“O
homem que deixou de ser escravo da Natureza tampouco é o senhor que nela
impera, deveria ser o seu vigilante guardião”. (Benedito Nunes)
Demonstra-se através desse artigo quais os pensamentos advindos do modo de conceber o projeto, de tal forma que contribua para a noção do espaço para quem o ocupa em determinado momento. Além disso, evidencia o intuito de contribuir para a
percepção referente à formação do parque Mangal das Garças, bem como se deve apanhar de
que forma o mesmo foi pensado, à medida que favorecesse a cultura local e
pudesse atrair visitantes para a área.
Dessa forma, pode-se constatar que o local agrega uma mistura de sensações. Seja através da visão, em que o encantamento surge só de
olhar; em sentir fisicamente o que a natureza nos presenteia por meio do tato,
e/ou até mesmo a audição, que permite abstrair os sons, seja dos pássaros, das
árvores, das águas, todos estes em seu ambiente natural. Contudo, destaca-se
a maneira como essas sensações foram originadas no parque Mangal das Garças no
que diz respeito a sua criação no espaço urbano, bem como a intencionalidade
direcionada a ele.
O Mangal das Garças é uma
área que foi revitalizada por meio de um programa de necessidades definido pelo
arquiteto Paulo Chaves e sua equipe, considerando a inclusão de equipamentos
destinados ao lazer. Compreendido em 40.000m², está situado na cidade de Belém
do Pará, às margens do Rio Guamá.
É privilegiado no que diz
respeito à natureza, pois possui espécies nativas da região amazônica, além de
que foram atribuídas diferentes formas de apreciar o lugar, seja pelo mirante,
transitando por todos os demais lugares ou à beira do Rio Guamá, ao entardecer.
Estes pontos são capazes de transmitir diversas sensações isoladas ou
simultaneamente. Estas são imagináveis devido ao fato de que o ambiente é
totalmente propício, uma vez que consegue imprimir um espaço natural,
proporcionando, desta forma, uma compreensão de encanto aos olhos, de
aconchego, no que se refere a passeios com a família, já que possui locais em
que pode ocorrer o descanso, bem como inspiração e apreciação.
Conforme Paulo Chaves
especifica, a ideia que norteou para conceber o projeto de revitalização do
Mangal das Garças foi a de criar um espaço naturalístico, podendo ocasionar na
identificação de três formas de paisagens amazônicas:
O Mangal das
Garças é um parque naturalístico que apresenta as diferentes macrorregiões
florísticas do Estado, ou seja, as matas de terra firme, os campos e as matas
de várzea. Uma natureza recriada que só vai estar pronta daqui a 15 ou 20 anos
(Paulo Chaves, entrevista concedida à Pedro Mergulhão em 2009).
Seguem, respectivamente,
as imagens que demonstram no parque exemplo de terra firme, campo e várzea
amazônica:
Foto 1: Mangal das
Garças: Região de terra firme.
Fonte: Arquivo
particular do autor, 2013.
Foto 2: Mangal das
Garças: Campo.
Fonte: Arquivo
particular do autor, 2013.
Fonte: Arquivo
particular do autor, 2013.
Paulo Chaves conta ainda
com o comprometimento de Rosa Kliass - profissional que desenvolve seus projetos
seguindo princípios de manutenção e regeneração de ecossistemas - a arquiteta
paisagista que desenvolveu o projeto paisagístico do Mangal.
Tendo em vista projetos
paisagísticos visitados em Israel, Rosa Kliass pôde assimilar a verdadeira importância
do conceito na criação paisagística, “compreendi que a mensagem daqueles
projetos era a celebração do significado, nada é aleatório, tudo tem um conceito
claro.” (ZEIN, 2006, p. 26).
O pensamento de Kliass,
portanto, traduz perfeitamente o projeto paisagístico designado pelo autor como
“ecocultural”, uma vez que está condicionado aos conceitos da paisagem cultural
e da ecologia da paisagem, e faz-se associação ao Mangal das Garças por possuir
a identificação da paisagem amazônica e seus elementos no parque citado.
Além disso, promove a
valorização da cultura local através dos elementos presentes no paisagismo,
remetendo à cultura indígena através do piso, das cores utilizadas e suas
curvas sinuosas no trajeto. Características que culminam para apreciação do
espaço em seus mínimos detalhes. Depois de pronto, o projeto pode ser
compreendido dessa forma, mas até o resultado, o processo consiste em um
trabalho árduo de estudo para atender a todos os aspectos referentes à
concepção de perfeição da obra como um todo.
Em lugar
de paisagem regional, eu diria, em verdade, que o projeto deve sempre ter uma
carga do que se refere à paisagem do lugar. Este aspecto faz parte daquilo que
eu considero um dos aspectos essenciais para a garantia da qualidade do
projeto: o caráter da paisagem e o significado do lugar criado (KLIASS², 2008).
Na percepção do visitante
tudo acontece de forma intensa e gradativa, não sendo improvável se surpreender
a cada descoberta de pontos do local. É possível, por conseguinte, atentar-se
para os detalhes e detectar cada ponto em especial segundo a sua transmissão de
efeitos. Nota-se isso quando se faz o passeio pelos caminhos ondulados, assemelhando-se
aos rios amazônicos, de tal forma que garante a contemplação da natureza e da
paisagem, embora comumente estejamos dispostos a fazer caminhos retilíneos, as
curvas não denotam incomodo algum no que diz respeito a percurso, já que
explora essa ideia de espetáculo natural.
A sensação se estende ao
passar pelos canteiros coloridos e ao passar pelo grande lago central, que
presenteia aos olhos com aves junto aos lagos artificiais, seja para quem vai
rumo ao borboletário, em que se pode observar as borboletas em seu
ambiente natural, ou até mesmo atrás das garças que sobrevoam baixinho
em busca de seu mantimento no fim da tarde. Cada percepção sentida e vivida,
minuciosamente.
O Mangal das Garças
dispõe de vários elementos que atraem pessoas de diversas partes sem fazer
distinção de classes sociais, este fato é percebido por haver uma circulação frequente
de visitantes e por não existir taxa de cobrança que restrinja a entrada no
parque, somente aos espaços de exposições, consequentemente, costuma-se dizer
que todo belenense deve possuir uma fotografia registrando um momento aos
finais de semana no parque.
Para quem deseja
visualizar o entorno em que o local se insere, poderá contar com o restaurante Manjar
das Garças, sobretudo através do mirante situado no parque, que consiste em 47
metros de altura, onde há duas plataformas de observação, em que se permite a
observação da floresta, do rio e também de parte do centro histórico da cidade.
O traçado com a alternância de formas fechadas e abertas é, especialmente,
aspecto admirável. Estas formas podem ser encontradas na Amazônia, no entanto,
diferenciadas, por possuir mata fechada e pela abertura de vistas para rios ou
determinado tipo de sistema ecológico. Sente-se esse efeito no aningal
existente no parque, onde há possibilidade do visitante ser conduzido por um
caminho que passa entre uma mata fechada de aninga.
Arquivo particular do autor, 2013.
Arquivo particular do autor, 2013.
Em suma, observa-se que com
o intuito de promover encontro através de atividades e descanso o mangal
adquire êxito, uma vez que o projeto compreende de que forma a arquitetura influencia
no bem-estar das pessoas e contribui para o desempenho de tarefas de diferentes
formas, para que neste lugar haja interação entre as pessoas.
Nota-se que o projeto do
parque proporciona o espetáculo da natureza aos visitantes, além de tornar-se
mais uma opção de visitação na cidade. Sobretudo, o projeto adquire um teor
natural através de elementos construtivos típicos da região, permitindo
associá-lo à região.
Referências
COMPLEXO TURÍSTICO
Disponível em
http://www.mangalpa.com.br/. Acesso em 22/01/2014.
GUIA IMAGENS
Disponível em: http://portodososlados.wordpress.com/tag/museu-amazonico-da-navegacao/.
Acesso em 22/01/2014.
HISTÓRIA
Disponível em: http://www.secult.pa.gov.br/. Acesso em 22/01/2014.
HISTÓRIA
Disponível em: http://www.secult.pa.gov.br/. Acesso em 22/01/2014.
MERGULHÃO,
Pedro. A Paisagem Amazônica no
Paisagismo de Belém: Caso Parque Naturalístico Mangal das Garças. Recife,
PE, 2009.
ZEIN, Ruth Verde. Rosa Kliass: desenhando paisagens,
moldando uma profissão. São Paulo: Editora Senac, 2006.
¹ Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins.
² Rosa Grena Kliass, arquiteta paisagista, considerada uma das profissionais mais importantes na história do paisagismo brasileiro.
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