Haroldo Dias Pereira
Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Tocantins
BELÉM E SUAS
CARACTERÍSTICAS
Belém, a
capital do estado do Pará, foi o primeiro núcleo colonial português na Amazônia.
A cidade fica localizada às margens da Baía do Guarujá e do Rio Guamá e tem, de
acordo, com o Censo realizado nos anos 2000, aproximadamente 1.280.614
habitantes, distribuídos em seu vasto território. A cidade é um arquipélago e é
composta por uma parcela continental e outra insular, para se ter uma noção a
cidade possuiu ao todo aproximadamente 33 ilhas. (CASTILHO; VARGAS, 2009)
A cidade
de Belém foi fundada em 1616, e teve como o ponto de partida para a
determinação de sua localização e expansão a orla dos rios pelos quais a cidade
é banhada. A expansão da cidade ocorreu ao longo da orla do Rio Guamá, originando
o Bairro da Cidade, que nos dias de hoje é conhecido como Cidade Velha. (CASTILHO;
VARGAS, 2009)
Hoje a
Cidade Velha é uma das áreas onde se concentram as principais atividades, tanto
comerciais, quanto culturais da capital paraense. É também onde ficam
localizados alguns dos principais pontos turísticos, que atraem anualmente, uma
grande quantidade de turistas para a cidade, como o Mercado Ver-o-Peso, a
Estação das Docas, o Museu da Casa das Onze Janelas e outros inúmeros pontos
referenciais da cidade.
A BELLE ÉPOQUE E A BURGUESIA INDUSTRIAL
A Belle
Époque era um movimento de caráter cultural, social e mental. Podia ser
compreendida como uma forma de manifestação da Idade de Ouro da burguesia
industrial (COELHO, 20??). As transformações que ocorreram em algumas das
cidades brasileiras, tanto Belém quanto o Rio de Janeiro e outras, são
resultados de intervenções urbanas que podem ser considerados importantes
legados deixados sob a influência das grandes e inúmeras reformas realizadas
nas cidades europeias, no decorrer do século XIX, as quais tentavam encontrar
soluções para os problemas que surgiram com a cidade industrial, ocasionados
pelo advento da indústria na Revolução Industrial do século XIII.
Belém
também viveu sua própria Belle Époque, no final do século XIX. Seus bens de
consumo e culturais eram, grande parte, de influência europeia, assim como grande
parte das intervenções no seu âmbito urbano. Esses bens acabaram por se tornar parte
da vida cotidiana dos habitantes belenenses (COELHO, 20??).
OS PROBLEMAS DA CIDADE INDUSTRIAL
Durante
o período da Revolução Industrial ocorreu um grande inchamento nas cidades Europeias.
Esse inchamento foi ocasionado por uma enorme explosão demográfica em toda a
Europa e pela drenagem das áreas rurais. Os moradores dessas áreas, em busca de
melhores oportunidades, saem do campo e mudam-se para essas cidades, que já
abarrotadas, não possuem infraestrutura suficiente e adequada para receber essa
população.
A
evolução tecnológica nos meios de produção e de transporte, a necessidade de
adaptação dessas cidades à nova sociedade que a habita e as novas funções
urbanas provocadas pela Revolução Industrial, ocasionam no surgimento de uma
nova ordem, de um rompimento com os velhos quadros urbanos (CHOAY, 2010).
Algumas das características dessa nova
ordem são as aberturas de grandes vias arteriais, a setorização urbana, a
criação de estações e de áreas verdes e livres. A criação de novos órgãos
também muda a cara dessa nova cidade.
A partir dessa nova ordem, começam a ser
pensadas formas de melhorar a qualidade de vida dessa nova sociedade
industrial. Surgem então, as primeiras leis sanitárias, higienistas,
trabalhistas e modelos urbanísticos, que buscam melhorar os aspectos de
habitação nessas cidades, que eram consideradas insalubres.
A REFORMA HAUSSMANIANA
No
período de 1853 à 1870 (CASTLEX; DEPULE; PANERAI, 2013), a cidade de Paris
sofre diversas reformas de cunho urbanístico
visando a amenização, ou até a solução, dos inúmeros problemas que foram
desencadeados pela Revolução Industrial. A reforma de Paris, também chamada de
reforma de Haussmann, foi uma das principais, ou quem sabe até a mais
importante, reforma realizada na Europa durante o período do século XIX.
Na
reforma de Paris, liderada por Georges-Eugène Haussmann (1809 - 1891), foram executadas diversas obras,
incluindo as de melhoria nas redes de esgoto, iluminação a gás, abastecimento
de água, construção de aquedutos, implantação de serviços de transporte,
abertura de parques e áreas verdes e a construção de edifícios públicos.
As reformas tinham como bases, três princípios chaves: a
circulação acessível e confortável na cidade, a eliminação da insalubridade e a
revalorização e reenquadramento dos monumentos. Esses reenquadramento poderia
ser obtido através de perspectivas nas grandes bulevares abertas na cidade (PORTO;
et al, 2012).
Foram abertas, na cidade, novas artérias nos antigos
bairros. A malha original de Paris sofreu uma grande adequação à nova malha que
era composta por ruas agora largas e retilíneas, que serviam de ligação entre
os centros e as estações.
A população de classe mais baixa foi expulsa do centro
parisiense e realocada em áreas mais afastadas do centro, as periferias, gerando
assim certa segregação entre as classes trabalhadoras e a burguesia.
ANTÔNIO LEMOS
Em 1897,
Antônio Lemos (1843 - 1913) atingiu o ápice de sua carreira, quando foi eleito como
intendente da cidade de Belém (o cargo de intendente é correspondente ao cargo de
um prefeito municipal) (MONTENEGRO, 2010). Lemos foi o responsável por grande
parte das transformações urbanas realizadas em Belém no fim do século XIX e
início do século XX. Considerado, até hoje, um dos maiores administradores
públicos dos últimos tempos no Brasil, Lemos tinha um lema: Ordem e progresso.
Antônio Lemos
tinha como influência, as ideias das reformas que ocorreram no século XIX na
Europa, principalmente a realizada por Haussmann na cidade de Paris. Dentre as
suas obras, estavam a aberturas de grandes avenidas (as famosas bulevares),
praças e arborização pela cidade.
AS INTERVENÇÕES E TRANSFORMAÇÕES URBANAS
EM BELÉM
Belém
atingiu o auge da sua economia no período da borracha, durante a gestão do
intendente Antônio Lemos, grande responsável por trás das intervenções na
cidade durante a época.
A maior
parte dos investimentos realizados pela gestão de Lemos foram destinados à
resolver as deficiências da cidade em relação ao saneamento, à iluminação
pública, que passou a ser elétrica, a substituição do transporte via tração
animal pelos bondes elétricos e no sistema viário urbano (PORTO; et al, 2012).
Belém,
assim como Paris e diversas outras cidades Europeias que passaram pelo processo
de reforma, passou por um programa de "embelezamento estratégico" (PORTO;
et al, 2012), que consistia em uma tentativa de tornar a cidade mais bonita e
imponente, tanto para os moradores, quanto para os visitantes, consistindo
principalmente na retirada de uma parcela mais pobre da população dos centros
urbanos e da criação de medidas para evitar o "enfeiamento" da
cidade.
Lemos
também investiu na construção de inúmeros palácios, teatros, grandes praças com
lagos, inclusive no plantio de centenas de mudas de mangueiras, que eram
oriundas da Índia para a criação de corredores sombreados nas grandes bulevares
abertas, tudo bastante característico do estilo parisiense (PORTO; et al, 2012).
Os
traços do urbanismo das intervenções realizadas por Lemos são facilmente
identificáveis em inúmeros lugares da cidade, como nas praças Batista Campos e da
República, nas vias, no próprio centro urbano da cidade, que nos dias atuais,
compreende os bairros do Reduto, Comércio e Campina. O alargamento da cidade
chega ate o bairro de São Brás (MONTENEGRO, 2010).
O BAIRRO DO "MARCO"
Criado
ainda na gestão municipal de Jerônimo Pimentel, o bairro do "Marco"
passou por um processo de diversas melhorias durante o período em que Antônio
Lemos permaneceu no cargo da gestão municipal de Belém. Foram abertas diversas
vias, que eram orientadas no sentido nordeste-sudeste. As principais vias do
bairro foram abertas com aproximadamente 44 m de largura e as transversais com
22 m. Foi implantada também uma malha ortogonal regular com quadras de 125 m x
250 m (PORTO; et al, 2012).
Com o
crescimento e o desenvolvimento cada vez maior, tanto do bairro do
"Marco" quanto da tecnologia, o tráfego passou a ficar cada vez mais
intenso e fizeram-se necessárias a abertura de mais vias, para que o tráfego
pudesse comportar essa quantidade maior de veículos (PORTO; et al, 2012).
A INTERFERÊNCIA DO CÓDIGO DE POSTURA
NA CONSTRUÇÃO DE BELÉM
O código
de postura também foi outra grande influência que a reforma de Haussmann exerceu
nos planos de reformas e transformações de Belém. Tal código impunha algumas normas
para a construção de novos prédios e edifícios. O código também legislava na
propriedade privada, além de muitas vezes ser considerado autoritário e
excludente (PORTO; et al, 2012).
Dentre
as leis que estavam contidas nesse novo código de postura, existiam algumas que
proibiam a construção de barracos e casebres nos novos bulevares abertas por
Lemos. Os barracos já existentes foram destruídos e os seus moradores deslocados
para outras regiões da cidade (PORTO; et al, 2012). Devido à implantação desse
código, boa parte da população dessa população (a maioria de baixa renda) que
vivia no centro da cidade foi expulsa dessas áreas e acabaram sendo obrigados a
se mudar para as áreas mais periféricas da cidade, provocando expansões de
forma desordenada.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CASTLEX, Jean;
DEPULE, Jean-Charles; PANERAI, Philipe. Formas
Urbanas: A dissolução da quadra. Porto Alegre: Bookman, 2013.
CASTILHO, Ana Luisa
Howard; VARGAS, Heliana Comin. Intervenções
em Centros Urbanos: Objetivos, estratégias e resultados. 2 ed. rev e atual.
Baruer: Manole, 2009.
CHOAY, Françoise. O Urbanismo: Utopias e realidades, uma
antologia. 6 ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
PORTO, Aline L. G.;
SECCO, Chiara B.; DELHADO, Gisele M.; VERBICARO, Camila C.; DEMARZO, Mauro A. A Influência "Haussmanniana" nas
Intervenções Urbanísticas em Cidades Brasileiras. 2012.
COELHO, Geraldo
Mártires. Na Belém da belle époque da
borracha (1890-1910): dirigindo os olhares. Disponível em: < http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/revistas/Escritos_5/FCRB_Escritos_5_8_Geraldo_Martires_Coelho.pdf>
Acesso em: 28 jan 2014.
MONTENEGRO, Will.
Antônio Lemos deu um passo ao futuro.
2010. Disponível em: < http://www.ufpa.br/historia/index.php?option=com_content&view=article&id=30:antonio-lemos-deu-um-passo-ao-futuro->
Acesso em: 28 jan 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário