O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Mangal das Garças, um espaço verde dentro da cidade.



BRUNA MITIKO WATANABE
Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Tocantins


        O presente artigo retoma o processo histórico de evolução do parques urbanos, citando os primeiros jardins e parques. A contribuição das áreas verdes para a cidade e a forma como tenta haver um equilíbrio estético entre as duas.  Aprofunda-se no Parque Mangal das Garças, onde se é apresentado todas as funções para o uso da população local e turistas.
 Historicamente, os parques e os jardins públicos começam a surgir nas cidades europeias, com advento da Revolução Industrial, onde houve uma radical mudança na relação homem-natureza, através da criação de parques públicos.  A vegetação assume, a partir de Haussmann em Paris, papel importante no cotidiano das cidades.

Com a experiência de Paris se assiste, pela primeira vez na Europa, a uma ação sistemática na construção dos espaços verdes para a cidade moderna; se concretiza a idéia da cidade verde. Paris define e experimenta em larga escala o primeiro programa orgânico de construção do verde urbano, onde boulevards , squares , parques urbanos e periurbanos constituem a tipologia corrente. (Roditi 1994:25)

Macedo e Sakata (2003, p. 14) definem os parques urbanos como “todo espaço de uso público, destinado a recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é auto-suficiente.” A massa arbórea e os seus efeitos positivos  no ambiente urbano é o diferencial do parque para os outros tipos de áreas verdes, como praças e jardins.
Pode-se perceber que ao longo do tempo a procura por espaços naturais para a prática de esportes, lazer e turismo vêm aumentando, principalmente na modernidade onde a população começou a procurar por mais áreas verdes, para fugir da cidade agitada e conseguir a tranquilidade do campo.
Os parques, jardins e bosques nos grandes centros urbanos foi uma forma de trazer a tranquilidade dos campos para a cidade. As áreas verdes possibilitam esse contato com a natureza, cria espaços de lazer e convivência e ainda criam sombras e ajudam na salubridade da cidade.
A respeito do verde nas cidades:
Do canteiro à árvore, ao jardim de bairro ou ao grande parque urbano, as estruturas verdes constituem também elementos identificáveis na estrutura urbana. Caracterizam a imagem da cidade; têm individualidade própria; desempenham funções precisas: são elementos de composição e do desenho urbano, servem para organizar, definir e conter espaços. Certamente que a estrutura verde não tem a mesma ‘dureza’ ou permanência que as partes edificadas das cidades. Mas situa-se ao mesmo nível da hierarquia morfológica e visual. Uma rua sem as suas árvores mudaria completamente de forma e de imagem; um jardim ou um parque sem a sua vegetação transformar-se-ia apenas num terreiro... (Lamas 1993:106)

No Brasil, segundo Macedo (1999) os espaços livres da edificação nas residências brasileiras estruturavam-se de uma forma quase única de parcelamento do sol, perpendiculares a via publica, de formato regular e quintais no fundo. Os jardins brasileiros começaram a ganhar força nas grandes propriedades religiosas (praças criadas em frente à igreja) e aos quintais de casas, onde se plantavam arvores frutíferas e ervas de cheiro.
Um dos primeiros jardins públicos construídos em nosso país foi o Passeio Publico do Rio de Janeiro, localizado no centro histórico do Rio de Janeiro, foi concebido por Valentim da Fonseca e Silva. Construído em 1783, o Passeio Publico foi um grande ponto de encontro da sociedade carioca, em seu interior podia-se contemplar varias espécies da flora nacional, além de obras de arte, chafarizes, esculturas e pirâmides. Depois foi construído o Jardim Botânico, junto a Lagoa Rodrigo de Freitas. Em meados do século XX, são projetados e implantados os primeiros grandes parques para lazer publico. Neste período, foram criados o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e  o Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro.
O Brasil, apesar do seu imenso território e grande variedade de espécies de fauna e flora, não tem muitos parques urbanos. Além de todos os benefícios ambientais, as áreas verdes urbanas quebram a monotonia que os prédios causam nas grandes metrópoles, sendo usados também como pontos de referência, além de espaços de lazer para a população e também pontos turísticos.
Os benefícios da vegetação na área urbana são incontáveis, a começar pela transformação da paisagem, purificação do ar, redução da poluição por meio da oxigenação, mantem a permeabilidade do solo, abrigo a fauna existente, entre outras.  
Em uma visita acadêmica, juntamente com a turma de Historia da Arquitetura e Urbanismo do Brasil, ministrada pela professora arquiteta e urbanista Patrícia Orfila, visitamos a cidade de Belém, no Pará, situado no Norte do Brasil, que passa por uma série de intervenções territoriais e políticas urbanas e ambientais voltadas para o tratamento das suas águas e matas aproveitando da sua extensa área de orlas. Também conhecida como cidades das Mangueiras, Belém possui muitos espaços verdes, como a Praça Batista Campos, o Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves e O Parque da Residência.
Além dos citados acima, o   Parque ecológico Mangal das Garças, é um grande exemplo de intervenção urbana, com aproveitamento da vegetação local, dos animais presentes e da utilização da orla. Além disso proporciona ao visitante espaços de lazer e contemplação da natureza.


 
Figura 1 – Mangal das Garças Fonte: http://www.mangalpa.com.br/

Localizado as margens do rio Guamá e próximo ao entorno do Centro Histórico da cidade, é uma área revitalizada de 40 mil m². A vegetação predominante, o aningal, foi preservada, contando com outras trezentas espécies de árvores nativas presentes na região. A transformação foi cuidadosa. O requisito era o aproveitamento máximo das condições paisagísticas da área.
De acordo com os arquitetos que atuaram no projeto (Paulo Chaves Fernandes, Rosário Lima, Aurélio Meira, Mariângela Melo, Sérgio Neves, Gustavo Leão, Leila Barbosa, Karla Costa), o parque foi feito de forma a unir a preservação da natureza com o lazer. Assim o espaço pode ser explorado visualmente, e também de maneira dinâmica, proporcionando ao visitante um convívio com a natureza. O Mangal das Garças dá continuidade da recuperação dos edifícios históricos e a reintegração de áreas da orla fluvial, que o arquiteto Paulo Chaves vem realizando como Secretario da Cultura na cidade de Belém.
Segundo CHAVES, Paulo (2004) o Mangal das Garças é um parque naturalístico que apresenta as diferentes macrorregiões florísticas do Estado, ou seja, as matas de terra firme, as matas de várzea e os campos. Uma natureza recriada que só vai estar pronta daqui a 15 ou 20 anos.
O parque foi orçado em cerca de R$ 15 milhões de iniciou suas obras em 2001, ficando pronto em 12 de janeiro 2005, quando foi inaugurado, data em que a cidade completava seus 389 anos de idade.
Em proveito da presença do rio, foi criado um lago no centro do parque, onde convivem animais de diferentes espécies como as garças, socós, marrecos, além de cágados e tartarugas. Em torno do lago, foram traçados caminhos e passeios pavimentados para o visitante contemple todo esse espaço de perto.
O Mangal das Garças conta com vários atrativos turísticos como: Farol de Belém, , Viveiro das Aningas ou Viveiro dos Pássaros, onde o visitante tem contato direto com uma impressionante quantidade de pássaros, Borboletário, com uma área de 1.400m², Orquidário, Armazém do Tempo e o Manjar das Garças.  Além da grande quantidade de animais que estão soltos pelo Mangal como aves pernaltas, marrecos, cisnes e as garças que dão nome ao parque.


Foto: Passarela para caminhada e contemplação da vegetação predominante, o aningal (Arquivo pessoal, 2013)


Os elementos arquitetônicos foram colocados de forma ordenada como parte integrante e integradora do parque, não chamando mais a atenção do que a natureza preservada do lugar. Fazendo com que o construído e o verde estejam em perfeita harmonia.
O Armazém do Tempo, logo na entrada do parque, é um antigo galpão de ferro, usado como oficina mecânica no reparo de embarcações, foi restaurado para abrigar um ambiente alternativo, nele, pode-se comprar CD’ de artistas paraenses, plantas, livros e artesanatos ou somente saborear um café.
O Viveiro das borboletas possui uma vegetação propicia as espécies, com cascatas e espelhos d’água. Também são produzidas mensalmente mais de 5 mil borboletas adultas, sendo todos eles catalogados e estudados. A finalidade é que se volte a estabelecer habitat para esses animais, que estavam desaparecidos em decorrência da destruição das florestas perto da capital paraense. Junto ao viveiro, uma torre em estrutura metálica de 47 metros, toda estruturada em aço, abriga o reservatório de água do parque, e possui dois níveis de observação, 15m e 27m, por escada ou elevador, de onde se pode ver parte da “cidade das mangueiras”.

Foto: Torre de Observação (Arquivo pessoal, 2013)




Foto: Animais soltos pelo parque (Arquivo pessoal, 2013)


O Manjar das Garças, é um salão todo em madeira, mas com esquadrias de vidro, facilitando a vista de contemplação do visitante mesmo na hora de comer. O acesso ao restaurante se dá através de rampas que ipê lavrado, levando também até o mirante para o rio.  Além disso, o Manjar é considerados um dos melhores restaurantes de Belém.
Além da bela paisagem natural dentro de um centro urbano, os visitantes contam com um Mirante com vista privilegiada do por do sol, em uma passarela elevada sobre a vegetação nativa de 100m sobre a várzea, onde propuseram um píer, para a melhor visualização e acomodação das pessoas, não tendo nenhuma barreira natural e artificial.


Foto: Mirante Fonte: http://www.mangalpa.com.br



O projeto do parque procurou realçar a topografia local, adaptando  os acessos com as vias existentes e com o entorno. O projeto de urbanismo, foi de autoria do escritório da arquiteta Rosa Kliass, de São Paulo, onde foi conservado a vegetação predominante, o aningal, e implantadas outras vegetações da flora amazônica, para sua melhor adaptação ao lugar.
Apesar do custo e das criticas inicialmente geradas pelo gasto excessivo, o Mangal das Garças trouxe um retorno tanto econômico, pelo numero de turistas que atraem para a região juntamente com outros parques e pontos turísticos, como também pode ser associado às questões ambientais, pois é uma  região com diversidade de fauna e flora.
Muito além da beleza estética que trás para a cidade, os parques verdes criam um equilíbrio entre o meio ambiente e o meio urbano, resgata a tranquilidade da natureza e retira o estresse dos grandes centros urbanos. Possui também a função de condicionante climático e atenuante de ruídos, reduzindo a poluição atmosférica. A paisagem formada pelos parques urbanos é percebida pelas pessoas como harmônica, atrativa, conveniente, proporcionando a integração com o espaço e gerando lazer.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PONTE, Juliano Pamplona Ximenes. Cidade e água: Belém/PA e estratégias de reapropriação das margens pluviais. Belém/PA/ 2007.
FIGUEIREDO, Silvio L., BAHIA, Mirleide C. e CABRAL, Patricia Thatyane M. Lazer, esportes e Turismo: Importância uso das áreas verdes urbanas em Belém/PA/2011.
Lamas, J.M.R.G. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1993.
MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2003.
<http://www.mangalpa.com.br> (Acesso em 15/01/2014)
<http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=281775> (Acesso em 15/01/14)



 

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