Kananda
Lima
A Casa das Onze Janelas,
ou O Palacete das Onze Janelas é uma
construção da metade do século XVII e tinha como objetivo servir de residência
para um rico senhor de engenho de açúcar, Domingos da Costa Bacelar. O objetivo
da habitação era para servir de ponte para o proprietário entre o interior,
onde morava, e Belém, a capital, utilizado mais nos fins de semana. Ao longo do
tempo, com intervenções para valorizar a cultura regional, o edifício hoje é
utilizado como museu para exposição de esculturas, artigos que compuseram a
história local e galeria para exibição temporária. A história da Casa das Onze Janelas foi enriquecida
durante o seu uso. Por sofrer várias mudanças de proprietário, teve seu espaço
utilizado para outras funções, porém, que puderam enriquecer o passado do
imóvel.
No ano de 1768, a Casa
das Onze Janelas foi comprada pelo governador do Grão-Pará, Francisco Ataíde
Teive, e sofreu reformas pelo arquiteto italiano Antônio José Landi, onde a
infraestrutura passou a sediar um hospital militar. A região sofria carência em
alocar seus doentes, o que fez com que edifícios como o Forte do Castelo e o Convento
de São Boaventura exercessem a função de ambulatórios antes da compra da
residência, porém, essas duas construções estavam sujeitas à grande
precariedade. Com a adaptação do projeto por Landi, a Casa das Onze Janelas passou a se chamar Hospital Real, sendo proposta
uma varanda com vista para o rio Guajará, que proporciona ao observador umas
das mais belas paisagens de Belém. A residência de estilo neoclássico de dois
pavimentos conta com onze aberturas simétricas em sua fachada principal, onde,
durante a reforma realizada por Antônio Landi, foram acrescentados frontões
ladeados de obeliscos. A porta de entrada se localiza no centro do edifício, seguindo
seu caráter simétrico. Observa-se grande influência da arquitetura portuguesa
nas soluções simples para o projeto, contando com pilastras em seus cunhais. Já
a fachada voltada para o rio possui configurações diferentes em relação à
primeira, esta se mostra mais voltada à contemplação do rio, como foi citado
anteriormente, suas aberturas se apresentam na forma de arcos, e em seu corpo
central são realizadas loggias (galerias) que possuem função de varanda.
Figura
01 – Proposta de Landi para o Hospital
Real
Ao se tratar das intervenções sofridas ao longo dos anos,
não há uma confirmação exata de quais mudanças foram feitas em determinados
períodos, mas há a hipótese de que Landi foi responsável pela alteração da
planta original da Casa das Onze Janelas,
que em seu formato original se apresentava de forma retangular, sendo
modificada para o formato em “L” com a adição de um corpo lateral. Além dos
projetos para a Casa das Onze Janelas,
Antônio Landi foi responsável por grandes projetos na Amazônia durante o período
colonial. Hoje, em sua homenagem, foi elaborado o Circuito Landi, que tem como
objetivo divulgar a arquitetura da época de ouro belenense, transmitindo
identidade à cidade e dando referência a seus patrimônios históricos.
Figura 02 - Vista do Espaço Cultural Casa das Onze
Janelas pelo Rio Guajará
Até o ano de
1870, o edifício foi usado para o atendimento de doentes, sendo logo modificado
para receber outras atividades militares, abrigou o Corpo da Guarda e a
Subsistência do Exército até o final do século XX. Durante a revitalização do centro histórico de
Belém desde 1997, com o projeto denominado Feliz Lusitânia, elaborado pelo
arquiteto Paulo Chaves, a Casa das Onze
Janelas foi transformada em um museu de arte moderna e contemporânea em
2002, onde abriga e procura realçar o teor cultural de artistas locais. A
influência do projeto paisagístico fez com que a área externa à casa fosse
denominada Feliz Lusitânia, que proporciona em seu entorno um belo jardim,
complementando a bela arquitetura neocolonial do edifício. Um artigo publicado
por Marisa Mokarseltraz maiores especificações sobre o projeto, onde o tema
principal abordado pela autora é feito pelo artigo Três
coleções do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas: Doação e Editais no
Fortalecimento de um Acervo. A abordagem sobre o projeto é feita da
seguinte forma:
“Em 1997 teve início, no Centro
Histórico de Belém, o Projeto Feliz Lusitânia da Secretaria de Estado de
Cultura do Pará – SECULT, que se desenvolveu em quatro etapas, abrangendo
prédios antigos, integrados à história da cidade. A intenção era estabelecer
laços de identidade e memória na perspectiva de preservar o patrimônio
histórico, cultural e paisagístico. Enquanto a primeira etapa foi inaugurada,
em 1998, com a restauração da Igreja de Santo Alexandre e do Palácio Episcopal
– conjunto concernente ao Museu de Arte Sacra –, o Espaço Cultural Casa das
Onze Janelas abriu suas portas em 2002, juntamente com o Museu do Forte do
Presépio cujo processo de restauração pertencia à terceira etapa.”
Figura 03 – Casa das Onze Janelas sendo
utilizada para atividades militares – Aspecto do edifício durante os anos de
1937 a 1947
Após
o período de revitalização do antigo centro de Belém, outros museus foram
fundados juntamente com o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, sendo esse
voltado para a exposição de obras de arte. A área que envolve o entorno da
construção detém de vários aparatos culturais, o Jardim das Esculturas e o
Navio Corveta são alguns desses elementos adjacentes que complementam e agregam
beleza, história e originalidade à Casa
das Onze Janelas. Internamente, o
local conta com salas de exposição das obras, a câmara Ruy Meira, que se
encontra no primeiro pavimento, dispõe de obras de artistas renomados do
passado modernista brasileiro como Lasar Segall, Manoel Pastana e Clóvis
Graciano. O espaço térreo também dispõe de uma mini-biblioteca, integrando
diferentes tipos de arte em um ambiente de patrimônio. Já o segundo pavimento
acomoda duas salas de exibição de fotografias inseridas no salão Xumucuis, que
recebem acervos para exposições temporárias. Estima-se que o acervo do museu
possua cerca de 300 peças, que são divididas em duas categorias principais: Traços e Transições – Arte Contemporânea Brasileira (Fundação doada pela Funarte)
e Fotografia Contemporânea Paraense – Panorama 80/90 (acervo patrocinado
pela Petrobrás). Por contar com obras pertencentes a este estilo, a Casa das
Onze Janelas é o primeiro museu de arte contemporânea da região norte.
Figura
04 – Espaço interno do Museu das Onze Janelas – Exposição de obras
contemporâneas
Ao mencionarmos os principais
fornecedores de arte e cultura presentes nesse museu, foi publicada uma nota em
um dos sites à respeito do assunto, Construções Neoclássicas – A Casa das Onze Janelas,
referente aos responsáveis por manter o acervo:
“Acervo Onze
Janelas [Gravura no Pará], selecionado no Edital CONEXÃO ARTES VISUAIS
MINC/FUNARTE, com o patrocínio da PETROBRÁS, deu início a essa série de
estudos. Contou com o trabalho dos curadores convidados Paulo Herkenhoff e
Armando Sobral, tendo como foco central a formação de uma coleção de obras em
gravura de artistas visuais paraenses. O que resultou na conquista de 166
obras, contemplando 31 artistas. Em acordo com a obtenção, foi realizada uma
publicação de caráter pioneiro sobre a gravura no Pará, com textos críticos,
depoimentos, entrevistas com artistas e imagens das obras conseguidas, além da
exposição das conquistas na sala Valdir Sarubbi e ações educativas envolvendo
palestras, oficinas e visitas monitoradas.”
Ao lado do museu, dentro do mesmo
edifício da Casa das Onze Janelas, existe um restaurante contemplando
uma estética que remete ao período medieval. O estabelecimento ocupa cinco das
onze janelas da construção, possui três ambientes diferenciados para a
permanência de seus usuários, com capacidade de 350 lugares: Um salão principal
– de taipa (interage com o ambiente de atmosfera medieval) e com tocheiro em
suas paredes acompanhadas de gravuras do passado colonial paraense e vestígios
arqueológicos encontrados durante a revitalização do edifício; o segundo espaço
é um bar, feito com a madeira de demolição e trilhos da linha de bonde que circulava
o entorno e a praça principal durante o período da belle époque – a iluminação
é baixa de modo que proporcione um ambiente mais reservado aos frequentadores, o
piso que compõe a casa, da mesma forma que toda a parte térrea da
edificação, é constituído pela pedra cariri, nostálgica para lembrar-se do
período colonial; o terceiro e último espaço ocupado pelo restaurante é a
varanda coberta, que proporciona uma vista excepcional para o jardim da casa e
para a Baía do Guajará. Além de todos esses ambientes repletos de história em
cada elemento que os constitui, o lugar dispõe de um terraço, onde pode-se apreciar os painéis do artista plástico
português Júlio Pomar retratando os poetas lisboetas Luís Vaz de Camões,
Fernando Pessoa, Manuel Bocage e Almada Negreiros, doados por instituições
portuguesas.
Figura
05 – Parte interna do restaurante Boteco
das Onze
Ao se observar todos os pormenores que constituem a Casa das Onze Janelas, nenhum deles
deixa de valorizar a rica história do local e sua região, principalmente em seu
período colonial. O passado fragmentado através de pequenos detalhes, como o
piso, quadros de decoração do ambiente, ou mesmo o ferro do antigo bonde, é
responsável para que os visitantes do lugar possam se ver no passado de glória do
Pará e contemplar o potencial da região, que ainda tem muito a oferecer para o
seu país.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
POR Toda Belém, Palacete
das Onze Janelas. Disponível em:
http://belemdeaaz.blogspot.com.br/2011/10/palacete-das-onze-janelas_25.html
POR Todos os Lados, Casa
das Onze Janelas em Belém. Disponível em:
http://portodososlados.wordpress.com/2011/06/10/casa-das-onze-janelas/
Giuseppe Antonio Landi – o Bibiena do Equador, Hospital
Real – Casa das Onze Janelas. Disponível em: http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelem-OspedaleRealeCasa11Finestre.html
Derenji, Jussara e
Jorge, Igrejas Palácios e Palacetes de Belém. Brasília, DF: Iphan /
Programa Monumenta, 2009.
Mokarzel, Marisa, Três
coleções do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas: Doação e Editais no
Fortalecimento de um Acervo. MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE
Vol.I1, nº4, maio/junho de 2013.
FIGURAS:
Figura 01: UFPA, Hospital Real, Casa das onze janelas. Disponível em: http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelemOspedaleRealeCasa11Finestre.html
Figura 02: Nunez, Belém-PA!
Um passeio pela Estação das Docas, Baía do Guajará e Rio
Guamá. Disponível
em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1420428
Figura
03: UFPA, Hospital Real - Casa das
onze janelas. Disponível em: http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelem-OspedaleRealeCasa11Finestre.html
Figura
04: Mokarzel, Marisa, Três coleções do Espaço Cultural
Casa das Onze Janelas: Doação e Editais no Fortalecimento de um Acervo. Página
106, Belém, Pará, 2013.
Figura 05: Grupo
Ideal, Bar e restaurante Boteco das Onze, instalado na Casa das Onze Janelas. Disponível em: http://grupoideal2.hospedagemdesites.ws/congressofgv/galeria-de-imagens/attachment/22/