Belém/PA: Diversidade e vitalidade
urbana
Grendha Tavares D’Almeida[1]
Este
trabalho pretende apresentar as percepções acerca da vitalidade e diversidade
da paisagem urbana da cidade de Belém capital do Pará considerando o bairro
Campina (Comércio) e seus edifícios antigos, bem como fazer um contraponto com
a capital tocantinense, Palmas.
Cidades
como Belém, no Pará, fundada há quase 400 anos, apresentam uma configuração
urbana bastante peculiar, em que o contemporâneo e o antigo passeiam juntos, trazendo
várias perspectivas e olhares distintos.
A
herança arquitetônica deixada pelo período colonial e principalmente pela
“Belle Époque”, período compreendido entre o fim do século XIX e início do
século XX, em decorrência da riqueza originada pela economia da borracha, ainda
é muito presente na capital paraense. Os casarões, palacetes, praças, igrejas,
monumentos, entre outros, construídos nessa época, ainda participam como
protagonistas do cenário urbano.
A
região de maior concentração comercial da cidade, conhecida como “ Comércio”
localizado no bairro Campina possui inúmeros exemplares de edifícios desse
período. O bairro abriga várias referências culturais da cidade, como a Praça
da República, o Teatro da Paz, o Bar do Parque, a avenida presidente Vargas
repleta de edifícios comerciais, hotéis, bancos como o da Amazônia, do estado do Pará, do Brasil e Banco Central,
além da agência central dos correios, entre outros.
Apesar
de todo o tráfego hoje existente e de novas construções, os edifícios antigos se
destacam na paisagem urbana. Na grande concentração comercial na região, há
espaço para edifícios residenciais, sendo que inúmeros imóveis são utilizados
como comércio no pavimento térreo e residencial nos pavimentos superiores. Essa
configuração em que elementos distintos compõem a paisagem submete o observador
a uma grata experiência em que não há monotonia, pois contém diversidade.
As
cidades precisam tanto de prédios antigos, que talvez seja impossível obter
ruas e distritos vivos sem eles. Ao falar em prédios antigos, refiro-me não aos
edifícios que sejam peças de museu, nem aos prédios antigos que passaram por
reformas excelentes e dispendiosas – embora esses sejam ótimos ingredientes -,
mas a boa porção
de prédios antigos simples, comuns, de baixo valor, incluindo alguns prédios antigos
deteriorados. (JACOBS, 2000, p. 207).
Em
Belém, a diversidade proporciona vitalidade à cidade. Edifícios de diferentes
estilos e épocas oferecem nuances, cores, texturas distintas à conjuntura
urbana.
Jane Jacobs (2000), em seu
livro Morte e Vida de Grandes Cidades, estabelece o que seriam condições para a
diversidade urbana e consequentemente à vitalidade, entre elas estariam a
necessidade de prédios antigos.
Andar a pé pelo centro da capital paraense se revela
uma grande aventura pela história, apesar de uma constante poluição visual pela
presença de diversas barraquinhas de camelôs
e ambulantes pelas calçadas. É possível encontrar desde prédios
recuperados, revitalizados, a imóveis que perderam seu valor econômico e
cultural devido ao desgaste do tempo e
também pelo desinteresse do poder público.
Em 2011, o IPHAN, tombou vários elementos históricos, arquitetônicos,
urbanísticos e paisagísticos, localizados nos bairros da Cidade Velha e
Campina. Antes desta decisão, o centro histórico de Belém possuía apenas 23
bens tombados em nível federal, com cerca de 800 imóveis protegidos. Com essa
medida, 2,8 mil edificações passaram a estar sob a proteção do governo federal.
O Departamento de Patrimônio, Histórico e
Cultural do Estado (Dphac) e
a própria prefeitura da cidade, através do Departamento
de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), também atuam no sentido de proteger tais imóveis.
Apesar disso, há inúmeros imóveis em verdadeira ruína.
Foto 1 – Rua do bairro Campina (Comércio), Belém/PA . FONTE:
skyscrapercity.com
Para Jacobs (2000), o distrito deve ter
uma boa variação de edifícios com idades diferentes com uma boa porcentagem de
prédios antigos e esta mistura deve ser bem compacta, estimulando o contato
entre as pessoas e fazendo crescer pequenos empreendimentos urbanos;
As combinações de prédios
antigos, e as consequentes combinações de custos de vida e de gostos, são
essenciais para obter diversidade e estabilidade nas áreas residenciais, assim
como a diversidade de empresas. (JACOBS,
2000, p. 215).
O jornal Diário
do Pará noticiou em uma reportagem de 14/04/2011, uma tendência de ocupação de
uso residencial no centro comercial. O
pouco uso residencial, a localização central e o fascínio pelo caráter
histórico têm feito com que cada vez mais, artistas, acadêmicos, fotógrafos,
ocupem o bairro, tornando-o mais humano. Os casarões ganham assim novos usos,
estúdios de fotografia, teatro, espaço para ensaio de banda, etc.
Uma
das coisas mais admiráveis e agradáveis que poder ser vistas ao longo das
calçadas das grandes cidades são as engenhosas adaptações de velhos espaços
para novos usos. A sala de estar do casarão que se transforma em sala de
exposições do artesão, o estabulo que se transforma em casa, o porão que se
transforma em associação de imigrantes, a garagem ou a cervejaria que se
transformam em teatro, o salão de beleza que se transforma em primeiro andar de
um dúplex, o armazém que se transforma em fábrica de comida chinesa, a escola
de dança que se transforma em gráfica, a sapataria que se transforma em igreja
com vidraças pintadas com esmero ( os vitrais dos pobres), o açougue que se
transforma em restaurante – são desse tipo as pequenas transformações que estão
sempre ocorrendo nos distritos em que há vitalidade e que atendem às
necessidades humanas. (JACOBS, 2000, p. 215).
Uma
pesquisa feita pela pesquisadora Ana Priscila Correa da Silva, em 2003, para
avaliar a qualidade de vida no centro histórico de Belém, incluindo o Comércio,
a partir da avaliação de moradores da área concluiu que as pessoas estão
satisfeitas, embora apresentem ressalvas relacionadas à segurança e preservação
do patrimônio histórico.
Podemos concluir dentro da
proposta de avaliar a qualidade de vida no Centro Histórico de Belém, a partir
das expectativas de seus moradores, que a mesma é muito boa. A população
residente está bastante satisfeita de morar na área, avaliando o local como
tranqüilo e bem localizado. Essa localização se dá pelo fato de no CHB existir
um grande pólo de atividades comerciais e de serviço, então além de estarem bem
servidos dessas atividades, os moradores também têm acesso aos transportes
públicos urbanos.
Porém a mesma característica
marcante do CHB de ter uma área comercial e de serviço em potencial, que trazem
referenciais de satisfação, faz também apontar para o principal motivo de
insatisfação dos moradores: a insegurança. Pois, a ausência do uso residencial
propicia uma certa marginalização e falta de segurança pública na área.
Os
resultados apontam para a necessidade de uma política de ordenação do espaço
através da legislação urbanística, legislação de Patrimônio Histórico e de
incentivos ao setor habitacional. Neste sentido, a utilização de estratégias de
articulação com os poderes públicos, otimizando recursos para uma produção
habitacional poderia trazer o uso residencial para a área, juntamente com a
segurança que os moradores tanto almejam, principalmente no bairro da Campina,
onde o uso comercial e de serviço é predominante. (SILVA, 2003, p. 10).
Por outro lado,
em Palmas, no estado do Tocantins, a mais nova capital brasileira, cidade
planejada, fundada em 1989, com características modernistas, percebe-se que a
paisagem urbana se apresenta repetitiva, sem surpresas e monótona. A jovem
cidade não conta com um centro histórico, há apenas alguns poucos edifícios
pela cidade, representantes da época de sua fundação.
Trechos
extensos construídos ao mesmo tempo são por si só próprio incapazes de abrigar
um espectro amplo de diversidade cultural, populacional e de negócios. (JACOBS,
2000, p. 211)
No
centro comercial, construções em geral utilizam uma mesma linguagem. A maioria
dos prédios possui apenas um ou dois pavimentos, seguindo o mesmo padrão
arquitetônico. São verdadeiros “edifícios caixotes” que se multiplicam.
Foto 2 – Comércio na Avenida JK, Palmas/TO . FONTE: FECOMÉRCIO
Quando
se transita pelas avenidas circundantes às quadras residenciais, a monotonia se
acentua. O que mais se vê são os muros das residências. Devido à configuração dessas
quadras, as construções são voltadas ao interior das mesmas. Assim, como em um
condomínio fechado, as quadras se isolam do restante da cidade. Poucas quadras
residenciais tem algum tipo de comércio, normalmente de pequeno porte, como
padarias e mercearias, apenas.
Sendo
assim, o planejamento e a forma de ocupação da cidade, provocaram grandes
vazios urbanos, criando distâncias difíceis de serem vencidas a pé. O próprio
deslocamento entre um ponto comercial e outro, não é tarefa fácil para o
pedestre. Assim, separadas as funções e usos, a cidade se apresenta pouco
convidativa, atraente, tudo muito semelhante. Não há o despertar da
curiosidade, da surpresa.
Dessa
forma, considerando os elementos presentes atualmente e a pouca idade da
capital Tocantinense é questionável a maneira como a cidade de Palmas estará
com o passar dos anos. Será possível apresentar-se atraente e convidativa tal
qual Belém? A harmoniosa relação entre o novo e o antigo é presente na capital
paraense e fruto da preservação da história e da sua própria regeneração.
REFERÊNCIAS
IPHAN. Disponível
em:
<http://portal.iphan.gov.br/montarDetalheConteudo.do;jsessionid=521B5602CD302BB9C81207F89BD5F93A?retorno=detalheNoticia&sigla=Noticia&id=15967 > . Acesso
em 30 de janeiro 2014.
JACOBS, Jane. Morte e Vida de grandes cidades. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
MACHADO, Ismael. Investir bem: Imóveis. Diário do Pará, Belém, p.18, 14 abril
2011.
SILVA, Ana
Priscila Correa da. Qualidade de vida no
Centro Histórico de Belém a partir de seus moradores. Disponível em: < http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf%5Cartigos_revistas%5C99.pdf > Acesso em
28 de janeiro de 2014.
Foto 1- Disponível
em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=558704> Acesso em
25 de janeiro de 2014.
Foto 2 - Disponível
em: <http://www.fecomercioto.com.br/index.php?option=noticias&sub=detalhes&id=1406#.Uu7pvfldXZ4> Acesso em 25
de janeiro de 2014.
[1]
Aluna matriculada na disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo no
Brasil, no curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do
Tocantins (UFT).
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