O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Igreja de Santo Alexandre: Marco da Arquitetura Colonial de Belém

Carolina Vasconcelos de Sousa[1]

             Ao visitar Belém deparei-me com uma arquitetura diferente da que estava acostumada ver, uma arquitetura do passado, uma arquitetura histórica. E uma obra em especial me agradou mais do que todas as outras visitadas e foi a Igreja de Santo Alexandre, localizada na cidade velha de Belém. com sua bela arte em talha, e por toda a historia que estava por trás das suas fascinantes capelas laterais, da sua grande sacristia e principalmente da sua rica capela principal.

            Em Belém a igreja foi sede da companhia dos jesuítas na época do Brasil colônia, e foram eles que começaram a edificar o templo no século XVII, esta que é uma das principais obras realizadas pela companhia de Jesus no Brasil. A igreja, que era simples, sofreu varias modificações e herdou como estilo predominante o barroco, e foi inaugurada no ano de 1719. Com o passar dos anos e com o abandono ela teve que passar por alguns processos de restauração, esse realizado pela equipe de secretária do estado do Pará, comandado pelo arquiteto Paulo Chaves.

            A igreja originalmente dedicada a São Francisco Xavier, hoje é dedicada a São Alexandre. Em 1616 a companhia missionaria dos jesuítas juntamente com a ajuda dos índios começou a construção da igreja. A construção foi realizada com base na arquitetura usada pela companhia, eles começaram a edificar com uma primeira capela a qual tinha um único altar e foi feita de barro areia e a cobertura de palha. Porem devido à fragilidade da construção foi erguido uma segunda capela que foi dedicada a São Francisco Xavier. Em 1719 a igreja foi inaugurada após algumas reformas e ampliações. (Arte Barroca Belém 2011).

            No final do século XVII os padres começaram a construção do Colégio de Santo Alexandre, que teve inspiração na arte barroca. No colégio além das aulas regulares aconteciam as oficinas que os jesuítas repassavam o conhecimento da talha que orna a igreja e de esculturas. As oficinas de esculturas eram ministradas pelo padre João Xavier Traer. Ele ensinou escultura aos indígenas, "no Colégio dos Padres da Companhia, na cidade do Pará, estão uns dois grandes anjos por toucheiros, com tal perfeição, que servem de admiração aos europeus, e são a primeira obra que fez um índio daquele ofício, e se a primeira saiu de tal primor, que obras primas não faria de dar anos no ofício?”. (DANIEL, João. Crônica do jesuíta século XVIII).

Retábulo do altar-mor, em que o medalhão central é sustentado por anjos monumentais, e uma profusão de concheados, volutas e dosséis compõem a elaborada talha. Foto: OC.

            Ao chegarem ao Pará à companhia dos jesuítas fixaram-se no bairro da campina a qual construíram uma capela e uma residência. Porém pelo fato da condição de moradia naquele local ser precárias eles optaram a viver na vizinhança do forte do presépio. Em 1759 os jesuítas foram expulsos, o colégio foi reformado e foi utilizado como palácio dos bispos de Belém. Quando os jesuítas foram embora de vez, em torno de 1970, o colégio passou a comportar o estoque de imagens e esculturas. E a igreja passou a exercer sua atividade normal até a década de 50, a partir desse tempo a igreja entrou em decadência e precariedade, chegou a ser abandonada mesmo não havendo reparos ou qualquer serviço de preservação. (Arte Barroca Belém 2011).

            No final do século XX após esse longo período de abandono, os edifícios do colégio e igreja foram transformados no Museu de Arte Sacra do Pará, caracterizando a arquitetura local e usufruindo um grande patrimônio de escultura e pintura dos séculos XVII e XVIII da região amazônica. Uma curiosidade é que no ano de 1980 o Papa João Paulo II quando visitou Belém ficou hospedado no convento da Igreja de Santo Alexandre, onde é o atual Museu de Arte Sacra. Nessa época da visita do Papa, o edifício na igreja não estava funcionando e somente no ano de 1998 depois de varias reformas o templo da igreja foi reaberta.                                           
            A igreja foi inicialmente construída baseada na arquitetura jesuíta, os edifícios da igreja e capelas foram erguidos usando taipa com cobertura em palha, que futuramente seriam substituídas pelas olarias que depois na sua restauração foi substituída por outro material. Uma das características marcantes da arquitetura dos jesuítas foram as torres, neste tipo de arquitetura no Brasil destacaram-se Salvador e Belém suas igrejas dessa época foram consideradas maravilhosos templos, e junto com a cidade de Santarém em Portugal foram os mais importantes da colônia Lusitânia naquela época. A igreja de Belém se assemelha muito com a Igreja Jesuíta de Salvador (atual catedral), a qual foi construída entre 1652 e 1672, elas foram construídas com os mesmos princípios técnicos e estéticos dos jesuítas. Entretanto a construção do templo em Belém foi concebida com um menor apuro técnico e construtivo, pelo fato de a mão-de-obra ser indígena. (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. 2009. P. 26, 32).

            O barroco com toda sua grandiosidade é considerado uma arquitetura jesuíta, e a Igreja de Santo Alexandre, após varias reformas sofridas no seu passado, é considerada uma Igreja Totalmente Barroca. A arte barroca chegou ao Brasil através de seus colonizadores, principalmente portugueses. Os primeiros traços de arquitetura foram trazidos por ordens religiosas (carmelitas, franciscanos e jesuítas). O barroco brasileiro tem caráter religioso. Os jesuítas, da Companhia de Jesus, foram responsáveis pelas primeiras manifestações de arquitetura barroca no Brasil, construíram suas vilas e igrejas com mão-de-obra indígena de acordo com os ensinamentos dos missionários. As primeiras manifestações no interior do Brasil foram as fachadas, frontões e o uso de talhas douradas em igrejas.

Igreja de Santo Alexandre


"Seus púlpitos, altares e em especial o altar-mor são exemplos da decoração jesuítica na região. No caso das igrejas jesuítas paraenses, padres artistas, como João Xavier Traer, o irmão Luís Correa ou o pintor Agostinho Rodrigues, se encarregavam de instruir a mão de obra nativa para auxiliar na talha e nas pinturas decorativas, de excepcional qualidade, que ornamentavam os espaços internos. " (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. P. 28).











 Púlpito da Igreja de Santo Alexandre. Foto: CR.

            Com uma arquitetura riquíssima a Igreja se Santo Alexandre, é considerada o principal templo da arquitetura Jesuíta no Norte do Brasil. “Sendo o objetivo da Companhia a doutrina e a catequese, a igreja devia ser ampla a fim de abrigar número crescente de convertidos e curiosos e localizada de preferência em frente a um espaço aberto – um terreiro – onde o povo pudesse se reunir e andar livremente” (COSTA, Lúcio. A arquitetura jesuítica no Brasil. Revista do Sphan, Rio de Janeiro, n. 5, p. 13. 1941).

            A fachada da Igreja apresenta quatro andares, com um fortão que é formado por duas grandes volutas, que são espirais que se encontrar no topo, onde á uma cruz. O contorno do frontão é em formas curvas, as volutas inferiores e sobrepõem as torres as quais ficam em segundo plano. As pilastras verticais da achada são decoradas com alto relevo, que criam efeitos de luz e sombra. A parte central da fachada é rodeada por duas torres, as quais são sobrepostas pelas volutas de do frontão.  Na entrada da igreja tem a presença de quadros de Via Sacra, que representam toda a vida de Jesus do seu nascimento a morte, esses quadros são feitos de ferro fundido e policromado, com varias cores. (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. 2009. P. 40).

           Na fachada principal existem ninchos onde eram colocadas imagens de santos, hoje não mais utilizados por questão de restauração, e as imagens foram perdidas com o tempo. E somente algumas foram recuperadas e colocadas no museu ao lado da igreja que antigamente era o colégio.















Vista da Igreja de Santo Alexandre. Foto: Arquivo Pessoal

 

 Planta baixa da Igreja. Foto: Livro Igrejas, Palácio e Palacetes de Belém.

 

           A planta da igreja possui uma nave central e tem a forma de uma cruz latina com quatro capelas de cada lado, formando ao total oito capelas que comunicantes com a sacristia. Estas capelas são feitas por arcos redondos que se apoiam em pilastras. Na nave da igreja há a presença de púlpitos que foram construídos em madeira em forma de pirâmides e de decoração exacerbada característica do barroco. Estes púlpitos foram feitos com a junção de conchas, volutas com anjos, atlantes e figura de olhos vendados. Além disso, há a existência da grandiosa capela-mor, a qual é feita em talha, a sacristia, e apoiando-se nas pilastras das grandiosas capelas, estão as tribunas, as quais eram utilizadas pelas pessoas com maior poder aquisitivo na época para assistirem as celebrações.  (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. 2009. P. 117, 118).


         Na parede principal do museu, não foi utilizado ferro, cimento na construção, esta foi construída toda pedra e provavelmente foi utilizado o óleo de um peixe regional. Acreditasse que foi empregado o olho de gurijuba, o qual é um peixe abundante nessa região e contem muita gordura. E esta gordura que há a possibilidade de ter sido usado como aglutinante do barro, da concha do mar e da areia da pedra.(FONTE ORAL no dia 7 de Dezembro de 2013)


“O partido de nave única aparece associado a uma fachada onde o corpo central é encimado por frontão e ladeado por torres que podem ou não ser sineiras. Não há vestígios de torres sineiras isoladas, e todos os espaços de sacristias e outras dependências eventualmente agregadas eram uniformizadas sob a forma externa de um retângulo, mesmo que o interior possa ter recebido um desenho mais elaborado, caso da igreja dos jesuítas de Santo Alexandre.” (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. P. 31, 32).



Capela-Mor. Foto: CR. 

            A Igreja foi se perdendo com o passar do tempo e foi abandonada por completo, depois de alguns anos em abandono. A Secretaria de Cultura do estado do Pará, liderada pelo arquiteto Paulo Chaves iniciou-se o projeto de restauração dela, muitas imagens e objetos da igreja foram levados pelas pessoas. Algumas com a intenção de furtar e outras somente com o intuito de protegê-las da degradação. Paulo Chaves com grande persistência e determinação conseguiu, além de restaurar a igreja, a recuperação dos objetos e imagens retiradas da igreja. (FONTE ORAL - Coordenadora Zenaide de Paiva no dia 7 de Dezembro de 2013).














Sacristia da Igreja de Santo Alexandre. Foto: de Celso Roberto de Abreu Silva.

           Na restauração da Igreja houve a decisão de não criar copias e onde não conseguiram trazer a original foi deixado bem claro isso. Estruturalmente não foi mexido, foi inserido algum reboco, em algumas paredes, mas não foi levantada nenhuma coluna.  A equipe do perímetro de Lusitânia, que é a equipe responsável pela Igreja, decidiu na época da restauração a não revestir a Igreja, porém hoje já há a discussão se não será o melhor revestir por uma decisão de conservação. O projeto ele é feito, entretanto conforme a necessidade da região e da época e vai se adaptando. (FONTE ORAL - Coordenadora Zenaide de Paiva no dia 7 de Dezembro de 2013).
            Os cúbitos da igreja não são mais utilizados por questão de preservação e segurança. O Altar Mor, o altar principal, houve a ação do cupim.  O telhado original foi todo perdido e assim houve a necessidade de ser retirado e colocado outro tipo de cobertura.
            Pelo fato da região ser húmido e quente, o que favorece a ação do inseto. Um dos grandes problemas de conservação da Igreja é a salinização que as paredes estão sofrendo, isso ocorre pelo fato de na construção foi utilizado muita areia do mar e assim com o passar do tempo estas estão salinizando, prejudicando o templo.  (FONTE ORAL - Coordenadora Zenaide de Paiva no dia 7 de Dezembro de 2013).
            A Igreja de Santo Alexandre é uma composição, tudo no espaço foi pensando quanto igreja quanto museu, porque além de igreja é um museu e assim foi pensado como espaço cultural. Na Igreja não realiza mais celebrações de missa, mas o espaço é muito procurado para casamentos, batizados e aniversários.

Referencia bibliográficas:

COSTA, Lúcio. A arquitetura jesuítica no Brasil. Revista do Sphan, Rio de Janeiro 1941.

SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. Ed. IPHAN. 2009

Igreja de Santo Alexandre. Blog da Escola Tenente Rêgo Barros-turma 12A2, de Belém do Pará. Set,2011 <http://artebarrocabelem.blogspot.com.br/2011/09/igreja-de-santo-alexandre.html > Acesso em 21 de Janeiro de 2014.

Igreja e Colégio de Santo Alexandre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_e_Col%C3%A9gio_de_Santo_Alexandre> Acessado em 21 de Janeiro de 2014.

Igreja e Colégio de Santo Alexandre. Disponível em:

[1] Acadêmica da Universidade Federal do Tocantins, cursando o terceiro período do curso de Arquitetura e Urbanismo.

4 comentários:

  1. ajudou muito no meu trabalho acadêmico

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  2. Visitei essa igreja e fiquei encantada com a história linda, toda entalhada de madeira, que obra prima, é a igreja católica mais linda que já vi, conheci algumas na Itália, mas igual essa não há outra.

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