O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Igreja de Santo Alexandre e Museu de Artes Sacras: A igreja e a harmonia da Feliz Lusitânia



Rômulo Ery Santos Freitas1

"(...) O tempo tem tempo de tempo ser,
o tempo tem tempo de tempo dar,
ao tempo da noite que vai correr,
o tempo do dia que vai chegar (...)."

(Ruy Barata). 2
Após a breve visita à cidade de Belém do Pará, que possui em sua arquitetura e em seu gentílico características bem marcantes e encantadoras, pôde-se aplicar bastante do conhecimento adquirido em sala de aula, pela disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Ao longo de dois dias foram realizadas visitas aos principais pontos históricos, tendo diversos momentos excepcionais. A viagem foi repleta de bons momentos, tanto no quesito interação quanto na aprendizagem, mas entre os momentos mais marcantes da viagem destacaram-se principalmente três: Primeiramente a visita ao Parque da Residência, onde o então secretário de Cultura do estado do Pará, Paulo Chaves Fernandes, ministrou um discurso motivador a todos os acadêmicos; Em seguida a oportunidade de poder observar o ambiente urbano a partir do transporte coletivo, após um rápido desencontro com o resto da turma e a visita à região do Complexo da Feliz Lusitânia, onde aprendeu-se bastante sobre a gênese de Belém.

A igreja de santo Alexandre, parte componente do Complexo Feliz Lusitânia, teve sua construção iniciada ainda no século XVII com auxílio de mão de obra indígena. Juntamente com o colégio de Santo Alexandre, foi sede da Companhia de Jesus até o ano de 1759 e posteriormente tornou-se o Palácio Episcopal.

A igreja conta com o predomínio da arquitetura barroca, herdada a partir do prestígio artístico dominante na época. Está localizada na cidade de Belém do Pará e atualmente integra-se ao Museu de Artes Sacras do Pará (Antigo Colégio Jesuíta de Santo Alexandre), contando com um acervo que contém pinturas, esculturas, pratarias e diversos objetos litúrgicos, somando cerca de 400 peças. O acervo por sua vez é proveniente de antigos objetos utilizados pelos jesuítas nas cerimônias ritualísticas e por doações particulares, destacando-se as peças da coleção do médico paraense Abelardo Santos, que após a reforma da igreja na segunda metade do século XX (cuja se encontrava em estado de abandono), doou suas peças ao museu.

O museu foi profundamente dedicado à arte sacra da região, feitas entre os séculos XVII e XX, além de conter objetos artísticos amazônicos, valorizando-a fortemente como patrimônio histórico e cultural. Foi tombada pelo IPHAN, já na segunda metade do século XX, após a idealização de um projeto que visava revitalizar o centro histórico de Belém.

1. De São Francisco Xavier a Santo Alexandre de Bérgamo

            A arquitetura traz consigo como característica principal o estilo barroco, que ao longo dos anos, após todas as modificações, foi mantido. A igreja possui este nome pelo fato dos padres Jesuítas inicialmente abrigarem no colégio algumas relíquias do mártir Santo Alexandre de Bérgamo, centurião romano que tornou-se santo e mártir do catolicismo. As relíquias foram doadas aos jesuítas pelo Papa Urbano VIII, ainda quando era pontífice, entre os anos de 1623 e 1644. Inicialmente a Igreja era dedicada a São Francisco Xavier, quando concluída em 1719, somente depois foi dedicada a Santo Alexandre de Bérgamo, em virtude das relíquias guardadas no colégio.
Imagens: São Bartolomeu (Esquerda), Santo Alexandre de Bérgamo (Centro), Miguel Arcanjo (Direita) e Santo Jesuíta desconhecido (Acima).
(Foto: IANNINI. Artur Vitor; 2008).

Fonte: Flickr, 2014.

“Este particular sítio, localizado no encontro do Rio Guamá e da Baía de Guajará, ponto de convergência de importantes rotas fluviais, porta de entrada do rio Amazonas, será, entre 1653 e 1760, o palco de onde veremos surgir e florescer um dos mais significativos, belos e originais monumentos do patrimônio jesuítico brasileiro. A Igreja de São Francisco Xavier e o Colégio de Santo Alexandre em Belém, hoje Museu de Arte Sacra do Pará.” (MARTINS, 2009, p. 183).


2. A identidade pelas talhas de Traer

Nas primeiras décadas do século XVIII o padre João Xavier Traer dirigiu uma oficina de esculturas, nesta ocasião ele pode transmitir seus conhecimentos quanto às esculturas aos indígenas. Atribuem-se a Traer vários dos trabalhos esculpidos na igreja, inclusive os dois púlpitos compostos por anjos, entre outros ornamentos.
 Púlpito da Igreja de Santo Alexandre (À esquerda)

(Foto: IANNINI. Artur Vitor; 2008).

Fonte: Flickr, 2014.

“Do mesmo estilo dos púlpitos são os anjos tocheiros esculpidos em madeira para a mesma igreja, provavelmente confeccionados por um indígena sob a direção de Traer. Sobre eles, o Jesuíta João Daniel – Considerado por Serafim Leite o principal cronista em atividade durante o século XVII, nas missões do Pará escreveu: ‘No Colégio dos Padres da Companhia, na cidade do Pará, estão uns dois grandes anjos por tocheiros, com tal perfeição, que servem de admiração aos Europeus, e são a primeira obra que fez um Índio daquele ofício; e se a primeira saiu de tão primor, que obras primas não faria depois de dar anos ao ofício? ’”. (HERNÁNDEZ; OLIVEIRA, 2001, p. 521)

[Tradução, do espanhol: Rômulo Ery].



3. Da forma à estética
Dentre os elementos arquitetônicos cabe destacar: a fachada da igreja, que contém quatro andares de altura, duas volutas que se unem ao topo e um frontão na parte superior da fachada. Sabe-se que originalmente o frontão era complementado por algumas imagens de santos jesuítas, que foram perdidas com o tempo. As pilastras da fachada trazem algumas decorações em alto relevo, proporcionando efeitos visuais que encantam a todos os visitantes.
 
Igreja e Colégio de Santo Alexandre
(Foto: IANNINI. Artur Vitor; 2008).
Fonte: Flickr, 2014.

Quanto ao interior da igreja, observa-se a presença de uma nave única que possui um transepto e quatro capelas laterais, uma de cada lado, cobertas por abóbadas. Próxima à capela-mór encontra-se uma sacristia, onde eram guardados os objetos litúrgicos utilizados nas missas, além das vestimentas clericais.

“Depois de 1759, a maioria desses monumentos arruinou-se por negligência ou foi convertida para outros usos, o que com o transcorrer do tempo significou também, com frequência, sua destruição, mutilação ou alteração por reconstruções.” (BURY, 2006, p. 68).


4. Antonio Giuseppe Landi

            Landi, famoso arquiteto italiano, nascido em Bolonha no ano de 1713, teve importante papel na região amazônica. Quanto à sua atuação na Igreja de Santo Alexandre destaca-se a decoração da capela maior, realizada em 1756, considerada uma de suas primeiras obras na cidade. Destaca-se também a obra de adaptação da ala nordeste do colégio, em um armazém de armas e munições, obra que durou cerca de dois anos, de 1760 a meados de 1762, atualmente o local é utilizado como sala de exposições.

“Landi, conhecido pelos seus numerosos projetos executados em Belém do Pará, teria realizado duas intervenções no complexo dos jesuítas em Belém: a decoração do forro da capela-mor da Igreja de São Francisco Xavier em 1756, e a edificação do ‘Armazém das Armas’, não mais existente, adaptado no piso térreo do colégio.” (MARTINS, 2009, p. 378).

 Todas as suas obras trazem consigo as características da arquitetura italiana, comum à sua formação acadêmica. A importância do conhecimento arquitetônico de Landi está relacionada à sua sensibilidade em ter percebido as condições climáticas da região amazônica, proporcionando a ele a construção de outros edifícios e monumentos. Grande parte de suas obras são transposições de projetos arquitetônicos europeus adaptados às condições climáticas da região.

“Com a expulsão dos jesuítas em 1760, a fachada principal do colégio foi reformulada, e o prédio passou a ser morada do bispo. O projeto foi executado pelo arquiteto Antonio Giuseppe Landi que, sob a inspiração do Iluminismo pombalino, fez abrir várias janelas na fachada do colégio.” (MIRANDA, 2003, p. 62).


5. A harmonia do entorno: Complexo Feliz Lusitânia

“O nome ‘Feliz Lusitânia’ foi dado pelos colonizadores portugueses ao núcleo inicial de Belém em 1616; compreendia o Forte do Presépio – construído em estrutura de madeira e coberto em palha – e a ermida erigida dentro dele em invocação à Nossa Senhora da Graça. Nos primeiros tempos foram construídas igrejas em taipa de pilão que não resistiram ao tempo, sendo reconstruídas no século XVIII.” (MIRANDA, 2003, p. 61).

Atualmente o nome é utilizado para denominar o complexo turístico e histórico que abriga o Museu de Artes Sacras do Pará (Igreja e colégio de Santo Alexandre), o Forte do Castelo, a Catedral da Sé, a Casa das Onze Janelas e a Praça Frei Caetano Brandão. A ideia do nome surgiu por conta antiga referencia dada ao local, reforçando o caráter de origem da cidade.


5.1. Praça Frei Caetano Brandão      

À frente do museu encontra-se a Praça Frei Caetano Brandão, que além de rodeada pela Igreja de Santo Alexandre e pelo Museu de Artes Sacras, também é rodeada pela Catedral Metropolitana da Sé, pelo Forte do Castelo e pela Casa das onze janelas, ambos importantes pontos de referencia desta localização. O local é reconhecido por ser o local de fundação da cidade de Belém do Pará. O nome da praça foi dado em homenagem ao bispo franciscano Caetano Brandão, nascido em Loureiro, Portugal, no ano de 1740, eleito como bispo da cidade de Belém do Pará no ano de 1782.

Monumento a Frei Caetano Brandão
(Foto: Rômulo Ery, 2013).



5.2. Catedral Metropolitana de Belém (Catedral da Sé)

            Construída no século XVIII, a partir de um dos projetos de Landi a Belém, conta com o estilo Barroco/rococó em sua estrutura e sua decoração. Atualmente é a sede da Arquidiocese de Belém.  Suas obras foram concluídas por volta de 1782. A catedral é também conhecida na região pela lenda do folclore brasileiro da cobra Norato, uma das mais conhecidas sobre cobra grande (ou cobra boiuna) na região amazônica.

 Catedral da Sé - vista frontal
(Foto: IANNINI. Artur Vitor; 2008).
Fonte: Flickr, 2014.

 5.3. Forte do castelo

            Está situado à direita da fachada da Igreja de Santo Alexandre e à esquerda da fachada da Casa das Onze Janelas, por vezes é referido como Forte do Presépio. Sua construção foi concluída nas primeiras décadas do século XVII, em meados de 1616. O forte foi construído com o objetivo de proteção do Antigo povoado de Nossa Senhora de Belém, tanto por conta dos possíveis ataques indígenas como dos Navios Corsários Ingleses e Neerlandeses. Inicialmente era denominado como Forte do Presépio de Belém, mas na primeira metade do século XIX passou a chamar-se Castelo de São Jorge, ou como é popularmente conhecido, Forte do Castelo. 



“Somente no século XIX irrompeu a revolta chamada Cabanada. Tratava-se de um movimento civil contra a elite portuguesa. O forte serviu de aquartelamento para os revoltosos (1835-1840). Durante a troca de tiros com a armada do inglês John Taylor, contratado pela regência para dar fim à insurreição, a estrutura do forte ficou abalada, necessitando realizar restaurações, entre outras já ocorridas.” (TEIXEIRA, 2010, p. 46).

Atualmente a localização conta parte da história da colonização portuguesa no Brasil. O forte já passou por várias modificações, resultando no desconhecimento de suas características originais. “Mais tarde foi usado como hospital militar, arsenal de guerra, círculo militar e, atualmente, é um dos pontos mais importantes do polo turístico da cidade de Belém, atraindo diariamente um grande número de visitantes.” (TEIXEIRA, 2010, p. 46).
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BURY. John. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial/ John Bury; organizadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. – Brasília, DF, Brasil: IPHAN/ MONUMENTA, 2006.


HERNÁNDEZ. Mariela Brazón; OLIVEIRA. Myriam Andrade Ribeiro de. La epopeya jesuitica en el Amazonas brasilero y sus imágenes. III Congreso Internacional de Barroco Ibero-Americano. Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2001. Sevilha, Espanha. 2001.

IANNINI. Antonio Vitor. Flickr, 2008/2009. Fotos Disponíveis em <http://www.flickr.com/photos/arturiannini/sets/>. Acesso em 20/01/2014.

MARTINS. Renata Maria de Almeida. Tintas da terra, tintas do reino: arquitetura e arte nas Missões Jesuíticas do Grão-Pará (1653-1759). 2 v. São Paulo, SP, Brasil. 2009.

MIRANDA.Cybelle Salvador. Cidade Velha e Feliz Lusitânia: cenários do Patrimônio Cultural em Belém/ Cybelle Salvador Miranda; orientadora, Jane Felipe Beltrão. Belém, PA, Brasil. 2006.

TEIXEIRA, Paulo Roberto Rodrigues. "Forte do Presépio”. FUNCEB (Fundação Cultural Exército Brasileiro), Revista DaCultura. Ano X, nº 17. Brasília, DF, Brasil. 2010.

1 – Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Estudante da disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo do Brasil (HAUB), no período vigente 2013/2.
2 - Trecho de “Pauapixuna”, música composta por Ruy Guilherme Paranatinga Barata e seu filho Paulo André Barata, artistas locais do Pará.


 

2 comentários:

  1. trabalhei na igreja de santo alenxadre de segurança por dois anos e meio e foi umas das esperiençias mas encrives que eu ja tive por saber das hestorias da igreja e do nosso PARA e que sao bastante enteresantes e que poucas pessoas sabem mas que deverian descobrias mas sobre o nosso ESTADO

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  2. ainda não tive o privilégio de conhecer esse monumento da história de Belém.

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