O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Parque Mangal das Garças: Refletindo a beleza do Pará



Gisele Ramos Martins¹
“As utopias urbanas, que desde o renascimento foram configuradas em estabelecimentos finitos, geométricos, murados e circunscritos, nitidamente separados da natureza ao seu redor, ganham tons de verde.” (ZEIN, 2006, p. 31).
Pode-se com a viagem à Belém conhecer pessoalmente o trabalho do arquiteto Paulo Chaves, o qual já havia sido apresentado a nós acadêmicos, através da Professora Patrícia Orfila, durante as aulas de História da Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Dentre seus trabalhos o que mais me despertou interesse, não somente pela beleza estética, mas por seu conceito, foi o Parque Naturalístico Mangal das Garças.
“O que antes era uma área alagada com extenso aningal transformou-se em mais um belo recanto de Belém. A transformação foi cuidadosa. O pré-requisito era o aproveitamento máximo das condições paisagísticas da área. Representando as diferentes macrorregiões florísticas do Pará: as matas de terra firme, as matas de várzea e os campos, com sua fauna. Com lagos, aves, vegetação típica, equipamentos de lazer, restaurante, vistas espetaculares da cidade e do rio, o Mangal das Garças logo se tornou um dos pontos turísticos mais elogiados de Belém.”
Compreendendo a uma área de 34,7 mil metros quadrados, foi inaugurado em janeiro de 2005 e está localizado às margens do rio Guamá, no centro histórico de Belém.
O Parque possui vários ambientes, podendo, a partir de seu desenho, ser dividido em dois setores bem distintos, o primeiro com a presença maior de edificações conglomeram-se: O Armazém do Tempo, localizado depois do estacionamento e da portaria (na entrada do Mangal das Garças), antigamente este galpão era utilizado como uma oficina para o concerto de embarcações. Hoje ele expõe livros, CDs, artesanato e plantas destinados à venda.
Compondo este primeiro setor há um edifício construído com madeira de ipê e seu telhado revestido por palha. Os pisos internos são constituídos por pedra-sabão. Seu primeiro pavimento compreende um agradável restaurante chamado Manjar das Garças e no térreo dessa edificação está localizado o Memorial Amazônico da Navegação, um local onde o visitante conhece a evolução dos meios de transporte da navegação.

Figura 01 - Mangal das Garças: Mapa do Mangal das Garças em frente à Fonte de Caruanas. Fonte: Gisele Ramos Martins/2013


A partir da praça inicia-se o segundo setor. É na Fonte de Caruanas, uma linda cascata, onde nasce um riacho e os lagos Cavername e Lago da Ponta, dois lagos artificiais, nos quais estão presentes aves pernaltas, marrecas e quelônios.
No borboletário (Reserva José Márcio Ayre) foi criado um sombrite que cobre o local e permite um controle natural da luz externa, abrigando cerca de 600 espécimes, já no orquidário há aproximadamente 360 plantas expostas. Passando pelo Viveiro das Aningas, a sua estrutura metálica sustendo uma tela, permite o visitante interagir com os pássaros ali presentes. Outro espaço maravilhoso que o visitante pode desfrutar é o Farol de Belém, com 47 metros de altura oferece uma visão de 360º da cidade.
            “Caminhos, passarelas e pontes intercaladas por recantos com pérgulas se sucedem, alcançando os vários pontos de interesse [...] O imenso aningal recuperado atingiu 7 m de altura, com folhas de 1,5 m, fechando a vista do rio; em contraponto, uma passarela de madeira, partindo do terraço de acesso ao restaurante, avança sobre o rio e finaliza em um pavilhão elevado, que permite a visão das torres da Feliz Lusitânia.” (ZEIN, 2006, p. 96).



Figura 02 - Mangal das Garças: Interação fauna e flora. Fonte: Gisele Ramos Martins/2013

Segundo o arquiteto Paulo Chaves, o Mangal é o exemplo de como poderia ser a orla de Belém se a cidade não tivesse sofrido, durante décadas, com a cobiça da privatização. Mas ainda é possível fazer outros Mangais, em áreas subutilizadas, com a desapropriação de alguns locais, em parceria com algumas instituições da iniciativa privada, que poderiam ceder áreas para serem transformados em parques, praças, logradouros, integrados com a água, como foi Belém nos seus primórdios.
Sendo um dos seus principais objetivos o de preservar a natureza, o espaço cria um meio de educação ambiental no qual o visitante interage com o meio ambiente, conscientizando a população da importância da fauna e flora da região. O Parque Mangal das Garças não possibilita apenas um lugar de lazer, mas também um ponto turístico que por suas consequências traz benefícios para a economia da cidade.
“Vista do alto não há dúvida. Belém é uma metrópole emoldurada pela floresta. Do chão, em meio à modernidade dos prédios e aridez dos asfaltos, a certeza não é tanta. Ao menos que você esteja no Mangal das Garças, que representa um pedaço de toda a riqueza amazônica em plena cidade, um Oasis para os que valorizam a natureza.” (ORGANIZAÇÃO SOCIAL PARÁ, 2000).

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O idealista Paulo Chaves

Patrícia Castro

Paulo Chaves Fernandes, atual secretário da cultura, no cargo há aproximadamente 20 anos. Vem desempenhando um importante papel na revitalização da Cidade Velha, em sua breve palestra foi possível observar um idealista nato, um sonhador.
“Os sonhos estão nas nuvens, parecem muito distantes, não estão no lugar certo. O que temos que construir são os alicerces para se chegar a eles.”
Paulo Chaves Fernandes.
Estudou arquitetura na UFPA (Universidade Federal do Pará), formou-se na 1° turma, entrando na faculdade no ano do golpe, na década de 60. Saiu em 1964 segundo ele, não queria ser usado pela ditadura ou fazer parte da especulação imobiliária, então foi para o Rio de Janeiro estudar cinema.
Sendo um exímio conhecedor da história de seu Estado, Paulo Chaves vem restaurando importantes obras como a Casa dos governadores, o Palácio dos Governos, o Parque da Residência – local onde nos foi concebido sua palestra -, Teatro da Paz, Mangal das Garças, entre outros*.
Paulo Chaves vê a cidade como uma relíquia que deve ser resguardada, sua memória não deve ser esquecida e é pensando nisso que seu trabalho persiste. Seu objetivo é não deixar que a Belém da sua juventude e que a história da cidade seja esquecida. Em sua entrevista ao jornal local da R7, ele explica a necessidade da população belenense tenha a consciência da preservação ecológica e histórica. Segundo o próprio seu maior motivador e desafio é preservar.
Em entrevista ao Espaço Aberto, Chaves explica o motivo da sua dedicação, a paixão pela cultura, cita que não usa cultura para fazer arquitetura, mas sim da arquitetura pra fazer cultura.
Explica que o Hangar - Centro de Convenções da Amazônia foi criado com o intuito de acomodar convenções internacionais, feiras literárias, Nesse momento ele acusa seu adversário político de usufruir do espaço de forma inadequada. Admite que é rentável, mas acusa a administração de desastrosa. A edificação tem uma área construída de 12.000 m², com salas multiusos e auditórios.
Paulo também comenta as críticas que recebeu ao construir algo tão grandioso, ele apenas explica que fez aquilo que acreditou ser o melhor, que estudou a fundo para criar um espaço único e que acomodasse eventos de grande importância. Usou de elementos construtivos de boa qualidade, sempre visando qualidade x economia.
Seu intuito seria destinar o dinheiro excedente proveniente do Hangar, pois esse é mais rentável, a contribuir para a manutenção de outros espaços culturais, como o Magal e as Docas.
No entanto no momento da visita técnica acontecia a decoração de um casamento no local. Nisso consiste o descontentamento da população, são altos os valores para gozar de uma festa no local, assim somente a elite tem acesso. E o mesmo acontece nas igrejas transformadas em museus, locais onde não acontecem mais celebrações apenas casamentos, batizados e pequenas recepções. Cobrando um valor alto por essas celebrações, como a Igreja de Santo Alexandre.
Politicamente falando, suas obras incrementam o turismo, mas também deixam parte da sociedade incomodada. Claro que quando alguém se dispõe a fazer algo, pode não agradar a todos, assim o atual secretário vem enfrentando duras críticas ao seu trabalho. Com projetos tidos como elitistas, pontuais que não satisfazem o interesse social da cultura local.

 



Estação das Docas. Arquivo Pessoal

A Estação das Docas, um das suas preferidas, localizada na principal Avenida de Belém a Presidente Vargas foi uma revitalização necessária. Construída a mais de 100 anos estava em total situação de abandono.
Com projeto de Paulo Chaves e Rosário Lima tomou como partido o lema “antes adaptar do que intervir”. A arquitetura foi mantida mesmo após a reforma, foram preservados os galpões, em estrutura de ferro inglês original, que receberam paredes de vidro para observar o Rio Guarajá e ainda os guindastes que tornaram se a marca do local(Fabio H., 2011).
O local tombado pelo patrimônio histórico existe uma exposição permanente com relíquias da atividade portuária de Belém e do Forte de São Pedro Nolasco, encontrados durante as escavações da obra. O local ganhou vida e hoje é um dos principais pontos culturais, onde constantemente há apresentações culturais.
No entanto a crítica não deixa escapar o valor desse projeto que girou em torno de 36 milhões (Sepof, 2000),um valor exorbitante se levado em consideração que nosso país é carente de quase tudo saúde, educação e em Belém não é diferente. A insatisfação consiste em ser uma obra financiada pelo poder público, de acordo com o arquiteto Marcel Campos, “Coisas como a Estação e o Hangar, que supostamente são públicos, mas que são explorados pelo privado, poderiam ser financiados pelo privado... se dão lucro, que seja pela iniciativa privada.”
Percebe-se que problema não está na revitalização em si, mas a forma como ela acontece e público para o qual é direcionada. Lendo alguns artigos de jornais locais é possível perceber os problemas de infraestrutura, transporte público e principalmente a violência entendendo assim o motivo para tanta insatisfação.
De acordo com o artigo de Kil Abreu, artistas protestaram contra Paulo Chaves, em 25 de setembro de 2014. Onde o acusaram de “está mais interessado em alimentar o imaginário extemporâneo de uma elite rentista, na belle époque quando Belém era conhecida como “Paris da América”. Pediram por sua saída do comando da secretária e também por maior espaço para discussões de politicas públicas e a criação de editais para descentralizar verbas, fomentar a produção, a circulação e acesso do povo a atividades artísticas.
Em uma entrevista cedida ao Espaço Urbano, Paulo argumenta que sempre trabalha pela cultura. Uma vez que é responsável pela lei de incentivo artístico (Semear); criação de uma orquestra sinfônica, que atende crianças; a criação de 5 museus; o Mangal, visto como belo exemplo de preservação ecológica; fez o maior número de publicações na história da secretaria de edições de CDs, DVDs e acervo bibliográfico.
A lei incentivo ao artista, o Projeto de Incentivo Cultural (Semear), consiste em selecionar propostas nas áreas de linguagem visual; imóveis de relevante interesse artístico e cultural; literatura, acervo bibliográfico, bibliotecas e museus para receberem um Certificado de Habilitação onde patrocinadores financiem até 80% do projeto, sob forma de renúncia fiscal e os outro 20% provenientes de recurso do próprio patrocinador**.
Não se pode deixar de mencionar o Mangal das Garças, que abriga 400 mil m² de uma área as margem do rio Guamá, no local é possível observar a fauna da região, alguns pássaros, garças e claro as borboletas no Borboletário. No local ainda fica o “Armazém do Tempo” um galpão de ferro remontado e hoje abriga lojinhas de artesanatos e um café; por todo o parque há exposições de obra de arte pública dos artistas regionais; o Memorial Amazônico da Navegação e por fim o mirante com 47 metros de altura, que avança sobre os aningais (site: Sou Paraense,2010).
A cultura de Paulo Chaves é voltada para a preservação, sua preocupação é não deixar desaparecer elementos da paisagem urbana, assim eventos culturais e o incentivo artístico são deixados para o segundo plano, a dança, o teatro, etc. Ele cria espaços para que elas aconteçam, mas esquece de subsidiá-las. É compreensível sua preocupação no elemento histórico, mas deve haver um ponto de equilíbrio por que eventos culturais abrangem uma parcela muito maior da sociedade, ao implementar um projeto cultural em uma região carente estaria ajudando crianças a saírem das ruas.
Ao fazer uma revisão de todas as falas de Chaves uma voz silenciosa grita: falta integrar mais o povo nas decisões politicas, falta politicas públicas para a população carente. Pois a cultura por natureza tem a função de integrar, no momento em integra nos torna menos arrogantes e leigos, nos tornando mais humanos e principalmente mais aptos a lutar pelos seus direitos.
Os espaços criados e renovados por Paulo Chaves é de grande importância para compor o urbanístico de Belém, fazem dela um local lúdico aos olhos dos turistas. Não há descrição que possa expressar a tranquilidade que nos preenche ao visitar a Estação das Docas; o prazer ao encontrar um local que está em total harmonia com a natureza, como o Mangal das Garças é um pedaço da riqueza amazônica no meio da cidade.
 E claro, os museus, quão prazeroso é ver o cuidado e a delicadeza com o qual são tratados, as histórias que nos contam. Tudo artisticamente elaborado para cuidar do maior bem que Belém pode nos oferecer, a nossa história. Nesse momento percebe-se que todo trabalho de Paulo pertence a um plano muito maior, ele não está direcionando seus trabalhos apenas para o presente, mas esta presenteando também as futuras gerações.
Belém é a cidade onde o novo e velho formam uma arquitetura única, especial com um charme indescritível.




Praça Frei Caitano Brandão. Arquivo pessoal.


Referências Bibliográficas

*Chaves, P. Palestra aos alunos da UFT: depoimento. [05/12/2013]. Parque da Residência. Entrevista cedida a alunos da UFT.

**Inscrição para projeto cultural. Texto extraído do site http://www.guiart.com.br/noticias_interna.php?id=1317&cat=DIV. Em 30 de agosto de 2011.

Chaves, P. Paulo Chaves fala de seu amor por Belém nos 396 anos: depoimento. [12 de janeiro de 2012]. Belém: Record. Entrevista cedida a Gilson Farias.

Chaves, P. Paulo Chaves - entrevista 1 e 2 depoimento. [30/12/2010]. Belém: Espaço Aberto.

Abreu, K. Cansaço: artistas “demitem” secretário há quase 20 anos dá as cartas na cultura paraense. Rede Brasil Atual. Setem.2013. <http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2013/07/artistas-do-para-demitem-secretario-de-cultura-ha-vinte-anos-no-cargo-373.html>Data de acesso: 22/01/2014

H. Fábio. Estação das Docas, o porto de Belém revitalizado. Por todos os lados. Agost, 2011. <http://portodososlados.wordpress.com/2011/06/13/estacao-das-docas/> Data de acesso: 20/12/2014.

Mangal das Garças – um paraíso ambiental no centro de Belém. Out,2010. <http://www.souparaense.com/2010/10/mangal-das-garcas-um-paraiso-ambiental.html>. acesso: 31/01/2014.

Lei Orçamentária. Jan, 2000. <http://www.sepof.pa.gov.br/>. Data de acesso: 20/12/2014.



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Apropriação do Espaço Urbano enquanto praça*

                                                                              Larissa Rodrigues**

Este artigo tem como objetivo falar do uso e da apropriação do espaço público enquanto praça, aspectos como o medo, conforto e o que está bom e o que deve melhorar, e discorrendo a respeito da Praça Batista Campos em Belém, Pará e da Praça dos Girassóis em Palmas, Tocantins.

Praça: conceitos e definições

A modernização do espaço urbano no século XIX contribuiu para modificar as cidades, além de progressos na infraestrutura em geral, encontravam-se intervenções nos espaços públicos, buscando reverter, ou ao menos minimizar, o impacto que o processo de industrialização vinha fazendo sobre as cidades. Essas intervenções qualificavam o ambiente com a inserção da praça ou do parque.
A praça, para Lamas (s/d, p.100) “é um elemento morfológico das cidades ocidentais”, distinguindo-se “de outros espaços, que são resultado acidental de alargamento ou confluência de traçados - pela organização espacial e intencionalidade de desenho. [...] A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa”. Ou seja, a praça é “lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas” (LAMAS, s/d, p. 102). Lamas indica ainda que a praça na cidade tradicional, como a rua, estabelece “estreita relação do vazio (espaço de permanência) com os edifícios, os seus planos marginais e as fachadas. Estas definem os limites da praça e caracterizam-na, organizando o cenário urbano” (LAMAS, s/d, p. 102). Ainda sobre a definição de praça, uma pesquisa feita pelas autoras Carneiro e Mesquita (2000), estabelece as seguintes definições:
Praças são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos. 
Diante dessas definições e notando alguns espaços públicos observa-se que eles negam esse ideal, pois não funcionam como local de convívio, encontro e práticas sociais. Isso porque não oferecem mobiliário suficiente, não tem conforto apropriado ou não tem infraestrutura, tornando se assim lugares pouco frequentados dando espaço para que ocorra a violência e medo da permanência nos mesmos. A ocupação permanente dos espaços públicos é a melhor solução para o combate ao vandalismo e a falta de segurança das pessoas nesses espaços, por isso a importância da realização de projetos urbanísticos que atuem sobre esses lugares para que os cidadãos exerçam suas apropriações.

Praça Batista Campos

Um ótimo exemplo de apropriação é a Praça Batista Campos, no século XIX, a área que hoje é localizada a praça pertencia a Maria Manoela de Figueira e Salvaterra, sendo mais conhecido na época como “Largo da Salvaterra”, com a morte da proprietária, as terras passaram para as mãos da Câmara Municipal de Belém, sendo a partir desse momento chamada de “Praça Sergipe” em homenagem à nova província brasileira. Em 1897, durante o governo de Antônio Lemos, a praça passou a homenagear um dos principais personagens da Cabanagem: Cônego Batista Campos, que foi um importante ativista político da história do que atualmente é o estado do Pará, morto em 1834. A praça era um local simples com poucas mangueiras, mas em 14 de fevereiro de 1904, no dia de sua inauguração já era uma das mais belas praças de Belém.
A Praça foi tombada pelo município em 1983 e em 1986, ganhou novos equipamentos e passou por uma restauração buscando características perdidas no início do século XX, durante a primeira reforma. Hoje é intitulada como um dos ambientes mais bonitos da capital paraense e possui quase 3 mil metros quadrados de área construída. E como prova de que a reestruturação dos espaços e aconchego dos mesmos constitui na sua apropriação dos cidadãos é que a Praça Batista Campos conta desde 1997 com a Associação dos Amigos da Praça Batista Campos (AAPBC) que também ajudam a preservá-la, tanto que em 2005, ganhou o "Prêmio 100 Mais Brasil", da Revista Seleções, como a mais bela praça do país. A Praça Batista Campos é um ótimo local para a prática de atividades físicas, convívio, encontros, passeio turístico ou apenas busca de sossego, pois sua arborização, mobiliário e iluminação noturna oferecem um ambiente confortável e seguro para estar, fora a beleza das altas mangueiras e demais árvores nativas. Ao seu redor suas calçadas têm um revestimento de mosaico português com motivos marajoaras, possui coreto, cursos d'água com pontes e pequenos comerciantes.
Em entrevista da tv local de Belém o presidente da Associação, José Olímpio, fala que o dever deles é fiscalizar e cobrar do órgão público a manutenção da praça “Afinal de contas o espaço público pertence a todas as pessoas, então vamos ajudar a cuidar”. Na mesma entrevista alguns usuários de aparente classes sociais diferentes são interrogados e afirmam ser de outros bairros mas se deslocar até lá para desfrutar da praça logo que as dos seus bairros não são tão bem preservadas e relatam até casos de roubo e morte nas mesmas.




Quando a praça não acontece dessa forma, tem falta de atrativos e comodidade, as pessoas buscam os novos espaços públicos atuais, como por exemplo, os shoppings centers. Recentemente uma manifestação peculiar dos jovens da periferia sobreveio, os chamados “rolezinhos”, iniciativa onde a simples presença física deles no shopping é suficiente para provocar sentimentos de pânico e medo dos usuários, que se sentem ameaçados porque acham que essa classe social não deveria ter acesso a esses lugares de ‘maior prestigio social’. Uma situação desagradável, além de muito triste, porque o nosso país não tem espaços públicos adequados, e o shopping, ainda que seja um espaço particular, é um lugar essencialmente público, além do que essa atitude de restringir a entrada das pessoas por conta de sua aparência é uma forma mascarada de preconceito.

Praça dos Girassóis

Como exemplo de espaço público impróprio, que tem potencialidades a serem trabalhadas, está a Praça dos Girassóis, localizada em Palmas, projetada para abrigar o centro das decisões dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Tocantins, é a maior praça da América Latina e a segunda maior do mundo, perdendo em tamanho apenas para a Praça Merdeka, na Indonésia. A importância da Praça dos Girassóis vai mais além, afinal, foi nesse grande espaço que teve início a história da construção da capital mais jovem do País. Passear pela Praça é conhecer um pouco mais sobre a história e a cultura da cidade e do Tocantins. Na Praça dos Girassóis há uma dezena de atrativos como: O Memorial Coluna Prestes, o monumento dos 18 do Forte, o monumento da Súplica dos Pioneiros, uma cascata, dois pórticos de entrada tendo ao centro o Palácio Araguaia com sua arquitetura modernista, um cruzeiro feito à base de pau-brasil onde foi celebrada a primeira missa de Palmas, um relógio de sol, a praça Krahô com o Monumento à Bíblia (marco do centro geodésico do Brasil), os símbolos indígenas desenhados no calçamento e a sua gigantesca rosa dos ventos e uma fonte luminosa. A praça está localizada no ponto central da cidade de Palmas, sendo que a partir dela, partem a Avenida Teotônio Segurado e a Avenida JK, que são as principais vias arteriais da cidade. E é também a partir do Palácio Araguaia que se dá a divisão do Plano Diretor de Palmas nas regiões: nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste.





Apesar de todas essas qualificações e uso dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário a praça não apresenta nenhum movimento durante o dia, é um completo vazio, exceto nas épocas de feira do livro. Por não conter arborização suficiente se torna inviável ser um ponto de encontro ou passeio confortável, ainda mais nas condições climáticas da nossa região. Seu uso fica concentrado então apenas em horários que o clima está mais ameno, como o inicio e o fim do dia. Sendo este uso a prática de atividades físicas, que se restringe apenas ao redor a praça, deixando o seu amplo interior em completo desuso, o que é uma potencialidade a ser explorada, pois há vários atrativos que poderiam ser feitos em sua extensa dimensão. E ainda há a escassez de iluminação em muitos pontos tornando o espaço escuro para consequentes usos indevidos. Em 2012 o governo estadual abriu concorrência através da Secretaria de Estado do Planejamento e Modernização da Gestão Pública para contratar uma empresa para adquirir, instalar e manter unidades de climatizadores em torno da Praça dos Girassóis, uma medida que comparada ao plantio de árvores não compensa. As árvores vão necessitar de tempo para crescer, mas depois além de proporcionar sombra são responsáveis pelo sequestro de carbono do meio ambiente.
Observando as fotos de ambas as praças nota-se as diferenças como presença de mobiliário urbano (bancos, lixos) e a presença de espaços vazios com pouca ou sem nenhuma arborização. Em uma acontecem encontros de ambas as classes sociais e na outra uso de práticas de atividade apenas para os moradores quem moram ao redor. Roberto Segre, autor do texto Espaço público e democracia: experiências recentes nas cidades de América Hispânica, afirma “O lugar público deve ser concebido como um espaço urbano acessível onde se produz o encontro da diversidade. [...] Por isto, a qualidade urbana de uma cidade é avaliada a partir do significado e da riqueza dos lugares públicos que a compõem.” Assim conclui-se que a Praça Batista Campos, apesar de ser uma praça mais antiga que a Praça dos Girassóis e ter uma arquitetura diferente apresenta um grande exemplo a ser seguido quanto espaço urbano de qualidade, proporcionando conforto e segurança para os usuários, um lugar adequado para convivência dos cidadãos, pronto para que eles façam suas respectivas apropriações.


*artigo referente à disciplina de Historia da Arquitetura e Urbanismo do Brasil do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFT
**Aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Email: lyssa_araujo@hotmail.com
Bibliografia
LAMAS, J. M. R.G. Morfologia urbana e desenho da cidade
Artigo Apropriações do espaço público: alguns conceitos de Eneida Maria Souza Mendonça

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Parque da Residência: História, Cultura e Lazer.



Daniel Coelho de Andrade Reis1
Em uma fantástica viagem oferecida a quarenta e dois alunos, do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), teve-se o privilegio de conhecer melhor a histórica capital do Pará, Belém. Esta cidade, que já foi conhecida como a "Francesinha do Norte", ainda é merecedora do título pela ostentação de suntuosos casarões centenários - retratos do período de comercialização da borracha, um exemplo disso é o complexo de lazer Parque da Residência. A antiga residência oficial dos governadores paraenses é um ícone de luxo e beleza localizado no centro da cidade, na Avenida Magalhães Barata. O Parque é a revitalização da identidade local, deixada como herança pelos antepassados e revisto pelos contemporâneos. Este local foi também o palco de uma grandiosa palestra aos alunos que estavam em visita técnica à capital paraense, fora oferecida uma bela recepção, proporcionada pelo arquiteto e também secretario de cultura Paulo Chaves Fernandes. O arquiteto por sua vez foi o responsável pela restauração deste e de inúmeros outros patrimônios históricos de Belém.


O início e os primeiros anos da Residência

No início do século passado, foi erguido, em terreno localizado na antiga Avenida Independência, o Palacete Residencial em estilo eclético - recursos do neoclássico misturados a outros elementos estilísticos e decorativos. Consta, em jornais da época, que o palacete foi alugado ao Estado para ser utilizado como residência dos governadores Enéas Martins e Lauro Sodré, mas oficialmente, em 1933, o primeiro inquilino a morar foi o interventor federal Magalhães Barata, quando o terreno foi adquirido pelo Estado para ser a Residência Oficial do Governador do Pará. No palacete foram hospedadas, em várias oportunidades, personalidades do mundo oficial, dentre elas Eurico Gaspar Dutra, ministro da guerra e depois presidente da Republica, nos dias 24 e 25 de setembro de 1943; O marechal Arthur da Costa e Silva, ministro do Exercito em campanha para presidente e depois o chefe do Governo; E o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco e sua comitiva, composta de vários ministros de Estado. (SECULT/PA; 2000).

“O local foi erguido na virada do século XIX para o XX. Transpirava-se a Belle Époque, período áureo da borracha na Amazônia. O palacete foi construído pela família Pombo para fins residenciais.” (MAGALHÃES; 2007).
 Imagem: Palacete Residencial
(Foto: Patrícia Castro, 2013).

            “O último governador do Estado a morar todo o mandato no palacete foi Jader Fontenelle Barbalho – 1982 a 1986. Seguido por Hélio Mota Gueiros, que lá residiu parte do governo – entre 1986 e 1990 – mudando-se para a granja do Icuí, em Ananindeua.” (MAGALHÃES; 2007).
Tombamento

            “O palacete é tombado como patrimônio histórico do Estado e tem o estilo eclético – recurso do neoclássico misturado a outros elementos estilísticos e decorativos. Na parte interna, ele conta com lustres europeus, acabamento em madeira da Amazônia, o piso é em parques (taco) e o teto é elaborado em detalhes também de madeira. Desde a sua revitalização, ocorrida em 1998, no palacete está sediada a Secretaria Executiva de Cultura (SECULT) e a administração dom Parque da Residência.” (MAGALHÃES; 2007).

O conjunto histórico sobreviveu até 1981 quando foi tombado pelo 
Estado e desativado como residência oficial do governador, em 1992. Em 1995, o núcleo de arquitetos da SECULT, coordenado pelo secretário da Cultura, o arquiteto Paulo Chaves Fernandes, iniciou a elaboração do projeto de restauro e revitalização daquele patrimônio, patrocinado pelo Governo do Pará, através da Secult, em parceria com o Ministério da Cultura/Mecenato, Embratel, Banco Real e Agropalma, que passou a ser denominado Parque da Residência, inaugurado oficialmente em 1998.

No projeto, o palacete recebeu minuciosa restauração. Foram recuperadas as linhas arquitetônicas originais, assim como as peças de sua decoração que conseguiram resistir ao tempo: lustres de cristal, mobiliário e etc. Também foi revitalizado o busto "Clair de Lune", peça de petit bronze, que estava relegada à condição de ferro velho no depósito do palacete residencial. A peça foi restaurada por Fernando Luiz Pessoa e está exposta no interior do palacete. O brasão das armas do Estado também embeleza a fachada do Parque. Hoje o palacete abriga a sede da Secretaria Executiva de Cultura (Secult), responsável pela administração do local.

Imagens do lustre e da parte interna não foram possíveis de serem extraídas do local, devido a motivos de segurança e por questões de preservação dos objetos, os estudantes não foram autorizados a fotografar a parte interior do palacete.



Imagem: À direita: O secretário de Cultura do estado do Pará, o Arquiteto Paulo Chaves Fernandes, ao seu lado a professora Drª Patrícia Orfila e o arquiteto Marcel Campos à esquerda ao lado de Amarílis Tupiassu.

(Foto: Fernanda Alencar, 2013).


Elementos da Paisagem

Para o jardim foram criados vários ambientes a começar pelo orquidário, logo na entrada, pela Avenida Magalhães Barata. O orquidário expõe espécies existentes na flora pan-amazônica, cultivadas no viveiro criado na UFRA, especialmente para atender o Parque. Ao lado do orquidário, o pavilhão Frederico Rhossard é utilizado para lançamento de livros, apresentação de bandas de música e outros eventos do gênero. Em seguida, encontra-se um espaço com fonte e chafariz, flanqueado por bancos, a Praça das Águas. Sentado ao banco, uma surpresa: a estátua de Ruy Barata, pensativo, criação e execução do artista plástico e arquiteto Luiz Fernando Pessoa, dando ao lugar o nome de Canto do Paranatinga. (SECULT/PA; 2000).
Grande parte da área apresenta cobertura vegetal significativa, representada por arvores de grande porte, com altura em alcançando em geral 20 metros, com espécies variadas, entre as quais, mangueira, seringueira, jambeiros, cupuaçuzeiro, dentre outras espécies. (SECULT/PA; 2000).
A disposição de todos os elementos, tanto as definições quanto a vegetação, definiram uma compartimentação paisagística da área, que foi determinante e condicionante do tratamento que foi conferido à mesma. O projeto foi concebido, dotando-se cada um dos comprimentos com tratamentos diferenciados, adequando as condições paisagísticas específicas. (SECULT/PA; 2000).
 

Imagem: Alunos da Universidade Federal do Tocantins admirando a estátua do cantor e compositor Ruy Barata, confeccionada com fibra de vidro e preenchida com concreto.

(foto: Patrícia Castro 2013)
            “No Parque da Residência, encontramos também o Gasebo, isto é, o Restô do Parque, construído em 1980, em madeira e vidro e que funciona como restaurante climatizado; a alameda Beija-flor, onde há exemplares da flora amazônica, como orquídeas e réplicas de estátuas que ornam o Theatro da Paz e que dá acesso à rua 3 de Maio. Tem também a praça do Trem, local onde se encontra uma sorveteria e o vagão pertencente ao trem da extinta estrada de ferro Belém-Bragança (EFB) – inaugurada em 1884 e que deveria ir até o Maranhão, no Nordeste do país, mas sequer chegou a Bragança, nordeste do Pará.” (MAGALHÃES; 2007).

Sorveteria Vagão

Seguindo em direção à Alameda das Icamiabas, que corta o parque em toda a sua extensão, mostrando detalhes de desenhos indígenas (Marajoaras), chegamos ao Restô do Parque, que funciona para almoço, com Buffet a quilo internacional, e jantar, com cardápio a la carte, com destaque a pratos típicos da região. Mais adiante, outra praça, desta vez a Praça do Trem, onde está localizado um velho vagão da finada Estrada de Ferro Belém-Bragança, que restaurado virou a Sorveteria Vagão onde são servidos sorvetes com os especialíssimos sabores da Amazônia frutas como cupuaçu, murici, graviola, bacuri, etc.

O Teatro: Estação Gasômetro.


Imagem: Estação Gasômetro

(Foto: Fernanda Alencar, 2013).

Encontramos o anfiteatro para apresentações ao ar livre. E também, a Estação Gasômetro, antiga estrutura de ferro, que pertenceu à Companhia de Gás do Pará, agora, é um teatro com capacidade para 400 pessoas, onde são apresentados espetáculos de música e artes cênicas. No teatro, o público tem acesso à lojinha de artesanato e produtos culturais, tais como livros e revistas. Nas proximidades da loja mais uma das relíquias que compõe a história dos paraenses, o antigo cadillac oficial do governo do Estado, adquirido pelo governador Magalhães Barata, na década de 50, sendo o único modelo daquele ano existente no Brasil. Sem duvidas um trabalho de restauração grandioso que enche os olhos de quem vê.

A estrutura original do galpão, que pertencia ao antigo gasômetro de Belém foi remontada no fundo das áreas antiga residência dos governadores, após a demolição de uma garagem ali existente. As peças sofreram jateamento de areia, foram substituídas as partes faltantes de acordo com o modelo original e receberam tratamento antiferruginoso e pintura com esmalte sintético, cor verde colonial, referencia 100/0674. (SECULT/PA; 2000).
 Imagem: Cadillac oficial do governo do Estado.

(Foto: Fernanda Alencar, 2013).
Em 1956, Magalhães barata, na época de governador do Estado, adquiriu um automóvel Cadillac, ano 1950. O veiculo do tipo conversível era usado apenas dois dias do ano – 5 e 7 de setembro nos desfiles escolar E militar, respectivamente – ou durante a visita de autoridades nacionais ou estrangeiras.

Dirigir o Cadillac durante as solenidades oficiais era o desejo de todos os motoristas da década de 60 e 70 que trabalhavam no governo do estado. Segundo Orlando Calvinho, um desses motoristas, “a responsabilidade de conduzir uma alteridade nesse automóvel era a mesma em outro veiculo, mais a importância do carro e sua beleza, transformavam todas as viagens em momentos inesquecíveis”. (SECULT/PA; 2000). 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

 MAGALHÃES. Cleide. Parque da Residência. Ex- recanto dos governadores, agora da população. Diário do Pará. Brasil. Belém/PA, 2007.

 SECULT/PA. Pará. Secretaria de Cultura do estado. Parque da Residência e Estação Gasômetro. Parque da Residência - Série Restauro, V.2. Brasil. Belém/PA, 2000. 


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Belém/PA: Diversidade e vitalidade urbana

Belém/PA: Diversidade e vitalidade urbana

            Grendha Tavares D’Almeida[1]

Este trabalho pretende apresentar as percepções acerca da vitalidade e diversidade da paisagem urbana da cidade de Belém capital do Pará considerando o bairro Campina (Comércio) e seus edifícios antigos, bem como fazer um contraponto com a capital tocantinense, Palmas.
Cidades como Belém, no Pará, fundada há quase 400 anos, apresentam uma configuração urbana bastante peculiar, em que o contemporâneo e o antigo passeiam juntos, trazendo várias perspectivas e olhares distintos.  
A herança arquitetônica deixada pelo período colonial e principalmente pela “Belle Époque”, período compreendido entre o fim do século XIX e início do século XX, em decorrência da riqueza originada pela economia da borracha, ainda é muito presente na capital paraense. Os casarões, palacetes, praças, igrejas, monumentos, entre outros, construídos nessa época, ainda participam como protagonistas do cenário urbano.
A região de maior concentração comercial da cidade, conhecida como “ Comércio” localizado no bairro Campina possui inúmeros exemplares de edifícios desse período. O bairro abriga várias referências culturais da cidade, como a Praça da República, o Teatro da Paz, o Bar do Parque, a avenida presidente Vargas repleta de edifícios comerciais, hotéis, bancos como o da Amazônia,  do estado do Pará, do Brasil e Banco Central, além da agência central dos correios, entre outros.
Apesar de todo o tráfego hoje existente e de novas construções, os edifícios antigos se destacam na paisagem urbana. Na grande concentração comercial na região, há espaço para edifícios residenciais, sendo que inúmeros imóveis são utilizados como comércio no pavimento térreo e residencial nos pavimentos superiores. Essa configuração em que elementos distintos compõem a paisagem submete o observador a uma grata experiência em que não há monotonia, pois contém diversidade.

As cidades precisam tanto de prédios antigos, que talvez seja impossível obter ruas e distritos vivos sem eles. Ao falar em prédios antigos, refiro-me não aos edifícios que sejam peças de museu, nem aos prédios antigos que passaram por reformas excelentes e dispendiosas – embora esses sejam ótimos ingredientes -, mas a boa porção de prédios antigos simples, comuns, de baixo valor, incluindo alguns prédios antigos deteriorados. (JACOBS, 2000, p. 207).

Em Belém, a diversidade proporciona vitalidade à cidade. Edifícios de diferentes estilos e épocas oferecem nuances, cores, texturas distintas à conjuntura urbana.
            Jane Jacobs (2000), em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades,  estabelece o que seriam condições para a diversidade urbana e consequentemente à vitalidade, entre elas estariam a necessidade de prédios antigos.                  
            Andar a pé pelo centro da capital paraense se revela uma grande aventura pela história, apesar de uma constante poluição visual pela presença de diversas barraquinhas de camelôs e ambulantes pelas calçadas. É possível encontrar desde prédios recuperados, revitalizados, a imóveis que perderam seu valor econômico e cultural  devido ao desgaste do tempo e também pelo desinteresse do poder público.  Em 2011, o IPHAN, tombou vários elementos históricos, arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos, localizados nos bairros da Cidade Velha e Campina. Antes desta decisão, o centro histórico de Belém possuía apenas 23 bens tombados em nível federal, com cerca de 800 imóveis protegidos. Com essa medida, 2,8 mil edificações passaram a estar sob a proteção do governo federal. O Departamento de Patrimônio, Histórico e Cultural do Estado (Dphac) e a própria prefeitura da cidade, através do Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), também atuam no sentido de proteger tais imóveis. Apesar disso, há inúmeros imóveis em verdadeira ruína.
                                        Foto 1 – Rua do bairro Campina (Comércio), Belém/PA . FONTE: skyscrapercity.com

 Para Jacobs (2000), o distrito deve ter uma boa variação de edifícios com idades diferentes com uma boa porcentagem de prédios antigos e esta mistura deve ser bem compacta, estimulando o contato entre as pessoas e fazendo crescer pequenos empreendimentos urbanos;

As combinações de prédios antigos, e as consequentes combinações de custos de vida e de gostos, são essenciais para obter diversidade e estabilidade nas áreas residenciais, assim como a diversidade de empresas. (JACOBS, 2000, p. 215).

                                        O jornal Diário do Pará noticiou em uma reportagem de 14/04/2011, uma tendência de ocupação de uso residencial no centro comercial.  O pouco uso residencial, a localização central e o fascínio pelo caráter histórico têm feito com que cada vez mais, artistas, acadêmicos, fotógrafos, ocupem o bairro, tornando-o mais humano. Os casarões ganham assim novos usos, estúdios de fotografia, teatro, espaço para ensaio de banda, etc. 

                                    Uma das coisas mais admiráveis e agradáveis que poder ser vistas ao longo das calçadas das grandes cidades são as engenhosas adaptações de velhos espaços para novos usos. A sala de estar do casarão que se transforma em sala de exposições do artesão, o estabulo que se transforma em casa, o porão que se transforma em associação de imigrantes, a garagem ou a cervejaria que se transformam em teatro, o salão de beleza que se transforma em primeiro andar de um dúplex, o armazém que se transforma em fábrica de comida chinesa, a escola de dança que se transforma em gráfica, a sapataria que se transforma em igreja com vidraças pintadas com esmero ( os vitrais dos pobres), o açougue que se transforma em restaurante – são desse tipo as pequenas transformações que estão sempre ocorrendo nos distritos em que há vitalidade e que atendem às necessidades humanas. (JACOBS, 2000, p. 215).

Uma pesquisa feita pela pesquisadora Ana Priscila Correa da Silva, em 2003, para avaliar a qualidade de vida no centro histórico de Belém, incluindo o Comércio, a partir da avaliação de moradores da área concluiu que as pessoas estão satisfeitas, embora apresentem ressalvas relacionadas à segurança e preservação do patrimônio histórico.


Podemos concluir dentro da proposta de avaliar a qualidade de vida no Centro Histórico de Belém, a partir das expectativas de seus moradores, que a mesma é muito boa. A população residente está bastante satisfeita de morar na área, avaliando o local como tranqüilo e bem localizado. Essa localização se dá pelo fato de no CHB existir um grande pólo de atividades comerciais e de serviço, então além de estarem bem servidos dessas atividades, os moradores também têm acesso aos transportes públicos urbanos.
Porém a mesma característica marcante do CHB de ter uma área comercial e de serviço em potencial, que trazem referenciais de satisfação, faz também apontar para o principal motivo de insatisfação dos moradores: a insegurança. Pois, a ausência do uso residencial propicia uma certa marginalização e falta de segurança pública na área.
                                    Os resultados apontam para a necessidade de uma política de ordenação do espaço através da legislação urbanística, legislação de Patrimônio Histórico e de incentivos ao setor habitacional. Neste sentido, a utilização de estratégias de articulação com os poderes públicos, otimizando recursos para uma produção habitacional poderia trazer o uso residencial para a área, juntamente com a segurança que os moradores tanto almejam, principalmente no bairro da Campina, onde o uso comercial e de serviço é predominante. (SILVA, 2003, p. 10).

            Por outro lado, em Palmas, no estado do Tocantins, a mais nova capital brasileira, cidade planejada, fundada em 1989, com características modernistas, percebe-se que a paisagem urbana se apresenta repetitiva, sem surpresas e monótona. A jovem cidade não conta com um centro histórico, há apenas alguns poucos edifícios pela cidade, representantes da época de sua fundação.

Trechos extensos construídos ao mesmo tempo são por si só próprio incapazes de abrigar um espectro amplo de diversidade cultural, populacional e de negócios. (JACOBS, 2000, p. 211)


No centro comercial, construções em geral utilizam uma mesma linguagem. A maioria dos prédios possui apenas um ou dois pavimentos, seguindo o mesmo padrão arquitetônico. São verdadeiros “edifícios caixotes” que se multiplicam.

                                   Foto 2 – Comércio na Avenida JK, Palmas/TO . FONTE: FECOMÉRCIO

Quando se transita pelas avenidas circundantes às quadras residenciais, a monotonia se acentua. O que mais se vê são os muros das residências. Devido à configuração dessas quadras, as construções são voltadas ao interior das mesmas. Assim, como em um condomínio fechado, as quadras se isolam do restante da cidade. Poucas quadras residenciais tem algum tipo de comércio, normalmente de pequeno porte, como padarias e mercearias, apenas.

Sendo assim, o planejamento e a forma de ocupação da cidade, provocaram grandes vazios urbanos, criando distâncias difíceis de serem vencidas a pé. O próprio deslocamento entre um ponto comercial e outro, não é tarefa fácil para o pedestre. Assim, separadas as funções e usos, a cidade se apresenta pouco convidativa, atraente, tudo muito semelhante. Não há o despertar da curiosidade, da surpresa. 


Dessa forma, considerando os elementos presentes atualmente e a pouca idade da capital Tocantinense é questionável a maneira como a cidade de Palmas estará com o passar dos anos. Será possível apresentar-se atraente e convidativa tal qual Belém? A harmoniosa relação entre o novo e o antigo é presente na capital paraense e fruto da preservação da história e da sua própria regeneração.      





REFERÊNCIAS



IPHAN. Disponível em:


JACOBS, Jane. Morte e Vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


MACHADO, Ismael. Investir bem: Imóveis. Diário do Pará, Belém, p.18, 14 abril 2011.


SILVA, Ana Priscila Correa da. Qualidade de vida no Centro Histórico de Belém a partir de seus moradores. Disponível em: < http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf%5Cartigos_revistas%5C99.pdf > Acesso em 28 de janeiro de 2014.


Foto 1- Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=558704> Acesso em 25 de janeiro de 2014.


Foto 2 - Disponível em: <http://www.fecomercioto.com.br/index.php?option=noticias&sub=detalhes&id=1406#.Uu7pvfldXZ4> Acesso em 25 de janeiro de 2014.





[1] Aluna matriculada na disciplina de História da Arquitetura e Urbanismo no Brasil, no curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT).