modulo=247&codigo=626133>. Acesso em: 27/01/2014.
IPHAN. Lei de patrimônio histórico, n° 7.709, de 18 de maio de 1994 Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=205>. Acesso em: 27/01/2014.

LEMOS, Antônio. O Município de Belém. Arquivo da Intendência Municipal, 1907. Disponível em: < http://ufpadoispontozero.wordpress.com/2013/10/02/o-municipio-de-belem-relatorio-de-antonio-lemos-1907/>. Acesso em: 27/01/2014.
LEMOS, Antônio. O Município de Belém. Arquivo da Intendência Municipal, 1907. Disponível em: < http://ufpadoispontozero.wordpress.com/2013/10/02/o-municipio-de-belem-relatorio-de-antonio-lemos-1907/>. Acesso em: 27/01/2014.
MONTENEGRO, Will. Antonio Lemos deu um passo ao futuro. Fonte Amazônia Jornal. Disponível em: <http://www.ufpa.br/historia/index.php?option=com_content&view=article&id=30:antonio-lemos-deu-um-passo-ao-futuro-b>. Acesso em: 27/01/2014

[1] Acadêmica matriculada no 5° período do Curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Tocantins, e que está cursando a disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo no Brasil.

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