Por Ricardo
Emanuel de Freitas
Figura
1 – Entrada da Estação Gasômetro. Fonte: Acervo
pessoal.
O artigo visa mostrar um exemplo de preservação do patrimônio da Arquitetura de ferro do Pará, que é o Gasômetro do Largo São José. Este no passado era utilizado para fins industriais e nos dias atuais abriga um conjunto cultural. Assim analisaremos um pouco da história, suas características e as transformações pelo qual passou quando foi restaurado. Este artigo é fruto da visita dos alunos da disciplina de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo no Brasil do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), à cidade de Belém capital do estado do Pará. Com a revolução industrial, novas formas de edifícios foram criadas para atender as necessidades das fábricas e armazéns. Essa nova arquitetura vem acompanhada da utilização de novos materiais, entre eles o ferro. Segundo Wilkinson (2010) como nas fábricas era comum o uso do fogo e de lubrificantes inflamáveis as estruturas de madeira representavam um risco eminente de incêndio, que era um acontecimento frequente na época, assim o ferro se tornava uma opção mais viável. Como a indústria metalúrgica se desenvolvia rapidamente, os construtores começaram a empregar o ferro nas suas estruturas.
Na metade do século XIX várias estruturas em aço foram trazidas da Inglaterra para a cidade de Belém, estas iriam abrigar a Companhia de Gaz do Pará Ltda., também conhecida como Gasômetro. Responsável pela produção de energia da cidade. Segundo a publicação da secretaria de cultura do estado do Pará, o gasômetro ocupava um quarteirão inteiro, no local onde antes se encontrava um jardim público. Era constituído de vários galpões industriais, que abrigavam: oficinas, casas de retortas, armazéns de carvão, casa de purificação, condensadores, exaustores, máquinas de vapor, residência de engenheiros e trabalhadores, dois gasômetros, casa do regulador, grande chaminé entre outros. Com a implementação da iluminação elétrica na cidade a estação gasômetro começou a ser desativada aos poucos. Sendo totalmente abandonada com o passar dos anos.
No ano de 1995 o terreno foi adquirido por uma concessionária de veículos que pretendiam aproveitar o terreno para fazer ali uma oficina de pronto atendimento. Apenas um galpão continuava lá. De acordo com a Secretária de Estado da Cultura (2000) os empresariam não sabiam do valor histórico e arquitetônico da edificação e queriam levar a estrutura para São Paulo. Mas antes procuraram a Secretaria de Cultura do Estado para se informarem do achado. A estrutura foi doada ao governo do estado, tendo sido desmontada, fotografada e inventariada, onde ficou guardada até a sua remontagem no parque da residência no ano de 1997.
Figura 2 – Gasômetro quando de
sua “descoberta” em 1995. Fonte: PARÁ, Secretaria de Cultura do Estado. Parque
da Residência e Estação Gasômetro. Belém: SECULT, 2000
A intenção da secretaria de cultura era de realocar e readaptar a estrutura pra que ela servisse como um espaço diversos usos.
Em relação ao seu sistema construtivo a edificação é bem alta, possui formato retangular, o “esqueleto de ferro” com vigas e pilares de espessura bem fina.
A restauração ficou a cargo do arquiteto do arquiteto e secretário de cultura Paulo Chaves. Que manteve as características da estrutura inicial. Remontando na sede da secretaria de cultura, o Parque da Residência, que era a antiga residência dos governadores do estado onde ficava uma antiga garagem.
A antiga residência dos Governadores é um gracioso palacete que conta com grande jardim e área verde. Quando o Governo do Estado decidiu fazer o Parque da Residência, o palacete foi desocupado – passando a abrigar a Secretaria de Estado da Cultura – e em sua área foram feitas uma série de adaptações, incluindo a transferência de coretos, Gasômetro, antigo vagão de trem, etc. É a inserção de construções novas que formam o complexo atual.
De acordo com informações da Secretaria de Cultura do Estado (2000), o Gasômetro seria um espaço de múltiplos usos. Por sua grande área e elevado pé-direito, pensou-se logo num espaço cênico, com apoio para outras atividades. Para isso foram feitas algumas adaptações internas e externas. Alguns elementos como palco, arquibancada, platéia, camarotes, piso suspenso para abrigar um café, lojas de produtos culturais, área para venda de comidas típicas em barracas padronizadas, administração, bilheteria, sanitários públicos, cozinhas, depósito, central de ar condicionado e sala para a Sociedade Paraense dos Orquidófilos. Os novos elementos introduzidos na estrutura metálica (escadas, camarotes e guarda-corpo) foram diferenciados da estrutura original do galpão, sendo usada também outra cor em sua pintura (verde nilo). Sendo que o teatro conta com aproximadamente 400 lugares. Nos fundos foi construído um anexo em alvenaria para abrigar camarins, vestiários, copa e depósito. Toda a parte externa recebeu vedação feita em placas de vidro, para se evidenciar melhor a estrutura e aproveitamento da luz natural. O fechamento das estruturas internas introduzidas foi executado em painéis do tipo Wall com revestimento texturizado, exceto nos sanitários e cozinha, onde foi usada cerâmica. A cobertura original era de telhas francesas, mas que eram mais encontradas, desta forma foi substituída por uma termo-acústico – mais adequada a nova destinação do galpão – e apenas em dois trechos (sobre a área do café e venda de comidas típicas) a cobertura é feita em chapas de vidro temperado para levar iluminação natural. Segundo a arquiteta Débora Faria utilizar telhas semelhantes as originais seria produzir um falso histórico. Assim, a opção feita por telhas adequadas ao novo uso colabora no reforço do aspecto atual da intervenção.
O fato dos técnicos da empresa, que adquiriu o terreno onde ficava o gasômetro, terem observado a importância histórica daquela estrutura de ferro faz mostrar como se faz imprescindível essa consciência por parte dos profissionais da construção civil. Que mesmo com os anseios capitalistas, tiveram uma preocupação e um interesse em saber do que aquela estrutura se tratava. Pois a mesma poderia ter sido demolida e ninguém ficaria sabendo, como o que aconteceu com os outros galpões. E é essa preocupação de preservação que deve permear a mente não só de arquitetos e engenheiros, mas sim de toda a população, pois um povo sem memória é um povo sem história.
Outro personagem essencial para esse processo foi o do secretario de estado da cultura o arquiteto Paulo Chaves. O fato dele se preocupar em manter ao máximo a estrutura arquitetônica original e remontá-lo em uma área publica de fácil acesso a população só mostra como é possível preservar e ao mesmo tempo abrir para o uso. Para isso foram feitos variam adaptações na estrutura para abrigar todo um complexo cultural. Assim é fundamental saber que em uma restauração, como foi o caso do gasômetro, o que se privilegia é a permanência do monumento nas melhores condições possíveis, preservando o maior número de informações da estrutura original. O que mais é interessante nesse caso foi à mescla do antigo com o contemporâneo: utilização de vidro, iluminação diferenciada, questão do conforto térmico (condicionadores de ar) pisos e telhado que se diferenciavam do original ente outros. O que não ocasionou prejuízo para a obra como um todo.
A preservação dos edifícios históricos também é fonte de estudo da Arquitetura. Ao observar o exemplo da estação gasômetro fica evidente essa preocupação com a preservação do mesmo. De acordo com Wilkinson (2010) a forma como se tem olhado o patrimônio histórico sofreu grandes alterações no decorrer dos últimos 150 anos. De ser completamente ignorada pelas autoridades, a arquitetura histórica passou a elemento central.
A escolha para a nova localização do gasômetro no parque da residência, junto com outros locais de cultura não poderia ser melhor. Sem contar o fato de uma estrutura só abrigar vários ambientes como é o caso e ainda ser um patrimônio histórico mostram como é possível através de estudos o bom aproveitamento do conjunto como o todo sem perder sua originalidade e funcionalidade.
Foto 3 – Estação Gasômetro a
noite. Fonte: skyscrapercity.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARÁ, Secretaria de Cultura do Estado. Parque da Residência e Estação Gasômetro. Belém: SECULT, 2000.
WILKISON, Philip. 50 ideias de Arquitetura que precisa mesmo de saber. Alfradique. Editora Dom Quixote. 2011
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