Carolina Vasconcelos de
Sousa[1]
Ao visitar Belém deparei-me com uma
arquitetura diferente da que estava acostumada ver, uma arquitetura do passado,
uma arquitetura histórica. E uma obra em especial me agradou mais do que todas
as outras visitadas e foi a Igreja de Santo Alexandre, localizada na cidade
velha de Belém. com sua bela arte em talha, e por toda a historia que estava
por trás das suas fascinantes capelas laterais, da sua grande sacristia e
principalmente da sua rica capela principal.
Em Belém a igreja foi sede da
companhia dos jesuítas na época do Brasil colônia, e foram eles que começaram a
edificar o templo no século XVII, esta que é uma das principais obras
realizadas pela companhia de Jesus no Brasil. A igreja, que era simples, sofreu
varias modificações e herdou como estilo predominante o barroco, e foi
inaugurada no ano de 1719. Com o passar dos anos e com o abandono ela teve que
passar por alguns processos de restauração, esse realizado pela equipe de
secretária do estado do Pará, comandado pelo arquiteto Paulo Chaves.
A igreja originalmente dedicada a São Francisco Xavier,
hoje é dedicada a São Alexandre. Em 1616 a companhia missionaria dos jesuítas
juntamente com a ajuda dos índios começou a construção da igreja. A construção
foi realizada com base na arquitetura usada pela companhia, eles começaram a
edificar com uma primeira capela a qual tinha um único altar e foi feita de
barro areia e a cobertura de palha. Porem devido à fragilidade da construção
foi erguido uma segunda capela que foi dedicada a São Francisco Xavier. Em 1719
a igreja foi inaugurada após algumas reformas e ampliações. (Arte Barroca Belém
2011).
No final do século XVII os padres
começaram a construção do Colégio de Santo Alexandre, que teve inspiração na
arte barroca. No colégio além das aulas regulares aconteciam as oficinas que os
jesuítas repassavam o conhecimento da talha que orna a igreja e de esculturas.
As oficinas de esculturas eram ministradas pelo padre João Xavier Traer. Ele ensinou
escultura aos indígenas, "no Colégio dos
Padres da Companhia, na cidade do Pará, estão uns dois grandes anjos por
toucheiros, com tal perfeição, que servem de admiração aos europeus, e são a
primeira obra que fez um índio daquele ofício, e se a primeira saiu de tal
primor, que obras primas não faria de dar anos no ofício?”. (DANIEL,
João. Crônica do jesuíta século XVIII).
Retábulo do altar-mor, em que o medalhão central é sustentado por anjos
monumentais, e uma profusão de concheados, volutas e dosséis compõem a elaborada
talha. Foto: OC.
Ao chegarem
ao Pará à companhia dos jesuítas fixaram-se no bairro da campina a qual
construíram uma capela e uma residência. Porém pelo fato da condição de moradia
naquele local ser precárias eles optaram a viver na vizinhança do forte do
presépio. Em 1759 os jesuítas foram expulsos, o colégio foi reformado e foi
utilizado como palácio dos bispos de Belém. Quando os jesuítas foram embora de
vez, em torno de 1970, o colégio passou a comportar o estoque de imagens e
esculturas. E a igreja passou a exercer sua atividade normal até a década de
50, a partir desse tempo a igreja entrou em decadência e precariedade, chegou a
ser abandonada mesmo não havendo reparos ou qualquer serviço de preservação. (Arte
Barroca Belém 2011).
No final do
século XX após esse longo período de abandono, os edifícios do colégio e igreja
foram transformados no Museu de Arte Sacra do Pará, caracterizando a
arquitetura local e usufruindo um grande patrimônio de escultura e pintura dos
séculos XVII e XVIII da região amazônica. Uma curiosidade é que no ano de 1980
o Papa João Paulo II quando visitou Belém ficou hospedado no convento da Igreja
de Santo Alexandre, onde é o atual Museu de Arte Sacra. Nessa época da visita
do Papa, o edifício na igreja não estava funcionando e somente no ano de 1998
depois de varias reformas o templo da igreja foi reaberta.
A igreja foi
inicialmente construída baseada na arquitetura jesuíta, os edifícios da igreja
e capelas foram erguidos usando taipa com cobertura em palha, que futuramente
seriam substituídas pelas olarias que depois na sua restauração foi substituída
por outro material. Uma das características marcantes da arquitetura dos
jesuítas foram as torres, neste tipo de arquitetura no Brasil destacaram-se
Salvador e Belém suas igrejas dessa época foram consideradas maravilhosos
templos, e junto com a cidade de Santarém em Portugal foram os mais importantes
da colônia Lusitânia naquela época. A igreja de Belém se assemelha muito com a
Igreja Jesuíta de Salvador (atual catedral), a qual foi construída entre 1652 e
1672, elas foram construídas com os mesmos princípios técnicos e estéticos dos
jesuítas. Entretanto a construção do templo em Belém foi concebida com um menor
apuro técnico e construtivo, pelo fato de a mão-de-obra ser indígena. (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. 2009. P. 26, 32).
O barroco
com toda sua grandiosidade é considerado uma arquitetura jesuíta, e a Igreja de
Santo Alexandre, após varias reformas sofridas no seu passado, é considerada
uma Igreja Totalmente Barroca. A arte barroca chegou
ao Brasil através de seus colonizadores, principalmente portugueses. Os
primeiros traços de arquitetura foram trazidos por ordens religiosas (carmelitas,
franciscanos e jesuítas). O barroco brasileiro tem caráter religioso. Os
jesuítas, da Companhia de Jesus, foram responsáveis pelas primeiras
manifestações de arquitetura barroca no Brasil, construíram suas vilas e
igrejas com mão-de-obra indígena de acordo com os ensinamentos dos
missionários. As primeiras manifestações no interior do Brasil foram as fachadas,
frontões e o uso de talhas douradas em igrejas.
Igreja de Santo Alexandre
"Seus púlpitos, altares e em especial o altar-mor são exemplos da decoração jesuítica na região. No caso das igrejas jesuítas paraenses, padres artistas, como João Xavier Traer, o irmão Luís Correa ou o pintor Agostinho Rodrigues, se encarregavam de instruir a mão de obra nativa para auxiliar na talha e nas pinturas decorativas, de excepcional qualidade, que ornamentavam os espaços internos. " (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. P. 28).
Púlpito
da Igreja de Santo Alexandre. Foto: CR.
Com uma arquitetura riquíssima a
Igreja se Santo Alexandre, é considerada o principal templo da arquitetura
Jesuíta no Norte do Brasil. “Sendo o objetivo da Companhia a doutrina e a
catequese, a igreja devia ser ampla a fim de abrigar número crescente de
convertidos e curiosos e localizada de preferência em frente a um espaço aberto
– um terreiro – onde o povo pudesse se reunir e andar livremente” (COSTA,
Lúcio. A arquitetura jesuítica no Brasil. Revista do Sphan, Rio de
Janeiro, n. 5, p. 13. 1941).
A
fachada da Igreja apresenta quatro andares, com um fortão que é formado por
duas grandes volutas, que são espirais que se encontrar no topo, onde á uma
cruz. O contorno do frontão é em formas curvas, as volutas inferiores e sobrepõem
as torres as quais ficam em segundo plano. As pilastras verticais da achada são
decoradas com alto relevo, que criam efeitos de luz e sombra. A parte central
da fachada é rodeada por duas torres, as quais são sobrepostas pelas volutas de
do frontão. Na entrada da igreja tem a
presença de quadros de Via Sacra, que representam toda a vida de Jesus do seu
nascimento a morte, esses quadros são feitos de ferro fundido e policromado,
com varias cores. (SILVEIRA Jussara,
DERENJI Jorge. 2009. P. 40).
Na fachada principal existem ninchos onde eram
colocadas imagens de santos, hoje não mais utilizados por questão de
restauração, e as imagens foram perdidas com o tempo. E somente algumas foram
recuperadas e colocadas no museu ao lado da igreja que antigamente era o
colégio.
Vista
da Igreja de Santo Alexandre. Foto: Arquivo Pessoal
Planta baixa da Igreja. Foto:
Livro Igrejas, Palácio e Palacetes de Belém.
A
planta da igreja possui uma nave central e tem a forma de uma cruz latina
com quatro capelas de cada lado, formando ao total oito capelas que
comunicantes com a sacristia. Estas capelas são feitas por arcos redondos
que se apoiam em pilastras. Na nave da igreja há a presença de púlpitos que
foram construídos em madeira em forma de pirâmides e de decoração
exacerbada característica do barroco. Estes púlpitos foram feitos com a
junção de conchas, volutas com anjos, atlantes e figura de olhos vendados.
Além disso, há a existência da grandiosa capela-mor, a qual é feita em
talha, a sacristia, e apoiando-se nas pilastras das grandiosas capelas,
estão as tribunas, as quais eram utilizadas pelas pessoas com maior poder
aquisitivo na época para assistirem as celebrações. (SILVEIRA Jussara, DERENJI Jorge. 2009. P.
117, 118).
“O partido de nave única aparece associado a uma
fachada onde o corpo central é encimado por frontão e ladeado por torres que podem
ou não ser sineiras. Não há vestígios de torres sineiras isoladas, e todos os
espaços de sacristias e outras dependências eventualmente agregadas eram uniformizadas
sob a forma externa de um retângulo, mesmo que o interior possa ter recebido um
desenho mais elaborado, caso da igreja dos jesuítas de Santo Alexandre.” (SILVEIRA
Jussara, DERENJI Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. P. 31, 32).
Capela-Mor.
Foto: CR.
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A Igreja foi
se perdendo com o passar do tempo e foi abandonada por completo, depois de
alguns anos em abandono. A Secretaria de Cultura do estado do Pará, liderada
pelo arquiteto Paulo Chaves iniciou-se o projeto de restauração dela, muitas
imagens e objetos da igreja foram levados pelas pessoas. Algumas com a intenção
de furtar e outras somente com o intuito de protegê-las da degradação. Paulo
Chaves com grande persistência e determinação conseguiu, além de restaurar a
igreja, a recuperação dos objetos e imagens retiradas da igreja. (FONTE ORAL - Coordenadora Zenaide de Paiva no dia 7 de Dezembro de 2013).
Sacristia da Igreja de Santo Alexandre. Foto: de Celso Roberto de Abreu Silva.
Na restauração da Igreja houve a
decisão de não criar copias e onde não conseguiram trazer a
original foi deixado bem claro isso. Estruturalmente não foi mexido, foi
inserido algum reboco, em algumas paredes, mas não foi levantada nenhuma
coluna. A equipe do perímetro de Lusitânia,
que é a equipe responsável pela Igreja, decidiu na época da restauração a não
revestir a Igreja, porém hoje já há a discussão se não será o melhor revestir
por uma decisão de conservação. O projeto ele é feito, entretanto conforme a
necessidade da região e da época e vai se adaptando. (FONTE ORAL - Coordenadora Zenaide de Paiva no dia 7 de Dezembro de 2013).
Os cúbitos da igreja não são mais utilizados por questão
de preservação e segurança. O Altar Mor, o altar principal, houve a ação do
cupim. O telhado original foi todo
perdido e assim houve a necessidade de ser retirado e colocado outro tipo de
cobertura.
Pelo fato da região ser húmido e quente, o que favorece a
ação do inseto. Um dos grandes problemas de conservação da Igreja é a salinização
que as paredes estão sofrendo, isso ocorre pelo fato de na construção foi
utilizado muita areia do mar e assim com o passar do tempo estas estão
salinizando, prejudicando o templo. (FONTE ORAL - Coordenadora Zenaide de Paiva no dia 7 de Dezembro de 2013).
A Igreja de Santo Alexandre é uma composição, tudo no
espaço foi pensando quanto igreja quanto museu, porque além de igreja é um
museu e assim foi pensado como espaço cultural. Na Igreja não realiza mais celebrações
de missa, mas o espaço é muito procurado para casamentos, batizados e aniversários.
Referencia
bibliográficas:
COSTA,
Lúcio. A arquitetura jesuítica no
Brasil. Revista do Sphan, Rio de Janeiro 1941.
SILVEIRA
Jussara, DERENJI Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. Ed. IPHAN. 2009
Igreja de Santo
Alexandre. Blog da Escola Tenente Rêgo Barros-turma 12A2, de Belém do Pará. Set,2011 <http://artebarrocabelem.blogspot.com.br/2011/09/igreja-de-santo-alexandre.html > Acesso em 21 de Janeiro de 2014.
Igreja e Colégio
de Santo Alexandre.
Disponível em:
<http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelem-ChiesaCollegioAlessandro.html>
Acessado em 21 de Janeiro de 2014.
Muito bom!
ResponderExcluiradorei. obrigado
ResponderExcluirajudou muito no meu trabalho acadêmico
ResponderExcluirVisitei essa igreja e fiquei encantada com a história linda, toda entalhada de madeira, que obra prima, é a igreja católica mais linda que já vi, conheci algumas na Itália, mas igual essa não há outra.
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