Patrícia
Castro
Paulo Chaves Fernandes,
atual secretário da cultura, no cargo há aproximadamente 20 anos. Vem
desempenhando um importante papel na revitalização da Cidade Velha, em sua
breve palestra foi possível observar um idealista nato, um sonhador.
“Os
sonhos estão nas nuvens, parecem muito distantes, não estão no lugar certo. O
que temos que construir são os alicerces para se chegar a eles.”
Paulo
Chaves Fernandes.
Estudou arquitetura na
UFPA (Universidade Federal do Pará), formou-se na 1° turma, entrando na
faculdade no ano do golpe, na década de 60. Saiu em 1964 segundo ele, não
queria ser usado pela ditadura ou fazer parte da especulação imobiliária, então
foi para o Rio de Janeiro estudar cinema.
Sendo um exímio
conhecedor da história de seu Estado, Paulo Chaves vem restaurando importantes
obras como a Casa dos governadores, o Palácio dos Governos, o Parque da
Residência – local onde nos foi concebido sua palestra -, Teatro da Paz, Mangal
das Garças, entre outros*.
Paulo Chaves vê a
cidade como uma relíquia que deve ser resguardada, sua memória não deve ser
esquecida e é pensando nisso que seu trabalho persiste. Seu objetivo é não
deixar que a Belém da sua juventude e que a história da cidade seja esquecida.
Em sua entrevista ao jornal local da R7, ele explica a necessidade da população
belenense tenha a consciência da preservação ecológica e histórica. Segundo o
próprio seu maior motivador e desafio é preservar.
Em entrevista ao Espaço
Aberto, Chaves explica o motivo da sua dedicação, a paixão pela cultura, cita
que não usa cultura para fazer arquitetura, mas sim da arquitetura pra fazer
cultura.
Explica que o Hangar -
Centro de Convenções da Amazônia foi criado com o intuito de acomodar
convenções internacionais, feiras literárias, Nesse momento ele acusa seu
adversário político de usufruir do espaço de forma inadequada. Admite que é
rentável, mas acusa a administração de desastrosa. A edificação tem uma área
construída de 12.000 m², com salas multiusos e auditórios.
Paulo também comenta as
críticas que recebeu ao construir algo tão grandioso, ele apenas explica que
fez aquilo que acreditou ser o melhor, que estudou a fundo para criar um espaço
único e que acomodasse eventos de grande importância. Usou de elementos
construtivos de boa qualidade, sempre visando qualidade x economia.
Seu intuito seria
destinar o dinheiro excedente proveniente do Hangar, pois esse é mais rentável,
a contribuir para a manutenção de outros espaços culturais, como o Magal e as
Docas.
No entanto no momento
da visita técnica acontecia a decoração de um casamento no local. Nisso
consiste o descontentamento da população, são altos os valores para gozar de
uma festa no local, assim somente a elite tem acesso. E o mesmo acontece nas
igrejas transformadas em museus, locais onde não acontecem mais celebrações
apenas casamentos, batizados e pequenas recepções. Cobrando um valor alto por
essas celebrações, como a Igreja de Santo Alexandre.
Politicamente falando,
suas obras incrementam o turismo, mas também deixam parte da sociedade
incomodada. Claro que quando alguém se dispõe a fazer algo, pode não agradar a
todos, assim o atual secretário vem enfrentando duras críticas ao seu trabalho.
Com projetos tidos como elitistas, pontuais que não satisfazem o interesse
social da cultura local.
Estação das Docas. Arquivo Pessoal
A Estação das Docas, um
das suas preferidas, localizada na principal Avenida de Belém a Presidente
Vargas foi uma revitalização necessária. Construída a mais de 100 anos estava
em total situação de abandono.
Com projeto de Paulo
Chaves e Rosário Lima tomou como partido o lema “antes adaptar do que intervir”.
A arquitetura foi mantida mesmo após a reforma, foram preservados os galpões,
em estrutura de ferro inglês original, que receberam paredes de vidro para
observar o Rio Guarajá e ainda os guindastes que tornaram se a marca do local(Fabio
H., 2011).
O local tombado pelo
patrimônio histórico existe uma exposição permanente com relíquias da atividade portuária de Belém e do Forte de
São Pedro Nolasco, encontrados durante as escavações da obra. O local
ganhou vida e hoje é um dos principais pontos culturais, onde constantemente há
apresentações culturais.
No entanto a crítica
não deixa escapar o valor desse projeto que girou em torno de 36 milhões
(Sepof, 2000),um valor exorbitante se levado em consideração que nosso país é
carente de quase tudo saúde, educação e em Belém não é diferente. A
insatisfação consiste em ser uma obra financiada pelo poder público, de acordo
com o arquiteto Marcel Campos, “Coisas como a Estação e o Hangar, que
supostamente são públicos, mas que são explorados pelo privado, poderiam ser
financiados pelo privado... se dão lucro, que seja pela iniciativa privada.”
Percebe-se que problema
não está na revitalização em si, mas a forma como ela acontece e público para o
qual é direcionada. Lendo alguns artigos de jornais locais é possível perceber
os problemas de infraestrutura, transporte público e principalmente a violência
entendendo assim o motivo para tanta insatisfação.
De acordo com o artigo
de Kil Abreu, artistas protestaram contra Paulo Chaves, em 25 de setembro de
2014. Onde o acusaram de “está mais interessado em alimentar o imaginário
extemporâneo de uma elite rentista, na belle
époque quando Belém era conhecida como “Paris da América”. Pediram por sua
saída do comando da secretária e também por maior espaço para discussões de
politicas públicas e a criação de editais para descentralizar verbas, fomentar
a produção, a circulação e acesso do povo a atividades artísticas.
Em uma entrevista
cedida ao Espaço Urbano, Paulo argumenta que sempre trabalha pela cultura. Uma
vez que é responsável pela lei de incentivo artístico (Semear); criação de uma
orquestra sinfônica, que atende crianças; a criação de 5 museus; o Mangal,
visto como belo exemplo de preservação ecológica; fez o maior número de publicações
na história da secretaria de edições de CDs, DVDs e acervo bibliográfico.
A lei incentivo ao
artista, o Projeto de Incentivo Cultural (Semear), consiste em selecionar
propostas nas áreas de linguagem visual; imóveis de relevante interesse
artístico e cultural; literatura, acervo bibliográfico, bibliotecas e museus
para receberem um Certificado de Habilitação onde patrocinadores
financiem até 80% do projeto, sob forma de renúncia fiscal e os outro 20%
provenientes de recurso do próprio patrocinador**.
Não se pode deixar de
mencionar o Mangal das Garças, que abriga 400 mil m² de uma área as margem do
rio Guamá, no local é possível observar a fauna da região, alguns pássaros,
garças e claro as borboletas no Borboletário. No local ainda fica o “Armazém do
Tempo” um galpão de ferro remontado e hoje abriga lojinhas de artesanatos e um
café; por todo o parque há exposições de obra de arte pública dos artistas
regionais; o Memorial Amazônico da Navegação e por fim o mirante com 47 metros
de altura, que avança sobre os aningais (site: Sou Paraense,2010).
A
cultura de Paulo Chaves é voltada para a preservação, sua preocupação é não
deixar desaparecer elementos da paisagem urbana, assim eventos culturais e o
incentivo artístico são deixados para o segundo plano, a dança, o teatro, etc.
Ele cria espaços para que elas aconteçam, mas esquece de subsidiá-las. É
compreensível sua preocupação no elemento histórico, mas deve haver um ponto de
equilíbrio por que eventos culturais abrangem uma parcela muito maior da
sociedade, ao implementar um projeto cultural em uma região carente estaria
ajudando crianças a saírem das ruas.
Ao
fazer uma revisão de todas as falas de Chaves uma voz silenciosa grita: falta
integrar mais o povo nas decisões politicas, falta politicas públicas para a
população carente. Pois a cultura por natureza tem a função de integrar, no
momento em integra nos torna menos arrogantes e leigos, nos tornando mais
humanos e principalmente mais aptos a lutar pelos seus direitos.
Os
espaços criados e renovados por Paulo Chaves é de grande importância para
compor o urbanístico de Belém, fazem dela um local lúdico aos olhos dos
turistas. Não há descrição que possa expressar a tranquilidade que nos preenche
ao visitar a Estação das Docas; o prazer ao encontrar um local que está em total
harmonia com a natureza, como o Mangal das Garças é um pedaço da riqueza
amazônica no meio da cidade.
E claro, os museus, quão prazeroso é ver o
cuidado e a delicadeza com o qual são tratados, as histórias que nos contam.
Tudo artisticamente elaborado para cuidar do maior bem que Belém pode nos oferecer,
a nossa história. Nesse momento percebe-se que todo trabalho de Paulo pertence
a um plano muito maior, ele não está direcionando seus trabalhos apenas para o
presente, mas esta presenteando também as futuras gerações.
Praça Frei Caitano Brandão. Arquivo
pessoal.
Referências
Bibliográficas
*Chaves, P. Palestra aos alunos da UFT:
depoimento. [05/12/2013]. Parque da Residência. Entrevista cedida a alunos da
UFT.
Chaves, P. Paulo Chaves fala de seu amor
por Belém nos 396 anos: depoimento. [12 de janeiro de 2012]. Belém: Record. Entrevista
cedida a Gilson Farias.
Chaves, P. Paulo Chaves - entrevista 1 e
2 depoimento. [30/12/2010]. Belém: Espaço Aberto.
Abreu, K. Cansaço: artistas “demitem”
secretário há quase 20 anos dá as cartas na cultura paraense. Rede Brasil Atual.
Setem.2013. <http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2013/07/artistas-do-para-demitem-secretario-de-cultura-ha-vinte-anos-no-cargo-373.html>Data
de acesso: 22/01/2014
H. Fábio. Estação das Docas, o porto de
Belém revitalizado. Por todos os lados. Agost, 2011. <http://portodososlados.wordpress.com/2011/06/13/estacao-das-docas/>
Data de acesso: 20/12/2014.
Mangal das Garças – um paraíso ambiental
no centro de Belém. Out,2010. <http://www.souparaense.com/2010/10/mangal-das-garcas-um-paraiso-ambiental.html>. acesso: 31/01/2014.
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