BRUNA MITIKO WATANABE
Acadêmica do curso de Arquitetura
e Urbanismo
Universidade Federal do Tocantins
O
presente artigo retoma o processo histórico de evolução do parques urbanos,
citando os primeiros jardins e parques. A contribuição das áreas verdes para a
cidade e a forma como tenta haver um equilíbrio estético entre as duas. Aprofunda-se no Parque Mangal das Garças,
onde se é apresentado todas as funções para o uso da população local e turistas.
Historicamente, os parques e os jardins
públicos começam a surgir nas cidades europeias, com advento da Revolução
Industrial, onde houve uma radical mudança na relação homem-natureza, através
da criação de parques públicos. A
vegetação assume, a partir de Haussmann em Paris, papel importante no cotidiano
das cidades.
Com a experiência de Paris se
assiste, pela primeira vez na Europa, a uma ação sistemática na construção dos
espaços verdes para a cidade moderna; se concretiza a idéia da cidade verde.
Paris define e experimenta em larga escala o primeiro programa orgânico de
construção do verde urbano, onde boulevards , squares , parques urbanos e
periurbanos constituem a tipologia corrente. (Roditi
1994:25)
Macedo e Sakata (2003, p. 14) definem os parques
urbanos como “todo espaço de uso público, destinado a recreação de massa,
qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e
cuja estrutura morfológica é auto-suficiente.” A massa arbórea e os seus
efeitos positivos no ambiente urbano é o
diferencial do parque para os outros tipos de áreas verdes, como praças e
jardins.
Pode-se perceber que ao longo do tempo a procura
por espaços naturais para a prática de esportes, lazer e turismo vêm
aumentando, principalmente na modernidade onde a população começou a procurar
por mais áreas verdes, para fugir da cidade agitada e conseguir a tranquilidade
do campo.
Os parques, jardins e bosques nos grandes centros
urbanos foi uma forma de trazer a tranquilidade dos campos para a cidade. As
áreas verdes possibilitam esse contato com a natureza, cria espaços de lazer e
convivência e ainda criam sombras e ajudam na salubridade da cidade.
A respeito do verde nas cidades:
Do canteiro à árvore, ao jardim
de bairro ou ao grande parque urbano, as estruturas verdes constituem também
elementos identificáveis na estrutura urbana. Caracterizam a imagem da cidade;
têm individualidade própria; desempenham funções precisas: são elementos de
composição e do desenho urbano, servem para organizar, definir e conter
espaços. Certamente que a estrutura verde não tem a mesma ‘dureza’ ou
permanência que as partes edificadas das cidades. Mas situa-se ao mesmo nível
da hierarquia morfológica e visual. Uma rua sem as suas árvores mudaria
completamente de forma e de imagem; um jardim ou um parque sem a sua vegetação
transformar-se-ia apenas num terreiro... (Lamas 1993:106)
No Brasil, segundo Macedo (1999) os espaços livres
da edificação nas residências brasileiras estruturavam-se de uma forma quase
única de parcelamento do sol, perpendiculares a via publica, de formato regular
e quintais no fundo. Os jardins brasileiros começaram a ganhar força nas
grandes propriedades religiosas (praças criadas em frente à igreja) e aos
quintais de casas, onde se plantavam arvores frutíferas e ervas de cheiro.
Um dos primeiros jardins públicos construídos em
nosso país foi o Passeio Publico do Rio de Janeiro, localizado no centro
histórico do Rio de Janeiro, foi concebido por Valentim da Fonseca e Silva.
Construído em 1783, o Passeio Publico foi um grande ponto de encontro da
sociedade carioca, em seu interior podia-se contemplar varias espécies da flora
nacional, além de obras de arte, chafarizes, esculturas e pirâmides. Depois foi
construído o Jardim Botânico, junto a Lagoa Rodrigo de Freitas. Em meados do
século XX, são projetados e implantados os primeiros grandes parques para lazer
publico. Neste período, foram criados o Parque do Ibirapuera, em São Paulo,
e o Parque do Flamengo, no Rio de
Janeiro.
O Brasil, apesar do seu imenso território e grande
variedade de espécies de fauna e flora, não tem muitos parques urbanos. Além de
todos os benefícios ambientais, as áreas verdes urbanas quebram a monotonia que
os prédios causam nas grandes metrópoles, sendo usados também como pontos de
referência, além de espaços de lazer para a população e também pontos turísticos.
Os benefícios da vegetação na área urbana são
incontáveis, a começar pela transformação da paisagem, purificação do ar,
redução da poluição por meio da oxigenação, mantem a permeabilidade do solo,
abrigo a fauna existente, entre outras.
Em uma visita acadêmica, juntamente com a turma de
Historia da Arquitetura e Urbanismo do Brasil, ministrada pela professora
arquiteta e urbanista Patrícia Orfila, visitamos a cidade de Belém, no Pará,
situado no Norte do Brasil, que passa por uma série de intervenções
territoriais e políticas urbanas e ambientais voltadas para o tratamento das
suas águas e matas aproveitando da sua extensa área de orlas. Também conhecida
como cidades das Mangueiras, Belém possui muitos espaços verdes, como a Praça
Batista Campos, o Jardim Botânico
Bosque Rodrigues Alves e O Parque da Residência.
Além dos citados acima, o Parque ecológico Mangal das Garças, é um
grande exemplo de intervenção urbana, com aproveitamento da vegetação local,
dos animais presentes e da utilização da orla. Além disso proporciona ao
visitante espaços de lazer e contemplação da natureza.
Figura
1 – Mangal das Garças Fonte: http://www.mangalpa.com.br/
Localizado as margens do rio Guamá e próximo ao
entorno do Centro Histórico da cidade, é uma área revitalizada de 40 mil m². A
vegetação predominante, o aningal, foi preservada, contando com outras
trezentas espécies de árvores nativas presentes na região. A transformação foi
cuidadosa. O requisito era o aproveitamento máximo das condições paisagísticas
da área.
De acordo com os arquitetos que atuaram no projeto
(Paulo Chaves Fernandes, Rosário Lima, Aurélio Meira, Mariângela Melo, Sérgio
Neves, Gustavo Leão, Leila Barbosa, Karla Costa), o parque foi feito de forma a
unir a preservação da natureza com o lazer. Assim o espaço pode ser explorado
visualmente, e também de maneira dinâmica, proporcionando ao visitante um
convívio com a natureza. O Mangal das Garças dá continuidade da recuperação dos
edifícios históricos e a reintegração de áreas da orla fluvial, que o arquiteto
Paulo Chaves vem realizando como Secretario da Cultura na cidade de Belém.
Segundo CHAVES, Paulo (2004) o Mangal das Garças é
um parque naturalístico que apresenta as diferentes macrorregiões florísticas
do Estado, ou seja, as matas de terra firme, as matas de várzea e os campos.
Uma natureza recriada que só vai estar pronta daqui a 15 ou 20 anos.
O parque foi orçado em cerca de R$ 15 milhões de
iniciou suas obras em 2001, ficando pronto em 12 de janeiro 2005, quando foi
inaugurado, data em que a cidade completava seus 389 anos de idade.
Em proveito da presença do rio, foi criado um lago
no centro do parque, onde convivem animais de diferentes espécies como as
garças, socós, marrecos, além de cágados e tartarugas. Em torno do lago, foram
traçados caminhos e passeios pavimentados para o visitante contemple todo esse
espaço de perto.
O Mangal das Garças conta com vários atrativos
turísticos como: Farol de Belém, , Viveiro das Aningas ou Viveiro dos Pássaros,
onde o visitante tem contato direto com uma impressionante quantidade de
pássaros, Borboletário, com uma área de 1.400m², Orquidário, Armazém do Tempo e
o Manjar das Garças. Além da grande quantidade
de animais que estão soltos pelo Mangal como aves pernaltas, marrecos, cisnes e
as garças que dão nome ao parque.
Foto: Passarela para caminhada e
contemplação da vegetação predominante, o aningal (Arquivo pessoal, 2013)
Os elementos arquitetônicos foram colocados de
forma ordenada como parte integrante e integradora do parque, não chamando mais
a atenção do que a natureza preservada do lugar. Fazendo com que o construído e
o verde estejam em perfeita harmonia.
O Armazém do Tempo, logo na entrada do parque, é um
antigo galpão de ferro, usado como oficina mecânica no reparo de embarcações,
foi restaurado para abrigar um ambiente alternativo, nele, pode-se comprar CD’
de artistas paraenses, plantas, livros e artesanatos ou somente saborear um café.
O Viveiro das borboletas possui uma vegetação
propicia as espécies, com cascatas e espelhos d’água. Também são produzidas
mensalmente mais de 5 mil borboletas adultas, sendo todos eles catalogados e
estudados. A finalidade é que se volte a estabelecer habitat para esses
animais, que estavam desaparecidos em decorrência da destruição das florestas
perto da capital paraense. Junto ao viveiro, uma torre em estrutura metálica de
47 metros, toda estruturada em aço, abriga o reservatório de água do parque, e
possui dois níveis de observação, 15m e 27m, por escada ou elevador, de onde se
pode ver parte da “cidade das mangueiras”.
Foto: Torre de Observação
(Arquivo pessoal, 2013)
Foto: Animais soltos pelo parque
(Arquivo pessoal, 2013)
O Manjar das Garças, é um salão todo em madeira,
mas com esquadrias de vidro, facilitando a vista de contemplação do visitante
mesmo na hora de comer. O acesso ao restaurante se dá através de rampas que ipê
lavrado, levando também até o mirante para o rio. Além disso, o Manjar é considerados um dos
melhores restaurantes de Belém.
Além da bela paisagem natural dentro de um centro
urbano, os visitantes contam com um Mirante com vista privilegiada do por do
sol, em uma passarela elevada sobre a vegetação nativa de 100m sobre a várzea,
onde propuseram um píer, para a melhor visualização e acomodação das pessoas,
não tendo nenhuma barreira natural e artificial.
Foto: Mirante Fonte: http://www.mangalpa.com.br
O projeto
do parque procurou realçar a topografia local, adaptando os acessos com as vias existentes e com o
entorno. O projeto de urbanismo, foi de autoria do escritório da arquiteta Rosa
Kliass, de São Paulo, onde foi conservado a vegetação predominante, o aningal,
e implantadas outras vegetações da flora amazônica, para sua melhor adaptação
ao lugar.
Apesar do custo e das criticas inicialmente geradas
pelo gasto excessivo, o Mangal das Garças trouxe um retorno tanto econômico,
pelo numero de turistas que atraem para a região juntamente com outros parques
e pontos turísticos, como também pode ser associado às questões ambientais,
pois é uma região com diversidade de
fauna e flora.
Muito além da beleza estética que trás para a
cidade, os parques verdes criam um equilíbrio entre o meio ambiente e o meio
urbano, resgata a tranquilidade da natureza e retira o estresse dos grandes
centros urbanos. Possui também a função de condicionante climático e atenuante
de ruídos, reduzindo a poluição atmosférica. A paisagem formada pelos parques
urbanos é percebida pelas pessoas como harmônica, atrativa, conveniente,
proporcionando a integração com o espaço e gerando lazer.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
PONTE, Juliano Pamplona Ximenes. Cidade e água: Belém/PA e estratégias
de reapropriação das margens pluviais. Belém/PA/ 2007.
FIGUEIREDO, Silvio L., BAHIA,
Mirleide C. e CABRAL, Patricia Thatyane M. Lazer, esportes e Turismo:
Importância uso das áreas verdes urbanas em Belém/PA/2011.
Lamas, J.M.R.G. Morfologia urbana
e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/Junta Nacional de
Investigação Científica e Tecnológica, 1993.
MACEDO,
S. S.; SAKATA, F. G. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2003.
<http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=281775>
(Acesso em 15/01/14)
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