Basílica
de Nazaré, um exemplo da Arquitetura Neoclássica na cidade de Belém
Jéssica Cabral da Silva
Percorrendo
a história da Arquitetura de Belém tive impressões que não esperava, pois como
aluna de Arquitetura e Urbanismo, não pude imaginar que por trás de uma cidade tão
perigosa e sem saneamento básico para com a maioria de sua população pudesse
guardar tantas riquezas históricas de sua Arquitetura.
Logo ao chegar, um dos primeiros
locais que estavam agendados no roteiro foi a Basílica de Nossa Senhora de
Nazaré, uma igreja que fica a poucos quilômetros do Hostel em que o grupo ficou
hospedado. Fomos até lá andando a pé, já conhecendo um pouco da Arquitetura do
bairro de Nazaré, que reúne valiosas construções
históricas representando o ciclo da borracha (a partir da segunda metade do
século XIX), além de prédios comerciais e residenciais.
Figura 1 - Fachada da
Basílica de Nazaré
Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.
No
entanto, antes de falar um pouco a respeito da mesma, deve-se voltar ao contexto
histórico do Ciclo da Borracha. Foi um
momento importante na história do Brasil, principalmente na região Amazônica
(cidades como Belém, Manaus e Porto-Velho), onde proporcionou não apenas um
crescimento destas cidade, mas também uma expansão de sua colonização, riquezas,
além das grandes transformações culturais e sociais que aquela região obteve. O
Ciclo da Borracha foi relacionado com a extração de látex e sua comercialização, e durante ele, Belém foi considerada uma
das cidades brasileiras mais desenvolvidas, onde sua manufatura da borracha
teve papel destacado.
"De 1870 a 1910, considera-se o maior surto econômico já
verificado na região, tendo-se como principal indicador o crescente aumento da
produção da borracha, criando-se até a expressão "rubber reclaiming industry". Em 1871 o presidente da Província
do Pará, Abel Graça, em sua mensagem à Assembleia Legislativa Provincial,
anunciou o primeiro lugar da borracha na pauta de exportação: 4.890.089 quilos
contra os 3.381.246 de cacau. Neste período, a borracha constituiu-se no
principal produto voltado para o comércio internacional, desta forma carreando
recursos e, consequentemente, permitindo um surto econômico vigoroso na
região." (SARGES, 2010, p. 96)
Visto a
importância deste período, tem-se a ideia de que toda essa economia influenciou
também na arquitetura da região Amazônica, e mais precisamente na cidade de
Belém.
Segundo o site da Basílica de Nazaré
(2010), ela foi erguida em 1852 no mesmo
lugar em que foi encontrada a imagem da Santa pelo Caboclo Plácido. No entanto,
em 1884 a igreja passou a ser considerada pequena para receber os romeiros que vinham de
várias cidades do estado para a festa patronal (o conhecido Círio de Nazaré),
além de também o próprio crescimento da cidade ter mudado significativamente
por razão do Ciclo da Borracha, não conseguindo mais receber tantos fiéis
dentro da igreja. Com isso, no passar do tempo, os Barnabitas viram a
necessidade não apenas de uma reforma mas sim de uma nova construção da
Basílica. Em 1905 a Paróquia de Nazaré foi entregue aos padres
Barbanistas, no qual o Arcebispo de Belém, na época Dom Santino Maria Coutinho,
deu-lhes a missão de conservar e aumentar a Paróquia Nazarena, passando assim a
se tornar Basílica posteriormente. Logo, em 1908 após ter-se feito um grande
regime econômico cortando gastos e abusos em nome da santa, economizou-se uma
quantia de 100 contos, um valor que naquele período era considerado suficiente
para arcar com as despesas da reforma.
"A comunidade dos Barnabitas em Belém, recebia o
Visitador Geral da Ordem, Pe. Luigi Zoia, que inspecionava a Província
Brasileira. Zoia era grande conhecedor de artes e se entusiasmou com a ideia,
sugerindo levantar uma nova matriz ao lado da antiga, fazendo uma reprodução
aproximada da Basílica romana de São Paulo." (BASÍLICA DE NAZARÉ, 2010)
Sendo assim, conforme estudado nas
aulas de História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, ministradas pela
professora Patrícia Orfila na Universidade Federal do Tocantins, viu-se que
naquele período era bastante comum que os arquitetos contratados para fazerem
projetos de residências familiares, igrejas, casarões, palácios entre outras obras,
fizessem uma réplica de construções históricas que lhes eram consideradas como
uma referência plástica e estética naquele momento. Logo, estas pessoas que
contratavam os arquitetos, e os próprios projetistas acabaram sendo muito
influenciados pela arquitetura europeia, e no caso da Basílica de Nazaré os
Barbanitas queriam uma igreja similar a Basílica de São Paulo Extramuros, que é
a segunda maior Basílica católica de Roma, e faz parte também das quatro
basílicas patriarcais, todas localizadas em Roma.
"Embora erguida como cópia do modelo romano, a
basílica adaptou a decoração interna do original, que possui medalhões com os
papas em ordem de sucessão no papado e cenas com a figura de Cristo. Na igreja
paraense a decoração exalta a Virgem Maria e outras mulheres da liturgia
cristã." (DERENJI, 2009, p. 163)
Conforme o site da Basílica de
Nazaré, (2010), visto essa influência, em 24 de outubro de 1909 os Barbanistas
deram início a execução do projeto colocando sua pedra fundamental, que foi
realizado em Gênova, pelo arquiteto italiano Gino Coppedè e pelo engenheiro
Giuseppe Predasso. Foi neste período que o poeta
maranhense Euclides Faria compôs o hino de 12 estrofes “Vós sois
o lírio mimoso” que se tornou o canto oficial da
Padroeira e do Círio de Nazaré.
A Basílica possui um estilo
neoclássico, que teve uma grande influência da arquitetura europeia, e que buscou inspiração nos edifícios antigos, em especial
no modelo do templo grego. O neoclassicismo se caracterizou por dar ênfase no racionalismo, no equilíbrio, na ordem,
na moderação e na economia, e teve como inspiração o legado cultural da antiguidade clássica, conforme
dito anteriormente.
Com isso, o neoclássico aconteceu em
duas versões; o neoclássico oficial que era todo feito de importações, e o
neoclássico provinciano, que era feito por escravos. No entanto, o neoclássico
oficial se concretizou nos maiores centros, como Rio de Janeiro, Belém e
Recife, que naquele período eram uma das cidades que mais se desenvolviam, além
de que tiveram também um contato direto com a Europa, desenvolvendo assim um
nível mais robusto de arte e arquitetura durante todo aquele período.
Derenji, J. S. e Derenji, J. (2009), dizem que a planta da basílica se dá
em forma de cruz latina, possuindo cinco naves divididas em trinta e seis
colunas de granito italiano, a cada lado da nave se abrem capelas com estátuas,
totalizando em quinze estátuas de mármore. Há
também cinquenta e três vitrais franceses, além de sessenta e cinco ilustrações
em mosaico italiano. A decoração do forro da nave central tem uma delicada
ornamentação de estilo bizantino, com candelabros e luminárias pendentes.
Três grandiosas portas de bronze também fazem parte do cenário, roubando a
atenção de quem quer que esteja pela sua riqueza de detalhes esculpidas em cada
uma.
Figura
2- Vitrais no interior da Basílica
Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.
Com todos estes detalhes, se vê que o interior da Basílica
consegue remeter uma sensação de grandiosidade, pois quem está de fora não
imagina que em seu interior há tantos outros elementos e decorações minuciosas,
cheias de detalhes e de uma exuberante riqueza, que conseguem prender a atenção
de qualquer pessoa para cada elemento, desde sua entrada lembrado um pouco da
Arquitetura da Basílica de São Paulo Extramuros, indo até ao detalhe piso, do
forro, ou das grandiosas portas de bronze, todos tão bem trabalhados e acima de
tudo muito bem conservados. Logo, percebe-se
que ao entrar na Basílica cada qual teve uma sensação distinta e diferente dos
demais, seu interior consegue transmitir impressões fabulosas, como de paz, tranquilidade,
grandeza e também de muita fé.
Figura 3- Detalhe da porta
de bronze
Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de
2013.
A
fachada da Basílica é composta por duas frases em latim, na frase superior,
está escrito "Deiparae
Virgini a Nazareth", que em português
significa "Virgem de Nazaré Mãe de Deus". Já na frase inferior, está
escrito "Salve Regina Mater Misericordiae", que traduzindo a
língua portuguesa significa "Salve Rainha Mãe Misericordiosa". Existe
também uma terceira frase, acima da porta da nave central, escrita "Domys
Dei Et Porta Coeli", que significa "Esta é a casa de Deus e a
porta para os céus".
Ao falar da
Basílica de Nossa Senhora de Nazaré é impossível não mencionar o famoso Círio de
Nazaré, que é uma devoção a Nossa Senhora de Nazaré, que se tornou na maior
manifestação católica do Brasil, e consequentemente um dos maiores eventos
religiosos do mundo. Esta devoção é realizada no Brasil anualmente, no segundo
domingo do mês de outubro na cidade de Belém do Pará.
A procissão
sai da Catedral da Sé que fica localizada também em Belém e segue em direção
até a praça Santuário de Nazaré, reunindo cerca de dois milhões de fieis em uma
caminha de fé pelas ruas da capital do estado, totalizado em cerca de 3,6 km
percorridos. A imagem da santa fica exposta por quinze dias para a veneração
dos romeiros, período chamado de quadra nazarena.
"No
Pará, foi o caboclo Plácido José de Souza quem encontrou, em 1700, às margens
do igarapé Murutucú (onde hoje se encontra a Basílica Santuário), uma pequena
imagem da Senhora de Nazaré. Após o achado, Plácido teria levado a imagem para
a sua choupana e, no outro dia, ela não estaria mais lá. Correu ao local do
encontro e lá estava a “Santinha”. O fato teria se repetido várias vezes até a
imagem ser enviada ao Palácio do Governo. No local do achado, Plácido construiu
uma pequena capela." (CÍRIO DE NAZARÉ, 2013)
Segundo o
site do Círio de Nazaré (2013), em 1792 o Círio foi instituído, pois o Vaticano
acabou autorizando a realização da procissão em homenagem à Virgem de Nazaré,
em Belém do Pará, onde saíam do Palácio do Governo conforme dito acima, e
somente em 1882 que a procissão passou a sair da Catedral da Sé, continuando
assim até nos dias atuais.
Figura
4 - Altar-mor da Basílica
Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.
Desta forma, vendo toda sua história, influencia e
grandeza, vale ressaltar que a Basílica de Nazaré é a única Basílica da
Amazônia brasileira, exercendo um papel importantíssimo na história de Belém,
influenciando muito em sua religião católica. Quem vai a Belém com certeza não
pode deixar de visitar esta magnífica Igreja, que é sem dúvida uma das mais
belas do estado do Pará e patrimônio histórico de Belém.
Referências Bibliográficas
SARGES,
Maria de Nazaré. Belém: Riquezas
produzindo a Belle Époque (1870-1912). 3. ed. Belém: Paka-tatu, 2010.
BASÍLICA
DE NAZARÉ. História da Basílica. Disponível
em: <http://www.basilicadenazare.com.br/pagina/historico_da_basilica>.
Acesso em: 20 de janeiro de 2014.
DERENJI,
Jussara da Silveira; DERENJI, Jorge. Igrejas,
Palácios e Palacetes de Belém. Brasília, DF: Iphan / Programa Monumenta,
2009.
CÍRIO
DE NAZARÉ. Histórico. Disponível em:
<http://www.ciriodenazare.com.br/historico/>. Acesso em: 22 de janeiro de
2014.
Excelente produção de conhecimento! Parabéns pela execução do projeto!
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