O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

sábado, 1 de fevereiro de 2014


Basílica de Nazaré, um exemplo da Arquitetura Neoclássica na cidade de Belém
                                                                                                 Jéssica Cabral da Silva
            
              Percorrendo a história da Arquitetura de Belém tive impressões que não esperava, pois como aluna de Arquitetura e Urbanismo, não pude imaginar que por trás de uma cidade tão perigosa e sem saneamento básico para com a maioria de sua população pudesse guardar tantas riquezas históricas de sua Arquitetura.
            Logo ao chegar, um dos primeiros locais que estavam agendados no roteiro foi a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, uma igreja que fica a poucos quilômetros do Hostel em que o grupo ficou hospedado. Fomos até lá andando a pé, já conhecendo um pouco da Arquitetura do bairro de Nazaré, que reúne valiosas construções históricas representando o ciclo da borracha (a partir da segunda metade do século XIX), além de prédios comerciais e residenciais.

                                     Figura 1 - Fachada da Basílica de Nazaré
                                     Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.

               No entanto, antes de falar um pouco a respeito da mesma, deve-se voltar ao contexto histórico do Ciclo da Borracha. Foi um momento importante na história do Brasil, principalmente na região Amazônica (cidades como Belém, Manaus e Porto-Velho), onde proporcionou não apenas um crescimento destas cidade, mas também uma expansão de sua colonização, riquezas, além das grandes transformações culturais e sociais que aquela região obteve. O Ciclo da Borracha foi relacionado com a extração de látex e sua comercialização, e durante ele, Belém foi considerada uma das cidades brasileiras mais desenvolvidas, onde sua manufatura da borracha teve papel destacado.

"De 1870 a 1910, considera-se o maior surto econômico já verificado na região, tendo-se como principal indicador o crescente aumento da produção da borracha, criando-se até a expressão "rubber reclaiming industry". Em 1871 o presidente da Província do Pará, Abel Graça, em sua mensagem à Assembleia Legislativa Provincial, anunciou o primeiro lugar da borracha na pauta de exportação: 4.890.089 quilos contra os 3.381.246 de cacau. Neste período, a borracha constituiu-se no principal produto voltado para o comércio internacional, desta forma carreando recursos e, consequentemente, permitindo um surto econômico vigoroso na região." (SARGES, 2010, p. 96)

            Visto a importância deste período, tem-se a ideia de que toda essa economia influenciou também na arquitetura da região Amazônica, e mais precisamente na cidade de Belém.
            Segundo o site da Basílica de Nazaré (2010), ela foi erguida em 1852 no mesmo lugar em que foi encontrada a imagem da Santa pelo Caboclo Plácido. No entanto, em 1884 a igreja passou a ser considerada pequena  para receber os romeiros que vinham de várias cidades do estado para a festa patronal (o conhecido Círio de Nazaré), além de também o próprio crescimento da cidade ter mudado significativamente por razão do Ciclo da Borracha, não conseguindo mais receber tantos fiéis dentro da igreja. Com isso, no passar do tempo, os Barnabitas viram a necessidade não apenas de uma reforma mas sim de uma nova construção da Basílica. Em 1905 a Paróquia de Nazaré foi entregue aos padres Barbanistas, no qual o Arcebispo de Belém, na época Dom Santino Maria Coutinho, deu-lhes a missão de conservar e aumentar a Paróquia Nazarena, passando assim a se tornar Basílica posteriormente. Logo, em 1908 após ter-se feito um grande regime econômico cortando gastos e abusos em nome da santa, economizou-se uma quantia de 100 contos, um valor que naquele período era considerado suficiente para arcar com as despesas da reforma.

"A comunidade dos Barnabitas em Belém, recebia o Visitador Geral da Ordem, Pe. Luigi Zoia, que inspecionava a Província Brasileira. Zoia era grande conhecedor de artes e se entusiasmou com a ideia, sugerindo levantar uma nova matriz ao lado da antiga, fazendo uma reprodução aproximada da Basílica romana de São Paulo." (BASÍLICA DE NAZARÉ, 2010)

            Sendo assim, conforme estudado nas aulas de História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, ministradas pela professora Patrícia Orfila na Universidade Federal do Tocantins, viu-se que naquele período era bastante comum que os arquitetos contratados para fazerem projetos de residências familiares, igrejas, casarões, palácios entre outras obras, fizessem uma réplica de construções históricas que lhes eram consideradas como uma referência plástica e estética naquele momento. Logo, estas pessoas que contratavam os arquitetos, e os próprios projetistas acabaram sendo muito influenciados pela arquitetura europeia, e no caso da Basílica de Nazaré os Barbanitas queriam uma igreja similar a Basílica de São Paulo Extramuros, que é a segunda maior Basílica católica de Roma, e faz parte também das quatro basílicas patriarcais, todas localizadas em Roma.

"Embora erguida como cópia do modelo romano, a basílica adaptou a decoração interna do original, que possui medalhões com os papas em ordem de sucessão no papado e cenas com a figura de Cristo. Na igreja paraense a decoração exalta a Virgem Maria e outras mulheres da liturgia cristã." (DERENJI, 2009, p. 163)

            Conforme o site da Basílica de Nazaré, (2010), visto essa influência, em 24 de outubro de 1909 os Barbanistas deram início a execução do projeto colocando sua pedra fundamental, que foi realizado em Gênova, pelo arquiteto italiano Gino Coppedè e pelo engenheiro Giuseppe Predasso. Foi neste período que o poeta maranhense Euclides Faria compôs o hino de 12 estrofes “Vós sois o lírio mimoso” que se tornou o canto oficial da Padroeira e do Círio de Nazaré.
            A Basílica possui um estilo neoclássico, que teve uma grande influência da arquitetura europeia, e que buscou inspiração nos edifícios antigos, em especial no modelo do templo grego. O neoclassicismo se caracterizou por dar ênfase no racionalismo, no equilíbrio, na ordem, na moderação e na economia, e teve como inspiração o legado cultural da antiguidade clássica, conforme dito anteriormente.
            Com isso, o neoclássico aconteceu em duas versões; o neoclássico oficial que era todo feito de importações, e o neoclássico provinciano, que era feito por escravos. No entanto, o neoclássico oficial se concretizou nos maiores centros, como Rio de Janeiro, Belém e Recife, que naquele período eram uma das cidades que mais se desenvolviam, além de que tiveram também um contato direto com a Europa, desenvolvendo assim um nível mais robusto de arte e arquitetura durante todo aquele período.
            Derenji, J. S. e Derenji, J.  (2009), dizem que a planta da basílica se dá em forma de cruz latina, possuindo cinco naves divididas em trinta e seis colunas de granito italiano, a cada lado da nave se abrem capelas com estátuas, totalizando em quinze estátuas de mármore. Há também cinquenta e três vitrais franceses, além de sessenta e cinco ilustrações em mosaico italiano. A decoração do forro da nave central tem uma delicada ornamentação de estilo bizantino, com candelabros e luminárias pendentes. Três grandiosas portas de bronze também fazem parte do cenário, roubando a atenção de quem quer que esteja pela sua riqueza de detalhes esculpidas em cada uma.

                                         Figura 2- Vitrais no interior da Basílica
                                         Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.

               Com todos estes detalhes, se vê que o interior da Basílica consegue remeter uma sensação de grandiosidade, pois quem está de fora não imagina que em seu interior há tantos outros elementos e decorações minuciosas, cheias de detalhes e de uma exuberante riqueza, que conseguem prender a atenção de qualquer pessoa para cada elemento, desde sua entrada lembrado um pouco da Arquitetura da Basílica de São Paulo Extramuros, indo até ao detalhe piso, do forro, ou das grandiosas portas de bronze, todos tão bem trabalhados e acima de tudo muito bem conservados.  Logo, percebe-se que ao entrar na Basílica cada qual teve uma sensação distinta e diferente dos demais, seu interior consegue transmitir impressões fabulosas, como de paz, tranquilidade, grandeza e também de muita fé.

                                             Figura 3- Detalhe da porta de bronze
                                             Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.

               A fachada da Basílica é composta por duas frases em latim, na frase superior, está escrito "Deiparae Virgini a Nazareth", que em português significa "Virgem de Nazaré Mãe de Deus". Já na frase inferior, está escrito "Salve Regina Mater Misericordiae", que traduzindo a língua portuguesa significa "Salve Rainha Mãe Misericordiosa". Existe também uma terceira frase, acima da porta da nave central, escrita "Domys Dei Et Porta Coeli", que significa "Esta é a casa de Deus e a porta para os céus".
            Ao falar da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré é impossível não mencionar o famoso Círio de Nazaré, que é uma devoção a Nossa Senhora de Nazaré, que se tornou na maior manifestação católica do Brasil, e consequentemente um dos maiores eventos religiosos do mundo. Esta devoção é realizada no Brasil anualmente, no segundo domingo do mês de outubro na cidade de Belém do Pará.
            A procissão sai da Catedral da Sé que fica localizada também em Belém e segue em direção até a praça Santuário de Nazaré, reunindo cerca de dois milhões de fieis em uma caminha de fé pelas ruas da capital do estado, totalizado em cerca de 3,6 km percorridos. A imagem da santa fica exposta por quinze dias para a veneração dos romeiros, período chamado de quadra nazarena.

"No Pará, foi o caboclo Plácido José de Souza quem encontrou, em 1700, às margens do igarapé Murutucú (onde hoje se encontra a Basílica Santuário), uma pequena imagem da Senhora de Nazaré. Após o achado, Plácido teria levado a imagem para a sua choupana e, no outro dia, ela não estaria mais lá. Correu ao local do encontro e lá estava a “Santinha”. O fato teria se repetido várias vezes até a imagem ser enviada ao Palácio do Governo. No local do achado, Plácido construiu uma pequena capela." (CÍRIO DE NAZARÉ, 2013)

            Segundo o site do Círio de Nazaré (2013), em 1792 o Círio foi instituído, pois o Vaticano acabou autorizando a realização da procissão em homenagem à Virgem de Nazaré, em Belém do Pará, onde saíam do Palácio do Governo conforme dito acima, e somente em 1882 que a procissão passou a sair da Catedral da Sé, continuando assim até nos dias atuais.

                                          Figura 4 - Altar-mor da Basílica
                                          Fonte: Jéssica Cabral, dezembro de 2013.

            Desta forma, vendo toda sua história, influencia e grandeza, vale ressaltar que a Basílica de Nazaré é a única Basílica da Amazônia brasileira, exercendo um papel importantíssimo na história de Belém, influenciando muito em sua religião católica. Quem vai a Belém com certeza não pode deixar de visitar esta magnífica Igreja, que é sem dúvida uma das mais belas do estado do Pará e patrimônio histórico de Belém.

Referências Bibliográficas

SARGES, Maria de Nazaré. Belém: Riquezas produzindo a Belle Époque (1870-1912). 3. ed. Belém: Paka-tatu, 2010.

BASÍLICA DE NAZARÉ. História da Basílica. Disponível em: <http://www.basilicadenazare.com.br/pagina/historico_da_basilica>. Acesso em: 20 de janeiro de 2014.

DERENJI, Jussara da Silveira; DERENJI, Jorge. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. Brasília, DF: Iphan / Programa Monumenta, 2009.

CÍRIO DE NAZARÉ. Histórico. Disponível em: <http://www.ciriodenazare.com.br/historico/>. Acesso em: 22 de janeiro de 2014.

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