Rômulo Ery Santos Freitas1
"(...) O tempo tem tempo de tempo ser,
o tempo tem tempo de tempo dar,
ao tempo da noite que vai correr,
o tempo do dia que vai chegar (...)."
o tempo tem tempo de tempo dar,
ao tempo da noite que vai correr,
o tempo do dia que vai chegar (...)."
(Ruy Barata). 2
Após a breve visita à cidade de Belém do
Pará, que possui em sua arquitetura e em seu gentílico características bem
marcantes e encantadoras, pôde-se aplicar bastante do conhecimento adquirido em
sala de aula, pela disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo do Brasil.
Ao longo de dois dias foram realizadas visitas aos principais pontos
históricos, tendo diversos momentos excepcionais. A viagem foi repleta de bons
momentos, tanto no quesito interação quanto na aprendizagem, mas entre os
momentos mais marcantes da viagem destacaram-se principalmente três: Primeiramente
a visita ao Parque da Residência, onde o então secretário de Cultura do estado
do Pará, Paulo Chaves Fernandes, ministrou um discurso motivador a todos os
acadêmicos; Em seguida a oportunidade de poder observar o ambiente urbano a
partir do transporte coletivo, após um rápido desencontro com o resto da turma
e a visita à região do Complexo da Feliz Lusitânia, onde aprendeu-se bastante
sobre a gênese de Belém.
A igreja de santo Alexandre, parte
componente do Complexo Feliz Lusitânia, teve sua construção iniciada ainda no século
XVII com auxílio de mão de obra indígena. Juntamente com o colégio de Santo
Alexandre, foi sede da Companhia de Jesus até o ano de 1759 e posteriormente
tornou-se o Palácio Episcopal.
A igreja conta com o predomínio da
arquitetura barroca, herdada a partir do prestígio artístico dominante na
época. Está localizada na cidade de Belém do Pará e atualmente integra-se ao
Museu de Artes Sacras do Pará (Antigo Colégio Jesuíta de Santo Alexandre),
contando com um acervo que contém pinturas, esculturas, pratarias e diversos
objetos litúrgicos, somando cerca de 400 peças. O acervo por sua vez é
proveniente de antigos objetos utilizados pelos jesuítas nas cerimônias
ritualísticas e por doações particulares, destacando-se as peças da coleção do
médico paraense Abelardo Santos, que após a reforma da igreja na segunda metade
do século XX (cuja se encontrava em estado de abandono), doou suas peças ao
museu.
O museu foi profundamente dedicado à
arte sacra da região, feitas entre os séculos XVII e XX, além de conter objetos
artísticos amazônicos, valorizando-a fortemente como patrimônio histórico e cultural.
Foi tombada pelo IPHAN, já na segunda metade do século XX, após a idealização
de um projeto que visava revitalizar o centro histórico de Belém.
1. De São
Francisco Xavier a Santo Alexandre de Bérgamo
A
arquitetura traz consigo como característica principal o estilo barroco, que ao
longo dos anos, após todas as modificações, foi mantido. A igreja possui este
nome pelo fato dos padres Jesuítas inicialmente abrigarem no colégio algumas
relíquias do mártir Santo Alexandre de Bérgamo, centurião romano que tornou-se
santo e mártir do catolicismo. As relíquias foram doadas aos jesuítas pelo Papa
Urbano VIII, ainda quando era pontífice, entre os anos de 1623 e 1644.
Inicialmente a Igreja era dedicada a São Francisco Xavier, quando concluída em
1719, somente depois foi dedicada a Santo Alexandre de Bérgamo, em virtude das
relíquias guardadas no colégio.
Imagens: São Bartolomeu
(Esquerda), Santo Alexandre de Bérgamo (Centro), Miguel Arcanjo (Direita) e
Santo Jesuíta desconhecido (Acima).
(Foto: IANNINI. Artur Vitor; 2008).
Fonte: Flickr, 2014.
“Este particular sítio, localizado no encontro do
Rio Guamá e da Baía de Guajará, ponto de convergência de importantes rotas
fluviais, porta de entrada do rio Amazonas, será, entre 1653 e 1760, o palco de
onde veremos surgir e florescer um dos mais significativos, belos e originais
monumentos do patrimônio jesuítico brasileiro. A Igreja de São Francisco Xavier
e o Colégio de Santo Alexandre em Belém, hoje Museu de Arte Sacra do Pará.”
(MARTINS, 2009, p. 183).
2. A identidade
pelas talhas de Traer
Nas primeiras décadas do século XVIII o
padre João Xavier Traer dirigiu uma oficina de esculturas, nesta ocasião ele
pode transmitir seus conhecimentos quanto às esculturas aos indígenas. Atribuem-se
a Traer vários dos trabalhos esculpidos na igreja, inclusive os dois púlpitos
compostos por anjos, entre outros ornamentos.
Púlpito da Igreja de Santo Alexandre (À esquerda)
(Foto: IANNINI. Artur Vitor;
2008).
Fonte: Flickr, 2014.
“Do mesmo estilo dos púlpitos são os anjos tocheiros esculpidos em
madeira para a mesma igreja, provavelmente confeccionados por um indígena sob a
direção de Traer. Sobre eles, o Jesuíta João Daniel – Considerado por Serafim
Leite o principal cronista em atividade durante o século XVII, nas missões do
Pará escreveu: ‘No Colégio dos Padres da Companhia, na cidade do Pará, estão
uns dois grandes anjos por tocheiros, com tal perfeição, que servem de
admiração aos Europeus, e são a primeira obra que fez um Índio daquele ofício;
e se a primeira saiu de tão primor, que obras primas não faria depois de dar
anos ao ofício? ’”. (HERNÁNDEZ; OLIVEIRA, 2001, p. 521)
[Tradução, do espanhol: Rômulo Ery].
3. Da forma à estética
Dentre os elementos arquitetônicos cabe
destacar: a fachada da igreja, que contém quatro andares de altura, duas
volutas que se unem ao topo e um frontão na parte superior da fachada. Sabe-se
que originalmente o frontão era complementado por algumas imagens de santos
jesuítas, que foram perdidas com o tempo. As pilastras da fachada trazem
algumas decorações em alto relevo, proporcionando efeitos visuais que encantam
a todos os visitantes.
Igreja e Colégio de Santo Alexandre
(Foto: IANNINI. Artur Vitor;
2008).
Fonte: Flickr, 2014.
Quanto ao interior da igreja, observa-se
a presença de uma nave única que possui um transepto e quatro capelas laterais,
uma de cada lado, cobertas por abóbadas. Próxima à capela-mór encontra-se uma
sacristia, onde eram guardados os objetos litúrgicos utilizados nas missas,
além das vestimentas clericais.
“Depois de 1759, a maioria desses monumentos arruinou-se
por negligência ou foi convertida para outros usos, o que com o transcorrer do
tempo significou também, com frequência, sua destruição, mutilação ou alteração
por reconstruções.” (BURY, 2006, p. 68).
4. Antonio
Giuseppe Landi
Landi,
famoso arquiteto italiano, nascido em Bolonha no ano de 1713, teve importante
papel na região amazônica. Quanto à sua atuação na Igreja de Santo Alexandre
destaca-se a decoração da capela maior, realizada em 1756, considerada uma de
suas primeiras obras na cidade. Destaca-se também a obra de adaptação da ala
nordeste do colégio, em um armazém de armas e munições, obra que durou cerca de
dois anos, de 1760 a meados de 1762, atualmente o local é utilizado como sala
de exposições.
“Landi, conhecido pelos seus numerosos projetos
executados em Belém do Pará, teria realizado duas intervenções no complexo dos
jesuítas em Belém: a decoração do forro da capela-mor da Igreja de São
Francisco Xavier em 1756, e a edificação do ‘Armazém das Armas’, não mais
existente, adaptado no piso térreo do colégio.” (MARTINS, 2009, p. 378).
Todas as suas obras trazem consigo as
características da arquitetura italiana, comum à sua formação acadêmica. A
importância do conhecimento arquitetônico de Landi está relacionada à sua
sensibilidade em ter percebido as condições climáticas da região amazônica,
proporcionando a ele a construção de outros edifícios e monumentos. Grande
parte de suas obras são transposições de projetos arquitetônicos europeus
adaptados às condições climáticas da região.
“Com a expulsão dos jesuítas em 1760, a
fachada principal do colégio foi reformulada, e o prédio passou a ser morada do
bispo. O projeto foi executado pelo arquiteto Antonio Giuseppe Landi que, sob a
inspiração do Iluminismo pombalino, fez abrir várias janelas na fachada do
colégio.” (MIRANDA, 2003, p. 62).
5. A harmonia do
entorno: Complexo Feliz Lusitânia
“O nome ‘Feliz Lusitânia’ foi dado pelos
colonizadores portugueses ao núcleo inicial de Belém em 1616; compreendia o
Forte do Presépio – construído em estrutura de madeira e coberto em palha – e a
ermida erigida dentro dele em invocação à Nossa Senhora da Graça. Nos primeiros
tempos foram construídas igrejas em taipa de pilão que não resistiram ao tempo,
sendo reconstruídas no século XVIII.” (MIRANDA, 2003, p. 61).
Atualmente o nome é utilizado para
denominar o complexo turístico e histórico que abriga o Museu de Artes Sacras
do Pará (Igreja e colégio de Santo Alexandre), o Forte do Castelo, a Catedral
da Sé, a Casa das Onze Janelas e a Praça Frei Caetano Brandão. A ideia do nome
surgiu por conta antiga referencia dada ao local, reforçando o caráter de
origem da cidade.
5.1. Praça Frei Caetano Brandão
À frente do museu encontra-se a Praça
Frei Caetano Brandão, que além de rodeada pela Igreja de Santo Alexandre e pelo
Museu de Artes Sacras, também é rodeada pela Catedral Metropolitana da Sé, pelo
Forte do Castelo e pela Casa das onze janelas, ambos importantes pontos de referencia
desta localização. O local é reconhecido por ser o local de fundação da cidade
de Belém do Pará. O nome da praça foi dado em homenagem ao bispo franciscano Caetano
Brandão, nascido em Loureiro, Portugal, no ano de 1740, eleito como bispo da
cidade de Belém do Pará no ano de 1782.
Monumento a Frei
Caetano Brandão
(Foto: Rômulo
Ery, 2013).
5.2. Catedral Metropolitana de Belém (Catedral da
Sé)
Construída
no século XVIII, a partir de um dos projetos de Landi a Belém, conta com o estilo
Barroco/rococó em sua estrutura e sua decoração. Atualmente é a sede da
Arquidiocese de Belém. Suas obras foram
concluídas por volta de 1782. A catedral é também conhecida na região pela
lenda do folclore brasileiro da cobra Norato, uma
das mais conhecidas sobre cobra grande (ou cobra boiuna) na região amazônica.
Catedral da Sé - vista frontal
Fonte: Flickr, 2014.
5.3. Forte do
castelo
Está
situado à direita da fachada da Igreja de Santo Alexandre e à esquerda da
fachada da Casa das Onze Janelas, por vezes é referido como Forte do Presépio.
Sua construção foi concluída nas primeiras décadas do século XVII, em meados de
1616. O forte foi construído com o objetivo de proteção do Antigo povoado de
Nossa Senhora de Belém, tanto por conta dos possíveis ataques indígenas como
dos Navios Corsários Ingleses e Neerlandeses. Inicialmente era denominado como
Forte do Presépio de Belém, mas na primeira metade do século XIX passou a
chamar-se Castelo de São Jorge, ou como é popularmente conhecido, Forte do
Castelo.
“Somente no século XIX irrompeu a revolta chamada Cabanada. Tratava-se
de um movimento civil contra a elite portuguesa. O forte serviu de
aquartelamento para os revoltosos (1835-1840). Durante a troca de tiros com a
armada do inglês John Taylor, contratado pela regência para dar fim à
insurreição, a estrutura do forte ficou abalada, necessitando realizar
restaurações, entre outras já ocorridas.” (TEIXEIRA, 2010, p. 46).
Atualmente a localização conta parte da
história da colonização portuguesa no Brasil. O forte já passou por várias
modificações, resultando no desconhecimento de suas características originais.
“Mais tarde foi usado como hospital
militar, arsenal de guerra, círculo militar e, atualmente, é um dos pontos mais
importantes do polo turístico da cidade de Belém, atraindo diariamente um
grande número de visitantes.” (TEIXEIRA, 2010, p. 46).
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BURY. John. Arquitetura e Arte no Brasil
Colonial/ John Bury; organizadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. –
Brasília, DF, Brasil: IPHAN/ MONUMENTA, 2006.
HERNÁNDEZ. Mariela Brazón; OLIVEIRA.
Myriam Andrade Ribeiro de. La epopeya jesuitica en el Amazonas brasilero y
sus imágenes. III Congreso Internacional de Barroco Ibero-Americano.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2001. Sevilha, Espanha.
2001.
IANNINI. Antonio Vitor. Flickr, 2008/2009. Fotos Disponíveis em <http://www.flickr.com/photos/arturiannini/sets/>. Acesso em 20/01/2014.
MARTINS. Renata Maria de Almeida. Tintas da terra, tintas do reino: arquitetura e arte nas Missões Jesuíticas do Grão-Pará (1653-1759). 2 v. São Paulo, SP, Brasil. 2009.
MIRANDA.Cybelle Salvador. Cidade Velha e Feliz Lusitânia: cenários do Patrimônio Cultural em Belém/ Cybelle Salvador Miranda; orientadora, Jane Felipe Beltrão. Belém, PA, Brasil. 2006.
TEIXEIRA, Paulo Roberto Rodrigues. "Forte do Presépio”. FUNCEB (Fundação Cultural Exército Brasileiro), Revista DaCultura. Ano X, nº 17. Brasília, DF, Brasil. 2010.
IANNINI. Antonio Vitor. Flickr, 2008/2009. Fotos Disponíveis em <http://www.flickr.com/photos/arturiannini/sets/>. Acesso em 20/01/2014.
MARTINS. Renata Maria de Almeida. Tintas da terra, tintas do reino: arquitetura e arte nas Missões Jesuíticas do Grão-Pará (1653-1759). 2 v. São Paulo, SP, Brasil. 2009.
MIRANDA.Cybelle Salvador. Cidade Velha e Feliz Lusitânia: cenários do Patrimônio Cultural em Belém/ Cybelle Salvador Miranda; orientadora, Jane Felipe Beltrão. Belém, PA, Brasil. 2006.
TEIXEIRA, Paulo Roberto Rodrigues. "Forte do Presépio”. FUNCEB (Fundação Cultural Exército Brasileiro), Revista DaCultura. Ano X, nº 17. Brasília, DF, Brasil. 2010.
trabalhei na igreja de santo alenxadre de segurança por dois anos e meio e foi umas das esperiençias mas encrives que eu ja tive por saber das hestorias da igreja e do nosso PARA e que sao bastante enteresantes e que poucas pessoas sabem mas que deverian descobrias mas sobre o nosso ESTADO
ResponderExcluirainda não tive o privilégio de conhecer esse monumento da história de Belém.
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